A solidariedade como herança

A solidariedade como herança

Presidente da Casa das Mangueiras há quatro anos, o engenheiro Agronômo e empresário Manoel Ortolan dá continuidade à prática social, atividade que aprendeu dentro de casa

As inúmeras atividades que preenchem o dia a dia do engenheiro agrônomo Manoel Carlos de Azevedo Ortolan não o impedem de atuar, ativamente, do terceiro setor. Presidente da Casa das Mangueiras de Ribeirão Preto há quatro anos — instituição que celebra este ano 45 anos e se tornou referência no atendimento de jovens em situação de vulnerabilidade social —, faz parte da diretoria da entidade há mais de 15 anos. Seu envolvimento com a Casa aconteceu naturalmente — antes dele, seus pais, Oswaldo e Marina, cumpriram papéis importantes na condução das atividades da Casa, um exemplo que foi seguido. 

Manoel Ortolan reforça a necessidade de doações para manter a Casa das MangueirasManoel acumula as atividades de presidente da Associação dos plantadores de Cana do Oeste do Estado de São Paulo (Cana Oeste), diretor-superintendente da Cooperativa dos plantadores de Cana do Oeste do Estado de São Paulo (Copercana), membro do conselho de administração do Seviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo do Estado de São Paulo (Sescoop-SP), membro do conselho diretor da Organização de Plantadores de Cana (Orplana) e vice-presidente do Sindicato Rural de Ribeirão Preto.  Nada disso, no entanto, tira do empresário a energia com que procura contribuir para a manutenção das atividades da Casa das Mangueiras.

Revide: Quando e como começou a história da instituição?
Manoel: Em 1973, crianças e adolescentes foram encontrados em um posto policial na Vila Virgínia trancados em celas e vigiados por soldados. Naquele momento, um grupo de defesa dos direitos humanos aceitou o desafio de enfrentar a situação. Junto com os próprios meninos e a comunidade, essas pessoas construíram uma casa de acolhida e educação, a Casa das Mangueiras, que se tornou uma experiência pioneira com meninos de rua de 12 a 17 anos, autores de atos infracionais e moradores de rua. A inauguração aconteceu no dia 8 de dezembro daquele ano, data em que se celebra o Dia da Justiça. O nome foi escolhido pelos próprios meninos em virtude da grande quantidade de mangueiras existentes no local. Na sua história, a organização desenvolveu uma metodologia própria para o atendimento de crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social, tornando-se um espaço de convivência e de aprendizado. A entidade é movida pela opção pelo ser humano, pelo potencial das pessoas. Desenvolve, há vários anos, o Programa Onde a Vida tem Valor, que passa pelas atualizações necessárias a fim de se aproximar cada vez mais da demanda da comunidade e da dinâmica social da vida das crianças e dos adolescentes, além de se adequar as normativas e legislações que dizem respeito ao nosso trabalho, porém, sem abrir mão de determinados princípios e valores essenciais para manter nossas raízes latentes. 

Os valores que nortearam a criação da Casa das Mangueiras há mais 45 anos são mantidos até hoje?
Sim. Nosso trabalho desde a fundação da Casa das Mangueiras é pautado em valores como idealismo, liberdade e valorização da vida; empreendedorismo e arrojo frente às adversidades; reconhecimento e respeito à individualidade e à diversidade; humanismo e solidariedade, além da visão do ser humano como agente de transformação.

Quais são os projetos desenvolvidos atualmente? 
A Casa das Mangueiras investe em programas que auxiliam no desenvolvimento sociocultural dos atendidos. As atividades levam em consideração a faixa etária, incentivam o protagonismo juvenil e buscam despertar valores como respeito, cidadania, responsabilidade e solidariedade. A oficina de artes cênicas, por exemplo, desenvolve atividades que estimulam os atendidos a se relacionarem uns com os outros, permitindo que naveguem no mundo da imaginação. As atividades ainda incentivam a concentração por meio do jogo teatral e despertam o interesse pela criação de histórias. Nas oficinas de dança e de  artes circenses são trabalhadas situações que valorizam a autoimagem e a autoestima, desenvolvem e aperfeiçoam capacidades psicomotoras, além de incentivarem atitudes coletivas e cooperativas, deixando de lado o individualismo e a competição. Também é importante citar a oficina artística, com atividades que envolvem artes plásticas, artesanato, jogos dinâmicos, exibição de vídeos, pesquisas através de revistas, livros e jornais, e a oficina cultural, que, também por meio de licros, músicas, expressão corporal e dinâmicas, propõe reflexões relevantes.

Quantas oficinas estão disponíveis?
Temos em torno de 10 projetos nesse formato, além de outras iniciativas. Além das já citadas, disponibilizamos a oficina de Meio Ambiente, que inclui atividades de cultivo de horta e trabalha o conceito de educação ecológica e a responsabilidade ambiental, e a oficina de musicalização, implementada por meio de uma parceria com o João Rock e intitulada Rock das Mangueiras, que desenvolve a socialização, o raciocínio e a atenção. Os educandos também têm acesso à oficina de futebol, de capoeira e de informática. Por meio do apoio do Sicoob Cocred e da Cia. Minaz, implantamos, também, o projeto Cantar, que oferece aprendizado musical e também trabalho em grupo, raciocínio, reflexos, percepção e atenção. Já por meio do Turismo Inclusivo, procuramos apresentar aos atendidos espaços turísticos que estimulam conhecimentos históricos, culturais, artísticos e sociais. No Grupo Sócio Educativo, são desenvolvidas atividades sociais e pessoais para melhor desempenho nos relacionamentos interpessoais. As aulas de judô também cumprem esse papel, desenvolvendo corpo, mente e espírito e, ao mesmo tempo, ensinando uma técnica de defesa pessoal.

Em que consiste a metodologia de trabalho da Casa das Mangueiras?
Nossos métodos incentivam a construção de uma boa relação entre os jovens, suas famílias e a comunidade por meio de atividades programadas com foco no desenvolvimento de projetos de vida e comunitários, aprendendo a vivenciar a liberdade com responsabilidade.

Oficinas de música, circo e artes cênicas fazem parte da programação da entidade

Quantas crianças e adolescentes deverão ser atendidos em 2018?

A meta de atendimento para 2018 é de 130 crianças e adolescentes, mas atualmente atendemos 93. Neste momento, estamos em período de inscrições no serviço.

Qual é a estrutura necessária para manter todos os projetos?
Hoje, a Casa das Mangueiras trabalha com uma estrutura enxuta por passar por dificuldades financeiras, porém, seguimos oferecendo um trabalho de qualidade graças aos parceiros e aos voluntários. Nossa equipe contratada conta com uma pessoa na coordenação, um assistente social, uma psicóloga, três educadores, uma assistente administrativa, uma educadora, uma cozinheira e dois auxiliares de serviços gerais. Através de uma parceria com a Rodonaves, podemos contar, ainda, com a participação de dois voluntários. O João Rock nos garante outros três educadores e o Ballet Vanessa Tremeschim, outras duas professoras. A parceria com a artista plástica Weimar Amorim também nos rende mais um educador.

Qual é o papel do voluntário dentro da Casa das Mangueiras?
Os voluntários são fundamentais para auxiliar no desenvolvimento das oficinas socioeducativas.

Quais são as principais demandas da instituição neste momento?
A necessidade por recursos financeiros sempre encabeça a lista, mas também precisamos de doação de mão de obra. Para sanar a falta de dinheiro, a instituição vem trabalhando forte, ao lado da RTE – Rodonaves, na captação de verba, aumentando, assim, nossas receitas.

Quais são as principais fontes de recursos da Casa?
As receitas da entidade estão vinculadas ao Fundo Municipal de Direitos da Criança e do Adolescentes (2017); à Ação Social Cooperada do  SicoobCredicitrus/Coopercitrus (2017); às contribuições mensais de associados e à sensibilização para a doação do Imposto de Renda devido, especialmente advindos de empresas (2017). Também contamos com verba angariada através de bazares, com contribuições por penas alternativas e com recursos da Nota Fiscal Paulista, mas os recursos não são suficientes. Para fechar a conta, são realizados eventos, realidade da maioria das instituições.

Estrutura para a oficina de informática já está pronta, esperando por apoio para se tornar realidadeHá projetos engavetados esperando por apoio para virar realidade?
Sim! Estamos com um ambiente preparado para desenvolver o projeto de informática. O principal objetivo dessa oficina é fazer com que as crianças e os adolescentes tenham conhecimento na área e também de rotinas administrativas e comportamento profissional.

De que maneira as pessoas interessadas podem colaborar com a instituição?
Todo cidadão pode investir na Casa das Mangueiras fazendo a destinação de até 6% do Imposto de Renda devido. Já as pessoas jurídicas podem direcionar até 1% do valor que deve ser pago à Receita Federal à nossa instituição. Para realizar a desinação, basta acessar o site do Conselho Municipal da Criança e do Adolescente (www.cmdca.ribeiraopreto.sp.gov.br), clicar em FMDCA, Guia de Recolhimento, Emissão da Guia e Preencher a Guia, escolhendo, na última linha, a “Casa das Mangueiras – Organização Vida Nova Casa das Mangueiras”. Também é possível conhecer mais sobre nosso trabalho e se tornar um sócio contribuinte, investindo mensalmente qualquer quantia nos serviços oferecidos. Para saber mais, entre em contato com a Casa pelo tel.: (16). 3622.4441.

Durante sua trajetória, a instituição conquistou diversos prêmios. Quais são alguns deles? 
Entre os mais representativos, eu destacaria o Prêmio Semifinalista ITAU/UNICEF de Educação – 3º Edição/1999 e o Prêmio Parceria Cultural, da Secretaria Estadual de Cultura: por desenvolver programas culturais na periferia. Também passamos por avaliação pública em Psicoeducação de Quebec/Canadá, através da Câmara Municipal de Ribeirão Preto, que também prestou uma homenagem à Casa das Mangueiras na comemoração dos seus 125 anos. Outra homenagem que nos honrou foi a recebida durante a festa do centenário da Associação Comercial e Industrial de Ribeirão Peto (ACIRP), em 2017. 

Por muitos anos, o trabalho da Casa das Mangueiras esteve vinculado à figura da assistente social Sueli Danhone, que faleceu. Qual foi sua importância no estabelecimento da instituição?
A Sueli Danhone foi uma grande lutadora, comprometida com as causas sociais, em benefício de crianças e de adolescentes em situação de vulnerabilidade. O destaque do seu trabalho em vida foi a atuação frente à nossa organização, dedicando-se ao projeto de inserção social, que ajudou a criar nos anos 70. Devo dizer que a Sueli teve, sim, papel fundamental na Casa. Somos eternamente gratos pela oportunidade que ela nos dá todos os dias na prestação de serviços a crianças e adolescentes. 


Texto: Luiza Meirelles
Fotos: Ibraim Leão

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