Os avanços da urologia
Dr. Armando dos Santos Abrantes destaca a abrangência da Urologia moderna

Os avanços da urologia

Com ampla área de atuação, especialidade se beneficia da tecnologia aplicada à Medicina para alcançar melhores resultados em diagnósticos e tratamentos

Antes conhecida pelo tratamento de doenças venéreas e comumente relacionada apenas à saúde do homem, a Urologia é bem mais abrangente do que muitos pensam. A especialidade compartilha conhecimentos e divide áreas fronteiriças com outros campos da Medicina, contribuindo — efetivamente — para a manutenção da qualidade de vida de crianças, de adultos e de idosos de ambos os sexos em diversos aspectos, contemplando casos clínicos e cirúrgicos.

Nas últimas décadas, esse setor tem experimentado uma intensa evolução, motivada, principalmente, pelo avanço da tecnologia. Equipamentos de última geração favorecem um diagnóstico rápido e preciso, ao mesmo tempo em que ampliam as possibilidades terapêuticas, elevam a segurança e potencializam os resultados dos procedimentos. A cirurgia robótica, apontada como o ápice desse desenvolvimento endoscópico, mecânico e digital, é capaz de reverter quadros complexos, minimizando ricos e sequelas. 

Na entrevista a seguir, o urologista Armando dos Santos Abrantes (CRM: 48746) discorre sobre as áreas de atuação e destaca os principais recursos utilizados pela especialidade atualmente. Graduado pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP-USP - 27ª Turma), com residência em Cirurgia Geral e Urologia no Hospital Das Clínicas, o especialista é fundador da Uroclínica e atua como chefe do Serviço de Urologia e Transplante Renal do Hospital São Francisco. É, ainda, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Urologia e Membro Internacional da Associação Americana de Urologia.

Por que optou pela Medicina e, em especial, pela Urologia?

Acredito que a nossa personalidade determina o caminho a seguir na profissão. De índole humanitária e vivenciando na infância a atuação de grandes médicos amigos dos meus pais, decidi pela Medicina bem cedo, contrariando as expectativas da minha família, que tendia para a área de exatas. Ao longo do curso, passamos por todas as especialidades, cada uma com seus atrativos. Só optei pela Urologia ao final. A principal razão é que, ao contrário de um passado em que mais tratava doenças venéreas, a Urologia se transformou na especialidade mais geral, mais abrangente da Medicina. Cuida de crianças e de idosos, de ambos os sexos, envolvendo conhecimentos de todas as outras especialidades. Usamos intestino para refazer bexigas, cirurgia cardiovascular no transplante de rim, Imunologia, Oncologia, Pediatria, Endoscopia e Radiologia para procedimentos endoscópicos intracorpóreos e Endocrinologia no tratamento de testículos e suprarrenais, entre outros segmentos. São inúmeras interfaces que fazem da Urologia um desafio constante, sem monotonia.

Quais são as principais áreas de atuação dessa especialidade?

Difícil explicar brevemente o campo de atuação da Urologia, dada a sua amplitude. Há algum tempo, fiz uma relação para a Associação Médica Brasileira (AMB) e chegamos a essas áreas: Oncologia — tumores de Rim, Ureter, Bexiga, Próstata, Uretra, Pênis, Testículos, adrenais e outros anexos menores; Uropediatria — tumores, defeitos congênitos, infecções, entre outros; Uroginecologia — incontinência urinária, endometriose, prolapsos de bexiga e genitais, infecções, entre outros, Transplante Renal, Ultrassom — biópsias guiadas de maneira geral e localização de tumores em cirurgias; Litíase — desde a profilaxia ao tratamento cirúrgico aberto, endoscópico, laparoscópico e robótico, até à Litotripsia extracorpórea; Infertilidade e reprodução assistida — desde o tratamento de varicocele e disfunções testiculares até a captação de espermatozoides e inseminação; Disfunção Erétil — tratamento clínico e cirurgias para doenças penianas; DST — aqui as venéreas de maneira geral; Cirurgia transexual — mudanças genitais; Endourologia — todas as intervenções por orifícios naturais ou não, usando endoscópios por dentro das vias urinárias; Laparoscopia — levando endoscópios e pinças até aos órgãos urogenitais pelo abdômen; Uroneurologia — trata as disfunções de bexiga e de uretra em tetraplégicos e, agora, Robótica que se trata da Laparoscopia incrementada ainda mais por tecnologia.

“Alterações de urina, de esperma e dos genitais, além de dores e de secreções, são sinais de enfermidade urogenital”, alerta o médico

Que sinais indicam a necessidade de procurar um urologista?

Sexo masculino, feminino, crianças, adolescentes, adultos e idosos, todos somos passíveis de problemas urogenitais. Há fatores de risco associados a cada um dos problemas, como, por exemplo, a falta de água e o excesso de sal e de proteínas na formação de cálculos, sedentarismo, hipertensão, diabetes e tabagismo na disfunção erétil. Alterações de urina, de esperma e dos genitais, além de dores e de secreções, são sinais de enfermidade urogenital e necessitam de uma avaliação do Urologista. A idade recomendada para o exame da próstata em homens com e sem antecedentes familiares de câncer é de, respectivamente, 45 e 50 anos. 

Mesmo sem nenhum sintoma, o correto é se consultar periodicamente para evitar complicações? A prevenção continua sendo o melhor caminho para manter a saúde e a qualidade de vida?

Sim. Da mesma forma que a mulher faz o papanicolau e o exame de mama, os homens nas idades que referi devem procurar o urologista para o exame de próstata. Se identificado um tumor no início, as chances de cura, principalmente com a cirurgia, são de mais de 90%, dependendo, também, do grau e de outros fatores. Se diagnosticado tardiamente, muitas vezes nem é mais possível operar ou fazer radioterapia. Restam tratamentos meramente paliativos e ainda dispendiosos. A Medicina atual caminha rapidamente para ações preventivas em todas as áreas. Basta ver os novos testes genéticos que estão, inclusive, levando à retirada preventiva de órgãos e de estruturas de nosso corpo, às vezes, até de forma exagerada e radical.

O intenso avanço da tecnologia tem favorecido a especialidade tanto para a obtenção de um diagnóstico mais rápido e preciso quanto para a segurança e a eficácia do tratamento?

Sem dúvida. Arrisco dizer que a Urologia foi a área da Medicina mais contemplada pela tecnologia nos últimos 30 anos. No diagnóstico, além da endoscopia — que realizamos há tempos, mas que hoje conta com mais recursos, como câmeras digitais e flexíveis —, fomos beneficiados com ultrassons, tomografias e ressonâncias magnéticas de última geração, novos meios de contraste e fusões de técnicas, como o PET-CT e o PET-RM, por exemplo. No tratamento, fomos pioneiros em endoscopia intracorpórea.

Logo surgiu a litotripsia extracorpórea, unindo Física e Radiologia. Temos os lasers para tratar cálculos e tumores, tanto benignos quanto malignos, e para coagular tecidos. Trabalhamos com novas drogas para disfunção erétil, para evitar rejeição de transplantes, quimioterápicos e imunoterápicos para todos os tumores e doenças urogenitais. Tanto os novos meios diagnósticos quanto as novas terapias têm levado a um significativo incremento de cura, incluindo qualidade de vida e pouco sofrimento associado aos tratamentos, recuperações mais breves, preservando a atividade social, física e de trabalho dos indivíduos. Apesar desse progresso incontestável, o acesso a essa Medicina de ponta, infelizmente, não é geral. Tornou-se muito caro e exclusivo. Precisamos pensar em uma maneira de reverter esse quadro. Essa é a uma grande preocupação dos meus últimos anos de profissão.

Por isso é tão importante que o médico busque atualização e capacitação constante?

Com certeza. A ciência de maneira geral e a Urologia, em especial, têm evoluído e mudado de tal forma que um Urologista que tivesse hibernado há dez anos e voltasse agora não saberia por onde começar. Na verdade, grandes mudanças estão ocorrendo a cada dia, culminando, atualmente, na robótica, o ápice desse desenvolvimento endoscópico, mecânico e digital. A facilidade de acesso à informação tem favorecido a atualização, mas a velocidade dessas mudanças está absurda. Há poucos anos, as diretrizes para diagnóstico e tratamento das doenças mais importantes eram emitidas e se mantinham atuais por algum tempo. Agora, são refeitas quase anualmente. Quem não se atualiza e não se capacita diariamente não estará oferecendo o melhor aos pacientes.

Segundo o especialista, a Urologia tem se beneficiado com a evolução da tecnologia nos últimos anos

A cirurgia robótica é um recurso que tem sido bastante utilizado atualmente na Urologia. Como funciona esse tipo de intervenção?

A cirurgia robótica proporcionou um significativo avanço no tratamento das patologias urogenitais intra-abdominais, principalmente. Diferente da cirurgia geral, a laparoscopia para a Urologia é muito mais delicada, pois os órgãos urogenitais ficam ‘escondidos’ atrás das estruturas abdominais e das grandes veias e artérias. Isso é ainda mais relevante em relação à próstata, que se localiza no extremo inferior do abdômen, de difícil acesso por qualquer forma de abordagem.

O robô transforma as cirurgias laparoscópicas complexas em procedimentos mais fáceis, rápidos e precisos, com melhores resultados terapêuticos. Os endoscópios proporcionam visão tridimensional e as pinças têm maior amplitude de movimentos, reduzindo o tremor. Dispomos de uma melhor fonte de energia para cauterizar, coagular e cortar estruturas, elevando a segurança. Posicionado no paciente e comandado pelo cirurgião em um console a distância, o equipamento exige instrumentador e auxiliar em campo para aspiração, troca de pinças e introdução de fios, clips, telas e todos os demais materiais necessários. Um bom auxiliar em campo é indispensável para uma boa cirurgia robótica.

O procedimento costuma ser indicado em que situações?

É indicado em todos os procedimentos passíveis de serem feitos de forma minimamente invasiva, trazendo rapidez, precisão, segurança e resultados. O robô permite a realização de cirurgias complexas, muitas vezes impossíveis de serem executadas pela laparoscopia comum, como é o caso de nefrectomias parciais de tumores grandes e/ou em locais difíceis e que precisamos preservar parte do órgão. Apesar de estar indicado em todos os procedimentos, é mais utilizado na cirurgia dos tumores de próstata, de bexiga e de rim e nas plásticas do ureter e da pelve renal.

Quais são os benefícios que esse método traz tanto para os cirurgiões quanto para os pacientes?

Ao diminuir o tempo de cirurgia, de anestesia, de internação, de recuperação e de sangramento cirúrgico, melhorando os resultados e diminuindo a dor, o robô beneficia tanto médicos como pacientes. 

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