Educar é preciso

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A 17ª Feira Nacional do Livro de Ribeirão Preto apresenta diversas novidades; entre elas, o projeto Combinando Palavras, que nasceu despretensiosamente e atingiu resultados surpreendentes

A 17ª Feira Nacional do Livro de Ribeirão Preto, que acontece de 4 a 11 de junho, propõe um debate muito necessário: o papel do livro na educação. Para a Fundação do Livro e Leitura, organizadora do evento, planejar a educação e a cultura para formar cidadãos conscientes é uma lição de casa para vários setores da sociedade. Por isso, a Feira tem vários homenageados de grande importância na educação e na cultura da população. 

Adriana espera que o Combinando Palavras inspire projetos em outras cidadesO país homenageado desta edição é Portugal, assim como um de seus poetas mais notáveis, Fernando Pessoa. O professor César Nunes é homenageado como autor educação; Ricardo Azevedo recebe as honras como autor infanto-juvenil; Rosa Maria de Britto Cosenza foi escolhida a autora local homenageada; Chaim Zaher, empresário e fundador do Grupo SEB, é o patrono do evento e Maris Ester de Souza, que também é escritora, é a professora da rede municipal homenageada. 

A programação é aberta no dia 3 de junho, com um concerto da USP Filarmônica em parceria com a Academia Livre de Música e Artes, e segue até 11 de junho. Intervenções artísticas, shows de grandes artistas, teatro e debates com convidados fazem parte da programação. Além das diversas atrações já conhecidas, este é o primeiro ano em que os alunos das escolas públicas trocam ideias com autores convidados e se encontram com eles, por meio do projeto Combinando Palavras.

Eles participarão de uma série de salões de ideias com grandes autores brasileiros. Desde 2007, os alunos produzem obras literárias e se encontram na Feira para o lançamento. No último ano, a presidente da Fundação do Livro e Leitura de Ribeirão Preto, Adriana Silva, estava presente no encontro e observou a grandiosidade do projeto. “Este projeto coroa uma importante transição da Fundação do Livro e Leitura de Ribeirão Preto. Durante algum tempo trabalhamos com a difusão da literatura, o que é muito importante, mas este projeto nos coloca em um outro cenário, o da formação, que é extremamente necessário. Este é o projeto que definitivamente fará de Ribeirão Preto uma cidade de leitores. Se assim acontecer, seremos modelo”, afirma.

Segundo Marineia, todos os alunos foram beneficiadosAlguns dos autores participantes desta edição foram estudados em sala de aula. A escolha foi feita cuidadosamente, seguindo critérios como conjunto da obra e aderência do público estudantil. “Procuramos não nivelar por baixo e acertamos. Num primeiro momento, as obras de Nélida Piñon e Lya Luft poderiam ser consideradas densas para este público e os alunos mostraram que não. Trabalharam com igual entusiasmo”, revela Adriana Silva. A presidente destaca, ainda, que a colaboração de parceiros foi essencial para colocar os encontros em prática. “A parceria com o SESC foi essencial para a viabilidade do projeto. Os recursos financeiros para a realização da Feira começam a ser confirmados em novembro e dezembro, muito tarde para organizar um projeto que objetiva criar material educativo, formar educadores e ficar em sala de aula por seis meses. Ao dizer sim ao nosso pedido com tanta antecedência, o SESC nos permitiu cumprir a meta. Depois, a parceria com a Diretoria Regional de Ensino foi preciosa porque nos abriu as portas e facilitou nossa presença nas escolas”, declara Adriana.

Os encontros começam com o autor Ignácio de Loyola Brandão, no dia 5 de junho, às 8h30, no Salão de Ideias do Theatro Pedro II. Depois, o bate-papo segue com Ricardo Azevedo, que marca presença do dia 5 ao dia 7, sempre às 14h30. Lya Luft, Nélida Piñon, Zuenir Ventura e Luís Fernando Veríssimo estarão presentes, respectivamente, nos dias seguintes, sempre às 8h30.

Origem e desenvolvimento

Uma das idealizadoras, a professora Heloísa está orgulhosa da ampliação da abrangência do projetoA professora Heloísa Alves conta que o Combinando Palavras surgiu em 2006, quando ela e os professores Célia Mendes Vieira Ceoldo e Ricardo Travessa Franzin sentiram a necessidade de realizar um trabalho que incentivasse a leitura e a escrita entre os alunos do Otoniel Mota. Com o aval dos gestores e coordenadores, montaram uma antologia para que os estudantes fizessem releituras de grandes obras nacionais e internacionais. “Os primeiros passos para a realização foram a escolha do autor para a composição da antologia. Depois, todos os professores da escola, de todas as áreas do conhecimento são convidados a participarem do projeto. A partir daí, os alunos, orientados por esses professores, pesquisam, em casa ou na biblioteca da escola, tanto a biografia quanto a bibliografia do autor e passam a ter contato com a obra, da qual escolhem livremente um ou mais textos para a releitura. Os trabalhos são digitados e enviados pelos próprios alunos para um e-mail feito especialmente para a revisão e a formatação, antes de irem para impressão gráfica”, conta a professora Heloísa. A idealizadora revela que a arte da capa, as ilustrações e outros itens do livro são feitos pelos próprios alunos e passam pela edição da professora de artes, Cibele Sarki, e pelo colaborador, Leonardo Ceoldo. Os textos são revisados pela professora Cláudia Maria Cantarella Silva.

Por ser um trabalho tão virtuoso, neste ano, a professora Heloísa, que coordena o projeto desde o início, e a diretora do Otoniel Mota, Edelwais Serapião, foram chamadas por Adriana Silva para levar a ideia a outras escolas. Tudo isso em conjunto com entidades culturais parceiras. “Posso dizer que todo esse resultado me faz sentir muito feliz e realizada, principalmente porque, apesar de já estar aposentada, retornei à sala de aula para desenvolver esta e outras ações e poder deixar um legado a todos os estudantes que descobrem a magia da leitura e da escrita”, conclui Heloísa.

Adriana destaca, ainda, que os resultados superaram as expectativas da educação e foram em frente, mudando a vida dos alunos e dos professores. “No último encontro teve educador que chorou ao narrar a receptividade dos alunos. Teve aquele que comemorou ter conseguido fazer todos os estudantes lerem um trecho de um livro. Houve, ainda, aquele que escreveu melhor do que o conteúdo lido. Os alunos fizeram vídeo, teatro, música, caricatura, pintaram telas, escreveram em pergaminho. Era esse o resultado que queríamos”, afirma. 

O objetivo na prática

Michelle, que adorou conhecer a obra de Nélida Piñon mais de perto, teve um desempenho de destaqueNa Escola Estadual Djanira Velho, a aluna Michelle Dayane Britto da Silva se destacou. A estudante do segundo ano do Ensino Médio escolheu o gênero Carta Pessoal para produzir seu trabalho. A carta de Michelle foi escolhida para constar no eBook da Fundação do Livro e Leitura e também fará parte do livro impresso feito por sua escola, além de ser um dos textos participantes do Concurso Literário Fernando Pessoa, também promovido pela Fundação. “Escolhi o gênero carta pessoal para produzir meu texto e usei a metáfora da borboleta para comentar sobre a transformação da mulher na sociedade. O texto faz referência a metáforas com o casulo, o próprio processo de transformação e o voar como opção feminina”, comenta a aluna sobre seu texto. Ela conta que está muito feliz e entusiasmada com a oportunidade de conhecer Nélida Piñon. “É a primeira vez que conheço uma escritora assim, tão perto”, afirma.

Para ela, o projeto é importante porque dá voz a alunos como ela, principalmente aos da rede pública. “Achei o projeto maravilhoso porque escuta os alunos, principalmente nós, que somos da escola pública e, de certa forma, ficamos mais vulneráveis com relação às oportunidades. Tivemos que vencer barreiras e aprender literatura de uma forma diferente e muito interessante: através de dinâmicas, conversas, leitura, interpretação de textos. Foi muito bom. Eu não conhecia a obra da Nélida Piñon e gostei muito. Usamos duas narrativas dela que retratam a condição da mulher”, declara Michelle.

Segundo a professora de Língua Portuguesa e Literatura de Michelle, Marineia Cenedezi, ela teve um ótimo desempenho, mas todos os alunos foram beneficiados. “O projeto incentivou muito nossos jovens e os colocou num circuito de estudos que os levou à experiência da literatura à produção textual, extrapolando os muros da escola. Foi um exercício de leitura e de produção de texto muito rico. Os alunos ficaram muito envolvidos”, afirma Marineia.

Segundo a professora, os alunos foram estimulados através das redes sociais com vídeos e contos que despertaram seu interesse. Daí em diante, partiram para a leitura e o estudo compartilhado desses contos. “Foi muito produtivo, pois os alunos puderam debater, se expressar, analisar as obras. Percebi neles a satisfação de participar do projeto e uma vontade de trabalhar com a obra de Nélida Piñon. Eles gostaram muito de como a literatura dela é feita. Trabalhei com três turmas e cerca de 120 alunos, matriculados nos 2º e 3º anos do Ensino Médio”, conta Marineia. 

Os homenageados

País - Portugal 
Escritor - Fernando Pessoa
Autor Infantojuvenil - Ricardo Azevedo 
Patrono - Chaim Zaher 
Autor Educação - César Nunes 
Professora - Maris Ester de Souza
Autora Local - Rosa Cosenza

Salões  de  ideias

Ricardo Azevedo
Dias 5, 6 e 7 de junho, às 14h30

Ignácio de Loyola Brandão
Dia 5 de junho, às 8h30

Lya Luft
Dia 6 de junho, às 8h30

Salões  de  ideias

Nélida Piñon
Dia 7 de junho, às 8h30

Zuenir Ventura
Dia 8 de junho, às 8h30

Luís Fernando Veríssimo
Dia 9 de junho, às 8h30

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