Proteção feminina
Mônica foi a primeira mulher a assumir o comando da Guarda Civil Metropolitana de Ribeirão Preto

Proteção feminina

Mônica da Costa Noccioli foi a primeira mulher a assumir a superintendência da Guarda Civil Metropolitana de Ribeirão Preto. Desde o início da gestão, fortalece a segurança às vítimas de violência dom

Com 20 anos de corporação, um pouco antes de se aposentar, Mônica da Costa Noccioli foi convidada para assumir a superintendência da Guarda Civil Metropolitana de Ribeirão Preto (GCM-RP). Já com toda a documentação da aposentadoria em mãos, em 2017, decidiu arriscar e comandar a GCM-RP. Desde então, Mônica, que foi a primeira mulher a assumir a guarda do município, trabalha para oferecer segurança às vítimas de violência doméstica e familiar.

Foi em 1997 que Mônica iniciou a carreira na Guarda Civil. Nessas mais de duas décadas, a superintendente exerceu diversas funções na corporação — atuou na rua, na Ronda Escolar, no Theatro Pedro II e, por um longo tempo, na segurança do Palácio Rio Branco —, mas foi na parte operacional que ganhou experiência e conhecimento para assumir a responsabilidade. “Eu conheço muito bem a parte operacional, tenho bastante experiência. No atual governo municipal, surgiu o convite para assumir a superintendência. Eu já estava para aposentar, faltava muito pouco tempo e já tinha em mãos meus papéis de aposentadoria. Pensei muito nesse convite em razão da responsabilidade do cargo, mas achei que seria uma experiência boa, algo que carregaria para o resto da vida”, conta. 

Atualmente, Mônica se orgulha do trabalho realizado — principalmente a Patrulha Maria da Penha, ação que atua na proteção, na prevenção, no monitoramento e acompanhamento das mulheres vítimas de violência doméstica ou familiar que possuam medidas protetivas de urgência. “Aceitei o trabalho e deu muito certo. Estou muito feliz de estar à frente da Guarda, principalmente, quando veio a oportunidade de lidar com os casos de mulheres vitimizadas. Foi um desafio muito bom assumirmos a Patrulha Maria da Penha”, declara Mônica. A seguir, confira a entrevista com a superintendente, que relata a ação de proteção às mulheres e o trabalho que realiza no comando da corporação. 

Nós temos uma parcela que ainda é muito machista, mas tive de impor minha capacidade, minha responsabilidade e, também, minha maneira de lidar com todo o trabalho. Ganhei a confiança, o respeito e o carinho de todos

Como foi ocupar um cargo que, historicamente, tinha predominância masculina?

Eu sou a primeira mulher a ter essa oportunidade dentro da Guarda Civil Metropolitana de Ribeirão Preto. No começo, eu senti um pouco de estranhamento dos homens. A maioria achava que o cargo deveria ser ocupado por um homem e não por uma mulher. Nós temos uma parcela que ainda é muito machista, mas tive de impor minha capacidade, minha responsabilidade e, também, minha maneira de lidar com todo o trabalho. Ganhei a confiança, o respeito e o carinho de todos. 

Como é executado o trabalho da Patrulha Maria da Penha em Ribeirão Preto?

Nós trabalhamos na prevenção com mulheres que já estão em risco de morte. Esses casos chegam por meio do judiciário, a partir de medidas judiciais, para que elas tenham essa proteção. A partir desse momento, entramos em contato com a vítima, fazemos o monitoramento e o acompanhamento. Trabalhamos juntamente com o Ministério Público, o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo e a Secretaria de Serviço Social. Vale ressaltar que não são recebidas denúncias de violência contra a mulher diretamente pela Patrulha. Apenas são encaminhados os casos que já estão em tramitação na Justiça.

Como é poder ajudar tantas mulheres?

Para mim, é um orgulho muito grande. Todos os dias são um desafio. Proteger essas mulheres que estão em risco é um trabalho desafiador para nós, até mesmo porque estão muito comuns os casos de feminicídio e as vítimas clamam por segurança e atenção.

Quais as dificuldades enfrentadas no início do projeto?

Nós sempre trabalhamos com esses casos, mas dentro da informalidade. Foi a partir de julho de 2018 que o nosso trabalho passou a ser oficial. Assim, nós já tínhamos experiência e, também, fizemos o curso de capacitação com os nossos guardas civis municipais, para que tivessem melhor conhecimento em relação aos casos. Inclusive, foi a doutora Carolina Gama que ministrou as aulas. Recebemos essa proposta de maneira muito segura. 

“No ano de 2017, foram seis atendimentos e 14 boletins de ocorrência, totalizando 20. Em 2018, tivemos 125 atendimentos e 16 boletins, num total de 141. Só em julho de 2019, foram 102 atendimentos e 21 registros de prisão, sendo 123 no total”

Mulheres que sofrem violência doméstica tendem a estar mais frágeis, sensíveis e, até mesmo, um pouco envergonhadas com a situação. Por conta disso, vocês contam com procedimento padrão que deve ser seguido no tratamento dessas vítimas?

Sim, nós temos todo cuidado para entrar no mérito desta questão com as mulheres, fazendo o encaminhamento e mostrando, também, que elas estão seguras e podem contar com a nossa ajuda e apoio. É isso o que nós fazemos. 

Desde a oficialização da Patrulha no município, essas ações de combate à violência trouxeram resultados positivos?

Sim, e muitos. Por exemplo, no ano de 2017, foram seis atendimentos e 14 boletins de ocorrência, totalizando 20. Em 2018, tivemos 125 atendimentos e 16 boletins, num total de 141. Só em julho de 2019, foram 102 atendimentos e 21 registros de prisão, sendo 123 no total. Então, como demonstram os dados, houve um crescimento em relação aos atendimentos no município.

Isso significa que os casos de violência contra a mulher aumentaram?

Não. O que ocorre é que elas estão falando e clamando por ajuda. É isso que tem acontecido. Em agosto de 2019, por exemplo, foram nove atendimentos e dois registros de prisão, um total de 11 casos. No mês seguinte, em setembro, foram 25 atendimentos e um boletim de ocorrência, num total de 26.

Quais as garantias que vocês oferecem para as mulheres que são atendidas?

Nossas viaturas são divididas por setores. Em locais onde há mulheres vítimas de violência, fazemos o acompanhamento, deixamos o número de telefone da Guarda caso precisem de atendimento com urgência, além de, também, realizarmos o patrulhamento no entorno das residências.

Mulheres sempre podem se colocar no lugar das outras e tratar casos de violência com mais cuidado. Por isso, você acredita que o resultado positivo da Patrulha é fruto de uma administração feminina?

Não dá para dizer com certeza, mas afirmo que nós damos muita atenção a esses casos. Levamos com muito cuidado e muita seriedade o trabalho. Nós priorizamos essas questões relacionadas às mulheres vitimizadas. Onde há uma vítima clamando por socorro, nossa prioridade é salvar e guardar a vida e a saúde dessa mulher. 

Para executar o projeto no município, vocês tiveram um treinamento. Esse trabalho continua sendo feito com os guardas?

Atualmente, há quantos profissionais capacitados para a ação? Nós temos um total de 124 guardas capacitados para trabalhar na Patrulha, mas pretendemos capacitar todos. Os treinamentos são realizados de forma contínua, conforme a possibilidade, pois não podemos tirar todos os guardas da rua em razão da demanda, que é muito grande. Por isso, fazemos um rodízio e capacitamos aos poucos. 

Nesse tempo à frente do trabalho executado pela Patrulha, por meio da Guarda Civil, você notou alguma semelhança nos casos de violência contra a mulher?

Não. A violência ocorre em diferentes situações. Vemos casos de netos que agridem avós em razão de problemas com drogas, além de filhos contra as mães e, também, os companheiros contra as esposas. São vários tipos de violência que nós visualizamos aqui. 

Hoje, você acha que falta algo para que o trabalho da Patrulha seja mais efetivo na cidade?

Ru penso que existe uma demanda muito grande. A cidade cresceu, Ribeirão Preto está muito grande, precisamos é de mais profissionais na Guarda Civil, pois nunca é demais nós contarmos com um maior número de pessoas trabalhando no setor de segurança. 

Há alguma novidade relacionada à Patrulha Maria da Penha para este ano?

Esperamos estar cada vez mais preparados para enfrentar esse tipo de violência doméstica em nossa cidade. 

O que você diria para as mulheres que sofrem algum tipo de violência?

Elas devem denunciar, pois muitas sofrem caladas e não têm coragem para procurar ajuda? Eu penso que na primeira violência que houver contra uma mulher, elas não devem se calar. Portanto, não se calem, pois nunca ficará apenas na primeira. Isso se torna constante até a ameaça e, depois, a morte. Não adianta se calar. Na primeira violência, sendo psicológica ou física, mulheres, não se calem. 

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