Campanha da Fraternidade

Campanha da Fraternidade

O Arcebispo de Ribeirão Preto, Dom Moacir Silva, explica os objetivos e apresenta a programação dessa ação promovida, anualmente, pela Igreja Católica no Brasil

Seguindo a tradição da Quarta-feira de Cinzas, neste ano, no dia 1º de março, a Igreja Católica Apostólica Romana lançou, oficialmente, a Campanha da Fraternidade (CF) 2017. A ação, realizada em todo o país e que se estende até o Em entrevista concedida ao Padre Gilberto Kasper, o arcebispo comenta sobre o início da Campanha da Fraternidade 2017fim do Ano Litúrgico, propõe aos fiéis, através de uma série de atividades pastorais, uma verdadeira e profunda transformação social. O objetivo é que a comunidade se envolva, reflita e una forças em torno da mesma causa. Fica sob a responsabilidade da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) a definição do tema e do lema a serem desenvolvidos, tópicos que estão sempre relacionados a questões bem atuais. Este ano, o tema é “Fraternidade: biomas brasileiros e defesa da vida”, tendo como lema “Cultivar e guardar a criação” (Gn 2, 15). De certa maneira, essa escolha dá continuidade ao trabalho iniciado em 2016, quando a campanha abordou “A casa comum, nossa responsabilidade”, baseada na carta encíclica do papa Francisco, “Laudato Si”, de 2015.

Em Ribeirão Preto, o anúncio foi feito pelo Arcebispo Dom Moacir Silva, acompanhado pela equipe arquidiocesana de campanhas. Nesta entrevista, concedida com exclusividade ao padre Gilberto Kasper, o religioso divulgou as metas e a programação da CF 2017 na cidade. Durante a conversa, Dom Moacir também relembrou passagens importantes de sua trajetória eclesiástica, que começou em São José dos Campos, revelou as premissas que o guiam, diariamente, na condução da Arquidiocese e dos fiéis, adiantou alguns eventos já marcados para a celebração do Ano Nacional Mariano e comentou a influência positiva do Papa Francisco na relação entre a Igreja Católica e a população. 

Pe. Gilberto: A Campanha da Fraternidade (CF) 2017 acaba de ser lançada, trazendo o tema “Fraternidade: biomas brasileiros e defesa da vida”. Em que se baseou essa escolha?
Dom Moacir:
A Campanha da Fraternidade deste ano é, praticamente, uma concretização do conteúdo que trabalhamos no ano passado: “Casa comum, nossa responsabilidade”. Além disso, este tema faz eco à Carta Encíclica “Laudato Si” do Papa Francisco, que é um hino de espanto maravilhado diante da natureza criada que nos fala de Deus, que é um dom de Deus, da qual nós, seres humanos, somos parte integrante, mas também devemos ser seus zeladores e cuidadores.

Pe. Gilberto: De que forma o lema “Cultivar e guardar a criação” complementa o significado desse tema?
Dom Moacir:
Os biomas brasileiros são obras da criação de Deus. A Bíblia nos ensina que tudo aquilo que existe é criação amada, desejada e realizada por Deus. Assim, a Bíblia afirma que nenhum ser existe isoladamente. Todos estão relacionados como partes de um plano no qual, de certa forma, uns dependem dos outros. Cabe ao ser humano o papel de guardião dessa obra. Relembro, aqui, as palavras do Papa Bento XVI, na Encíclica Caritas in Veritate, nº 61: “A Igreja tem uma responsabilidade pela criação e deve fazer valer essa responsabilidade também em público. Ao fazer isso, precisa defender a terra, a água e o ar como dons da criação que pertencem a todos. Deve proteger o homem contra a destruição de si mesmo”. Portanto, é nossa missão cultivar e guardar a criação.

Pe. Gilberto: Há uma ação vinculada à Campanha para a Arquidiocese de Ribeirão Preto?
Dom Moacir:
Em janeiro deste ano, houve um programa de capacitação voltado aos agentes paroquiais da Campanha da Fraternidade. Na Quarta-Feira de Cinzas, dia 1º de março, em comunhão com toda a Igreja no Brasil, abrimos a Campanha da Fraternidade 2017 em nossa Arquidiocese. Ao longo da Quaresma, os fiéis refletirão a temática da Campanha em pequenos grupos. A CF também oferece subsídios para trabalhos em escolas, na catequese e em reuniões da juventude. No Domingo de Ramos, dia 9 de abril, teremos a Coleta Nacional da Solidariedade, como um gesto concreto, em todas as paróquias e comunidades de nossa Arquidiocese.

A conversa foi acompanhada pela jornalista Paula Zuliani

Pe. Gilberto: O dia 12 de outubro de 2016 marcou o início do Ano Nacional Mariano. Existe algum tipo de programação especial sendo estruturada, também, para essa ocasião?
Dom Moacir:
Para ajudar nossos fiéis a aprofundar seus conhecimentos sobre Nossa Senhora, teremos a Escola Marial, durante seis meses, em todas as foranias. Em junho, promoveremos um Congresso Mariano. Como momento de celebração, haverá uma peregrinação arquidiocesana ao Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida, em Aparecida, no dia 23 de setembro. O encerramento será realizado no dia 8 de outubro, no Santuário Arquidiocesano Nossa Senhora Aparecida, na Vila Seixas, aqui em Ribeirão Preto. As igrejas paroquiais dedicadas à Nossa Senhora Aparecida, em nossa Arquidiocese, são lugares de peregrinação, onde os fiéis podem lucrar a Indulgência Plenária do Ano Mariano.

Pe. Gilberto: Voltando no tempo, como foi que o senhor começou sua trajetória na vida religiosa?
Dom Moacir:
Nasci em São José dos Campos, no interior do Estado de São Paulo, em uma família católica. Meu avô era o catequista do bairro e também o “rezador”, ou seja, aquele que dirigia as orações da Ladainha e do terço de Nossa Senhora, por exemplo, nas capelas e nas casas das famílias. Isso acontecia tanto em ocasiões alegres, como a comemoração dos santos, quanto em momentos de pesar e de reflexão, como em falecimentos. Nosso bairro era na zona rural, distante 18 quilômetros da cidade e, na época, não havia ônibus. Quando criança, eu sempre acompanhava meu avô nessas práticas religiosas. Depois, assumi parte das funções dele. Aos 14 anos, o pároco confiou a mim a condução da comunidade Nossa Senhora d’Ajuda. Exerci essa função durante sete anos. Tive que deixá-la quando ingressei no Seminário para me preparar para o ministério sacerdotal.

Pe. Gilberto: Qual foi o caminho percorrido até chegar a Arcebispo da Arquidiocese de Ribeirão Preto?
Dom Moacir:
Eu queria ser padre. Para atingir esse objetivo, esforcei-me, ao máximo, enfrentando todos os desafios do processo formativo inicial. Com a graça de Deus, completei os estudos. A ordenação aconteceu no dia 6 de dezembro de 1986. Escolhi como lema de vida sacerdotal: “Sacerdote, homem de Deus em meio aos homens”. Exerci diversas funções na minha Diocese de origem, isto é, a Diocese de São José dos Campos: vigário paroquial na Catedral Diocesana de São Dimas, por dois anos, pároco da Paróquia Coração de Jesus, por quatro anos, e pároco da Catedral São Dimas, por 12 anos. Acompanhei várias pastorais: juventude, família, vocacional, saúde, escola e colégio diaconal. Desde o primeiro ano como padre, também ajudei na formação dos seminaristas. Durante 11 anos, atuei como Vigário Geral da Diocese e, com a transferência do Bispo Diocesano, passei para o posto de Administrador Diocesano. Como tal, governei a Diocese por um ano. No dia 20 de outubro de 2004, fui nomeado Bispo de São José dos Campos pelo Papa João Paulo II, hoje São João Paulo II. Estive à frente de minha Diocese de origem por oito anos e meio, até ser nomeado Arcebispo de Ribeirão Preto pelo Papa Francisco, no dia 24 de abril de 2013. Assumi essa nova missão no dia 23 de junho de 2013, em solene concelebração eucarística, na Catedral Metropolitana de São Sebastião.

Pe. Gilberto: Quantas paróquias, padres, diáconos e religiosos estão sob seu comando?
Dom Moacir:
A Arquidiocese de Ribeirão Preto tem um território constituído por 20 municípios. Temos 85 paróquias e cinco quase paróquias, duas reitorias e uma área pastoral, das quais 51 estão em Ribeirão Preto e 42 nas demais cidades. Contamos com 119Nomeado pelo Papa Francisco, Dom Moacir assumiu a função de Arcebispo de Ribeirão Preto no dia 23 de junho de 2013 padres diocesanos, 37 padres religiosos e 44 diáconos permanentes. Nossa Arquidiocese atua também, missionariamente, em Manaus, no Amazonas. Lá, temos uma paróquia na periferia da capital e outra em uma cidade ribeirinha: Careiro da Várzea. Atualmente, dois de nossos padres estão trabalhando nessas paróquias.

Pe. Gilberto: Quais premissas guiaram seu arcebispado nesses quatro anos?
Dom Moacir:
A premissa fundamental é a ação evangelizadora e pastoral. Cheguei aqui com a missão de me integrar a uma igreja centenária e, depois, dar a minha contribuição para essa mesma igreja. O primeiro ano foi mais de conhecimento e de observação. Nesse tempo, destaco o processo da 14ª Assembleia Arquidiocesana de Pastoral e a aplicação das diretrizes que nasceram dessa Assembleia. Como Arquidiocese, nós, em comunhão com toda a Igreja do Brasil, assumimos o objetivo das Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil (DGAE) 2015-2019: “Evangelizar, a partir de Jesus Cristo, na força do Espírito Santo, como Igreja discípula, missionária, profética e misericordiosa, alimentada pela palavra de Deus e pela eucaristia, à luz da evangélica opção pelos pobres, para que todos tenham vida, rumo ao Reino definitivo”. Nossa ação evangelizadora está estruturada a partir de cinco urgências: Igreja em estado permanente de missão; Igreja, casa da iniciação à vida cristã; Igreja, lugar de animação bíblica da vida e da pastoral; Igreja, comunidade de comunidades; e Igreja a serviço da vida plena para todos.

Pe. Gilberto: Quais são os setores prioritários trabalhados pela Igreja Católica em Ribeirão Preto e nas cidades sob seu comando?
Dom Moacir:
Posso elencar: a catequese com crianças, adolescentes, jovens e adultos; a evangelização da juventude; a preocupação com a família e sua evangelização; a defesa da vida desde a concepção até a morte natural; e, a partir do Ano Santo da Misericórdia, encerrado em novembro de 2016, um maior apoio a Pastoral Carcerária.

Pe. Gilberto: Existem algumas pastorais que despertam nos fiéis da região um sentimento de identificação maior? 
Dom Moacir:
Sim. Temos algumas, como a Pastoral Catequética, a Pastoral Litúrgica e a Pastoral Familiar, que costumam atrair um número maior de fiéis.

Pe. Gilberto: Para este ano, quais são os direcionamentos da Arquidiocese de Ribeirão Preto?
Dom Moacir:
O grande direcionamento é a aplicação das Diretrizes da Ação Evangelizadora da Arquidiocese de Ribeirão Preto, fruto da 14ª Assembleia Arquidiocesana de Pastoral, em todas as paróquias e em todas as comunidades. Elas contemplam as cinco urgências da ação evangelizadora, já citadas. O texto das diretrizes pode ser encontrado no site da nossa arquidiocese: www.arquidioceserp.org.br.

Pe. Gilberto: O Papa Francisco modificou a relação da Igreja Católica com a sociedade. Como o senhor avalia essa conduta?
Dom Moacir:
O Papa Francisco é o homem do diálogo, da cultura do encontro e da comunhão. É o profeta da misericórdia divina. Ele quer uma Igreja que dialogue com a sociedade, uma Igreja misericordiosa e uma Igreja em saída missionária. Com isso, ele está dando mais alguns passos na concretização das grandes orientações do Concilio Vaticano II, acontecido entre os anos 1962 e 1965. Tudo é, sumamente, positivo. 

Pastoreio e evangelização

“Dom Moacir Silva foi o primeiro Arcebispo Metropolitano eleito e nomeado pelo Papa Francisco, que agraciou a nossa Arquidiocese de Ribeirão Preto com um representante zeloso e pastoralmente sensível à nossa realidade. Discreto, com poucas palavras, porém sempre atento a todos e a tudo, transmite com contundência, clareza e esperança a ‘Alegria do Evangelho’, sem rodeios. É incansável presença em todas as comunidades de nossa Igreja particular, bem como junto aos compromissos designados pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Respeitoso para com todos, promove a comunhão e a unidade a partir das diferenças dentro e fora da Arquidiocese de Ribeirão Preto, já que está à frente de uma Província Eclesiástica constituída de oito Dioceses Sufragâneas e sua própria Arquidiocese. Busca a participação de todos na vida da Igreja, na promoção da missionariedade eclesial, investindo esforços sem medidas na formação presbiteral, diaconal e pastoral do povo que lhe foi confiado. Dom Moacir remete nossa Igreja aos apelos, exemplos e conclamações do Santo Padre, o Papa Francisco. Homem sábio, que exala ternura e simpatia por onde passa. Não apenas prega, mas age com profunda misericórdia com seus filhos espirituais, especialmente, os mais fracos.” Pe. Gilberto Kasper.

Texto: Paula Zuliani
Fotos: Ibraim Leão

 

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