Líder ruralista
Fábio já contabiliza 42 anos de dedicação à Faesp, que tem entre seus fundadores Íris Meinberg, no quadro ao fundo

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Empresário, agropecuarista e presidente da Faesp, Fábio Meirelles defende a criação de uma política agrícola setorizada, que atende ao interesse e às necessidades de produtores e da sociedade

Um homem que serve com amor, defende o trabalho e se dedica integralmente a ele. Dessa forma o jornalista Edgard Maluf se referiu ao empresário, agropecuarista e presidente do sistema da Federação da Agricultura e Pecuária e do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Faesp/Senar), ambos do Estado de São Paulo, Fábio de Salles Meirelles, depois de um encontro com ele. Próximo de completar 90 anos, sendo 42 deles dedicados integralmente à Faesp, Meirelles, que é um dos mais empenhados defensores do agronegócio brasileiro, considera-se um homem privilegiado.
Casado há 61 anos com Ivelle Lacerda Meirelles, construiu uma grande família: sete filhos, 16 netos e cinco bisnetos.

Filho do agropecuarista Severino Tostes Meirelles e da professora Georgina Salles Meirelles, o advogado e ex-deputado federal preserva a tradição de cuidar da terra e se dedicar à família e ao trabalho, seguindo uma rigorosa e concorrida agenda de atribuições. 

Paulista de Cajuru, Meirelles tem na figura do ex-deputado federal e um dos fundadores da Federação, Íris Meinberg, seu mentor e fonte de inspiração para a defesa dos direitos de produtores e trabalhadores rurais. Na entrevista a seguir, o presidente defende a criação de uma política agrícola setorizada, capaz de atender ao interesse e às necessidades de produtores e da sociedade, além de destacar parte da história e da importância da Agrishow para Ribeirão Preto, para a região e para o país.  

Uma das maiores e mais completas feiras do gênero no mundo, a Feira Internacional de Tecnologia Agrícola em Ação (Agrishow) será realizada de 1º a 5 de maio, no Centro da Cana, em Ribeirão Preto. Em sua 24ª edição, o evento é organizado pela Informa Exhibitions, com idealização das principais entidades ligadas ao agronegócio brasileiro: Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda),  Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (Faesp) e Sociedade Rural Brasileira (SRB).
 
Como surgiu a Agrishow?
As discussões começaram há 25 anos, quando um grupo de produtores viram a força do agronegócio da região da Alta Mogiana. Isso nos levou a iniciar uma conversa com o setor de máquinas e implementos agrícolas, que, naquele período, ainda não tinha a força e o avanço de hoje. Definida essa necessidade, partimos em busca de uma área no caminho entre Franca, Pirassununga e Cajuru, em São Paulo, e que também fosse próxima de Minas Gerais, que já tinha um forte setor agrícola. Também reunimos apoio das autoridades políticas municipais e estaduais. Assim chegamos à área de propriedade do Governo do Estado, onde a Feira acontece até hoje.
 
Qual é a principal vocação do evento?
Mostrar não só a importância da Mogiana, mas também a evolução que a Feira trouxe para a estrutura social, econômica e política da cidade, da região, do estado e do país. A estrutura permitiu um avanço extraordinário no campo da produtividade do sistema agropastoril de São Paulo e do Brasil. Aquela área teve investimentos importantíssimos do Estado e da Prefeitura. Sua criação e estrutura foram benéficas para todos os envolvidos, pois promoveu e impulsiona a economia. São mais de 20 mil empregos diretos e indiretos, gerados durante o mês de montagem e de realização. Além disso, mais de 800 marcas apresentam inovações tecnológicas. Durante uma semana, os olhos do mundo se voltam para Ribeirão Preto. Tanto isso é verdade que contamos com a participação de visitantes e expositores de mais de 70 países.

Parceria reforçada entre a Faesp e os presidentes sindicais como Francisco Nogueira, do Sindicato Rural de Campinas
 
Acredita que a atual crise econômica e política brasileira afetará a Feira em 2017?
Estamos otimistas de que repetiremos o desempenho de 2016. Esperamos receber 150 mil visitantes. O setor agropecuário não para. Estamos vivendo momentos de grande dificuldade, enfrentando desafios, muitas vezes, desnecessários por incompreensões e equívocos, por questões até de terceiros, mas o importante é a gente ter consciência do que estamos fazendo, e muito bem. Os desdobramentos da operação Carne Fraca mostraram isto. Com atuação determinante do governo federal, por meio do ministro Blairo Maggi, conseguimos mostrar a força do setor, que vai bem além dos números da balança comercial. 
 
Por que é importante expor na Feira?
Não só é importante, mas é necessário. Lá, mais de 800 empresas estarão expondo seus produtos e lançamentos. Os bancos apresenta as melhores condições de financiamento. A feira não é uma festa e, sim, um palco de tecnologia e de negócios. Na área da Faesp, por exemplo, estamos levando startups que têm alguma solução tecnológica a oferecer para o empreendedor rural. Para esta área, contamos com o apoio de duas grandes instituições, a fundação ParqTec e a Associação Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento das Empresas Inovadoras (Anpei). É uma alegria ver a evolução daquilo que precisamos para manter nossas atividades e, desta forma, trazer lucro para a nação e para todos que estiverem envolvidos.
 
O senhor já confessou admiração pelo ex-deputado Íris Meinberg (in memorian). Quando se conheceram?
Ainda muito jovem, quando era integrante do Conselho da Faesp, na década de 60, na época em que se chamava Faresp. Meinberg foi um bom deputado, defendeu a agricultura brasileira e, por isso mesmo, encontrava conflitos e dificuldades no Congresso Nacional, já que o setor nunca havia recebido uma atenção especial. Basta dizer que, quando assumimos a presidência da Faesp, éramos ridicularizados quando saíamos na rua Barão de Itapetininga.
 
Seu pai, Severino, era próximo de Íris; ele também acreditava que era preciso lutar pela agricultura?
Os dois pensavam da mesma forma. Meu pai sempre me dizia que era imprescindível fortalecer o campo e a nossa agropecuária para consolidar a sociedade urbana, porque, caso contrário, poderíamos ter uma revolução a cada dez anos. Também era preciso integrar as áreas rurais e urbanas, melhorando os acessos, os resultados no campo e o escoamento das produções. Havia, também, a preocupação de aprimorar as casas e as instalações destinadas aos colonos — muitas delas deram origem a vilas que, posteriormente, viraram cidades, como Restinga, onde estão as origens da nossa família. O capitão João Eduardo Ferreira, meu bisavô, veio do Rio de Janeiro para Franca e o meu avô, coronel Joaquim Barbosa de Salles Pinto, também carioca, veio para Ribeirão Preto.

Em sua carreira, inúmeras foram as homenagens recebidas
 
Por onde começou o desenvolvimento da agricultura em São Paulo?
Foi no Vale do Paraíba, grande via da valorização técnica e de conhecimento para o Estado. Na época, foi uma contradição, pois os maiores produtores saíram da cidade e foram para o campo. A maioria deles era formada — dentistas, médicos, políticos, professores de história, inclusive muito integrados com o processo histórico do país. A importância daquelas pessoas era imensa, assim como continua sendo. Confiavam plenamente na atividade agrícola e, por isso, sempre procuravam defender a terra. Não deixavam abrir as matas de qualquer maneira ou indiscriminadamente, já tinham uma consciência ambiental aguçada.
 
Em São Paulo, o setor evoluiu nas últimas décadas?
Sim, e de forma impressionante. O agronegócio paulista, na última década, foi responsável por um terço das exportações do agronegócio brasileiro, provedor de 36% das vendas no mercado externo e 40% dos empregos no País. Temos orgulho aqui na Faesp e no Senar de ter desempenhado um papel muito importante nesse processo de consolidação da atividade, por meio de aprimoramento de políticas públicas e de capacitação profissional e tecnológica para um elo importante desta cadeia: os produtores e os trabalhadores rurais. Pelos nossos cursos, já passaram mais de 4 milhões de pessoas.
 
De que forma iniciou sua carreira política?
Fui convidado a participar da Constituinte, como representante da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), em 1988. Depois, em 1991, fui eleito deputado federal. Na Câmara Federal, ajudei a discutir no Congresso todos os temas relativos ao setor rural. Nessa época, houve uma integração entre os políticos do Norte e do Nordeste pela construção de uma política nacional voltada para o campo.

Reconhecimento e parceria com o governador Geraldo Alckmin

Quem vive nas cidades tem respeito e reconhece a importância do setor rural?
Sem dúvida, não só reconhece como, muitas vezes, homenageia o homem do campo. Eu posso dizer isso com a experiência de quem já foi muito homenageado por diversos municípios paulistas. Hoje, posso garantir que há uma convivência hegemônica e de muito respeito, admiração e amizade entre o homem rural e o urbano. Todos se sentem tranquilos com suas origens. Acredito que a dignidade de um é igual à do outro. Este princípio é tão verdadeiro que não registramos agressões de nenhuma das partes. Por aqui, convivem harmoniosamente descendentes de portugueses, franceses, holandeses, romenos, italianos, entre outros imigrantes. O Brasil integrou uma sociedade internacional no seu colosso de mais de 11 milhões de metros quadrados.

Em tempos de dificuldades, como o atual, qual é o maior desafio ou a principal prioridade da Faesp?    
É dar condições a todos os elos das mais variadas cadeias produtivas do agronegócio para que se mantenham fortalecidos em sua atividade, permitindo a consolidação de um ambiente propício para a produção, transformação e comercialização de alimentos. Porque não existe força onde uma parte está fraca. O Brasil já é considerado o celeiro mundial de alimentos. Exporta seus produtos para mais de 150 países, sem desabastecer o mercado interno. Tudo isso com as amarras que temos que desatar diariamente. Por isso, continuarei a lutar por uma política agrícola de longo prazo, que desburocratize e desonere quem produz e traga equilíbrio aos fluxos de produção e comércio. Já avançamos sobremaneira, em especial agora, com a implantação do programa do governo federal Agro+, que aqui em São Paulo tem todo nosso apoio e o reforço do AgroTec, que vai levar a práticas mais inovadoras para o campo. Hoje, nosso foco é a elevação da produtividade e da eficiência, garantindo a competitividade e a sustentabilidade. Por isso, pelo menos três pontos precisam ser atacados de imediato: a simplificação e a redução de custo do crédito rural; o fortalecimento da política de gestão de riscos agropecuários, tanto climático como de mercado; e acesso às inovações e tendências dos mercados nacional e internacional. Como você pode ver, nossa pauta de trabalhos continua intensa. Tudo isso respeitando as diferenças regionais que o país apresenta em todos os sentidos. A Instituição está presente em mais de 550 municípios paulistas.
 
Aos 89 anos de idade, pensa em se aposentar?
Não. Na vida, é preciso agir de acordo com seus princípios. Isso está relacionado à formação familiar, às influências culturais e às crenças. Eu sou católico apostólico romano graças à minha formação familiar. Sigo a tradição dos meus avós, pais e tios, somos todos muito religiosos. Consegui, em um momento de muita felicidade, encontrar Deus. A minha visão é que Deus está presente em todos os momentos e lugares. A espiritualidade é um ponto importante e pela minha personalidade, ainda que cometa equívocos, se não tivesse um controle emocional eu não chegaria aonde cheguei.
 
O que ainda está por fazer?
Há muito por fazer e, por mais que eu queira parar — olhando o lado humano, pensando na família —, não consigo me ver de chinelos, dependendo dos filhos. Já ultrapassei a idade média dos brasileiros, que está em 75 anos, e vou seguir as linhas das convenções em que continuo vivendo. Se eu tiver um dia mais convencionado amanhã para o lado da família, farei isso, mas vou viver com as convenções que abrangem o interesse da pessoa humana — lembrando que a pessoa humana nunca pode ficar acima do objetivo nacional.
 
Como é sua agenda diária?
Durmo, quando muito, duas horas. Não sei fazer outra coisa e me doo totalmente, seja qual for a função, sem nunca ver o quanto vou ganhar, em primeiro lugar. Tudo tem uma razoabilidade: nós somos seres que não podemos estar fechados no eu, mas, sim, no nós. 

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