De volta para casa

De volta para casa

Depois de percorrer por algumas cidades do Estado de São Paulo, o Tenente Coronel Marcelo Jerônimo de Melo retorna a Ribeirão Preto para assumir o 3° Batalhão da Polícia Militar do Interior

Há duas semanas, Marcelo assumiu o comando do 3° Batalhão da Polícia Militar do Interior Marcelo Antônio Jerônimo de Melo vem de uma família de policiais militares e, com 32 anos de carreira, carrega na farda a insígnia de tenente coronel, posto alcançado com muito trabalho, comprometimento e dedicação. O novo comandante do 3° Batalhão da Polícia Militar do Interior (BPM/I) é formado pela Academia do Barro Branco, em São Paulo, com Mestrado em Segurança Pública no Centro de Aperfeiçoamento e Estudos Superiores da Polícia Militar (CAES), também na Capital Paulista. Marcelo ainda é formado em Direito, pela Faculdade Eduvale de Avaré.

Nascido em Ribeirão Preto, o tenente coronel passou por diversas corporações da Polícia Militar no Estado de São Paulo, desempenhando variadas funções e constituindo uma base sólida para assumir o posto que ocupa há duas semanas. No 3° BPM/I, Marcelo comanda 800 policiais e suas ações abrangem, além de Ribeirão Preto, outras sete cidades da região. É de uma sala instalada no prédio inaugurado em 1974 — no qual Marcelo esteve na cerimônia de abertura, aos oito anos — que ele elabora planos de ação para manter ordem pública e garantir a segurança dos cidadãos desses municípios. O principal desafio, de acordo com o tenente coronel, é diminuir o número de roubos. A seguir, Marcelo conta um pouco mais da trajetória que percorre na PM e das funções que exerce no novo cargo.

Revide: Quando e como decidiu ser um policial militar?
Marcelo Jerônimo: Eu nasci em 30 de agosto de 1966, quando meu pai estava fazendo treinamento para o dia 7 de setembro daquele ano. Quando nasci, ele já era policial militar. Dois tios por parte de pai e um tio por parte de mãe também são da corporação. Meu avô é ex-combatente da Revolução de 1932. Enfim, minha família sempre esteve envolvida com a área e, para mim, foi uma escolha natural. Meu irmão seguiu o mesmo caminho — Maurício é capitão e comanda a 2ª Companhia da PM, instalada na Avenida João Fiusa —, assim como minha esposa, Márcia, que acaba de se aposentar como tenente.

O senhor nem chegou a pensar em outra carreira?
Sempre fui apaixonado por aviação, mas, apesar de ter ficado na dúvida, resolvi começar a minha carreira pela Polícia Militar. Assim fiz e, posteriormente, brevetei pelo Aeroclube de Ribeirão Preto, mas vi que, como profissão, o coração batia mais forte pela Polícia Militar. Completei, em 2017, 32 anos de serviço. 

Como transcorreu a sua trajetória na PM?
Eu prestei exame direto para a Academia de Polícia Militar do Barro Branco,  o órgão de Ensino Superior da Polícia Militar. Entrei em 4 de fevereiro de 1985 e me formei em 15 de dezembro de 1989. Assim que graduei, fui classificado no regimento de cavalaria, em São Paulo, e depois, no 11º Batalhão, também em São Paulo, na área centro. De lá, vim para Ribeirão Preto, para o Comando de Policiamento do Interior 3 (CPI-3), mais especificamente para o batalhão que estou hoje. Também rodei outros batalhões da nossa área. Na década de 1990, trabalhei por seis anos na Escola de Soldados de Jardinópolis. Depois que me tornei oficial superior, como capitão, comandei Batatais. Dirigi o Batalhão de Sertãozinho como major. Depois, trabalhei no CPI novamente. Como tenente coronel, comandei a Polícia Rodoviária por quase um ano. Por um ano e meio, comandei o batalhão de Franca e, há duas semanas, retornei para o CPI-3. Hoje, sou responsável pelo batalhão onde comecei quando vim para o interior.

É muito diferente um comando do outro?
Deus foi muito bom comigo. Nas funções superiores, comecei comandando Sertãozinho, uma cidade pequena. Isso serviu para que eu criasse uma base de comandamento. De lá, voltei para Ribeirão Preto, onde fui chefe dos setores administrativo e operacional do CPI. Essas funções proporcionaram a mim um conhecimento amplo de toda a área. Logo depois, fui promovido a tenente coronel e comandei o 3º Batalhão de Polícia Militar Rodoviária (BPRv), com 202 municípios e cinco mil km de estrada, da região de Indaiatuba até Ilha Solteira, na divisa do Mato Grosso. Foi bom porque me proporcionou uma visão macro do Estado. Fiquei quase um ano lá. Posteriormente, abriu a vaga em Franca, onde assumi a chefia do 15°BPM/I e fiquei um ano e meio comandando uma cidade com outros 23 municípios. Aí sim eu tive contato com uma cidade de grande porte, com problemas administrativos intensos. Isso garantiu uma base sólida para encarar Ribeirão Preto, onde os problemas são ainda mais complicados. Foi tudo muito natural e me deu o embasamento necessário. Se algo tivesse saído dessa ordem, se eu tivesse assumido esse batalhão em outro momento, por exemplo, talvez eu tivesse alguma dificuldade. Enfim, deu tudo certo.

Na cerimônia de posse, Marcelo com a mulher, Márcia, a mãe, Luzia, e o filho, MiguelNesses 32 anos de carreira, qual foi o seu momento de maior alegria?
Acredito que são fases. Primeiro, a minha formatura, em 1989. Foi um momento de alegria porque fechei um ciclo. Eu era aluno e passei a ser oficial. Outro momento importante aconteceu quando fui classificado para comandar esse batalhão, já que foi aqui, praticamente, que comecei a minha carreira e onde a família toda trabalhou. É aqui, também, que pretendo encerrar a minha trajetória.

Se tivesse que elencar um momento difícil, qual seria?
São alguns momentos. Eles aconteceram quando eu trabalhava na rua, em Ribeirão Preto. Perdi dois amigos policiais em ocorrência. Foram os momentos mais complicados.

Quais são os maiores desafios que enfrenta como comandante do 3º Batalhão da Polícia Militar?
Ribeirão Preto é uma das maiores cidades do Brasil. Junto a isso, o 3º Batalhão é um dos mais tradicionais da Polícia Militar do Estado de São Paulo. A minha missão é fazer com que o policiamento consiga baixar os índices criminais da cidade, aproximar a população da Polícia Militar, trabalhar em conjunto com a Polícia Civil, com o Ministério Público, com o Poder Judiciário e, realmente, promover o bem-estar do morador da cidade de Ribeirão Preto e da região, já que o nosso batalhão também abrange mais sete cidades da região: Jardinópolis, Brodowski, Santa Cruz da Esperança, Altinópolis, Cajuru, Cássia dos Coqueiros e Santo Antônio da Alegria.  

Quantos policiais estão sob o seu comando?
Aqui, no batalhão, por volta de 800 policiais, mas o CPI-3, como falei, administra oito cidades. Em outra companhia, já administrei 23 municípios e, na Polícia Rodoviária, 202 cidades.

Quais são as suas funções como comandante do 3º BPM/I?
A Polícia Militar é responsável pelo policiamento preventivo, ostensivo e fardado nesses oito municípios. É a responsável pela ordem pública e o bem-estar do cidadão nesses municípios. A minha função, resumidamente, é administrar esse policiamento.

Recentemente, o 3º BPM/I anunciou a intensificação de alguns programas já existentes. Que programas são esses? Como são identificadas essas necessidades?
As ações envolvem o Rádio Patrulhamento, a Ronda com Apoio de Motocicletas (ROCAM), a Força Tática, o Canil, a Cavalaria e a Ronda Escolar. Esse levantamento é feito através de um estudo nos boletins de ocorrência, nos quais identificamos os horários e os locais em que a demanda é maior. O policiamento de Rádio Patrulha fica à disposição através do 190. A Força Tática é o policiamento com viaturas de grande porte, com maior quantidade de policiais e de armamento. Ela trabalha no apoio dessas outras viaturas que ficam no 190. Quando a ocorrência é um pouco mais grave, a viatura faz o atendimento e a Força Tática vai no apoio, além das missões de choque, que também cabem à Força Tática. O Canil realiza o policiamento rotineiro e em eventos, assim como faro de drogas, de explosivos e de armamento. A Cavalaria também faz policiamento rotineiro, de evento e de choque. Vale lembrar que a nossa cavalaria é responsável por um serviço muito importante: a equoterapia. 

Marcelo com a mulher, Márcia, também da Polícia Militar, e o filho, MiguelOs trabalhos do Centro de Equoterapia do 3º BPM/I, que, inclusive, são de iniciativa do seu irmão, Mauricio Rafael Jeronimo de Melo, agora estão sob a sua responsabilidade. O que esse serviço oferece para a população?
O meu irmão trouxe a equoterapia para Ribeirão Preto, no início de 1990. Esse serviço já existia em São Paulo. Hoje, o Centro já formou mais de 2.000 praticantes e tem uma fila de espera de 700 pessoas. A criança ou futuro praticante que tem algum problema psíquico ou motor e precisa do apoio da equoterapia passa por uma avaliação aqui na unidade. Temos psicólogos, fisioterapeutas, professores de educação física, alguns internos e outros voluntários, para fazer essa avaliação. Os selecionados fazem o curso de seis meses. A nossa capacidade, porém, não é muito grande: são 12 praticantes por semestre. Os resultados são maravilhosos. Alguns chegam aqui na maca e, na formatura, seis meses depois, já estão andando, amparados por alguém, mas em condições muito melhores. 

Como é a sua rotina como comandante?
Eu passo praticamente o dia todo no batalhão e faço a parte administrativa, que cabe ao comandante da unidade. Além disso, mantenho bastante contato com políticos, autoridades religiosas, Polícia Civil, Ministério Público e Judiciário. Por conta disso, saio às ruas não só em Ribeirão Preto, mas também nas cidades da região. Esse é o meu hábito.

Hoje, a demanda é maior em que área?
O Estado de São Paulo conseguiu reduzir muito os homicídios, mas, hoje, o grande problema são os furtos e os roubos de veículos. Fazemos bastante policiamento, cuidamos e somos muito atentos aos roubos, de uma forma geral, porque é fácil de virar latrocínio. Isso nos preocupa muito e toma bastante o nosso tempo e planejamento. Ainda assim, a maior quantidade de ocorrências no Estado de São Paulo é relativa ao roubo e furto de veículos. A população pode nos ajudar a diminuir esses índices não comprando peças sem origem. Afinal, todos esses furtos e roubos abastecem um comércio de autopeças paralelo. Hoje, a pessoa compra e amanhã ela pode ser vítima. 

O senhor também é adepto das artes marciais. Essa prática está relacionada à profissão ou é um interesse pessoal?
Há mais de dez anos, escolhi o caratê como forma de paz de espírito. Estou na faixa marrom. É uma prática que me relaxa, deixa centrado, com calma. Meu filho tem seis anos e também pratica, há dois anos. Recentemente, minha mulher também começou a treinar. Estou levando a família toda. Quando comecei, estava com muito trabalho. Naquela época, ou procurava análise ou fazia algo desse tipo. Como já tinha treinado quando era criança, optei pelo caratê e nunca mais parei. 

A família toda na posse do comandante: Márcia, Miguel, Marcelo, Luzia, Marcos, Lilian, Arthur, José Maria, Mauricio e Daniela

Texto: Máisa Valochi
Fotos: Júlio Sian e 3°BPM/I P5

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