Eles decidiram esperar

Eles decidiram esperar

Em meio a tanta liberdade sexual, ainda existem jovens que valorizam a virgindade e decidem se resguardar até o casamento

Muitos casais buscam resolver seus problemas através de compensações, dentro ou fora do relacionamento, porém, isso acaba sendo uma fuga que não oferece espaço ao sentido, aumenta as fraquezas da personalidade e enfraquece o amorNos dias atuais, falar de sexo deixou de ser tabu e é comum comentar o assunto em rodas de amigos, na escola, no trabalho e, principalmente, nos diversos meios de comunicação. Vendo tal liberdade, é fácil esquecer que a sociedade era mais conservadora e, entre as ideias defendidas, estavam intrínsecos conceitos religiosos e socioculturais, como é o caso da virgindade. Vale ressaltar, que até pouco tempo atrás, era normal a mulher se casar virgem para, assim, conforme pensava a sociedade na época, ser respeitada pelo marido. No entanto, com as mudanças comportamentais nas relações, atualmente, já não se nota tanta exigência quanto a isso. 

Para a psicóloga Cristiane Ferreira da Silva, a cultura atual tem se importado mais com a velocidade, a quantidade e a utilidade, mas não se preocupa com a duração do relacionamento e o que é essencial para a vida humana. Segundo a especialista, esse modo de viver tem repercutido nos relacionamentos e, com isso, acontece o “movimento descartável”. “Não vivemos em um contexto de repressão sexual, pelo contrário, temos informação com fácil acesso, mas será que não estamos vivendo uma repressão dos valores humanos, existenciais, atemporais?”, questiona a especialista. Segundo Cristiane, as pessoas precisam olhar a beleza de poder chegar ao ápice do sexo quando ele é vivido como expressão de amor. “Isso é único e exclusivamente humano. Todavia, cada um tem o direito de buscar, esperar ou não por essa vivência”, acrescenta.

Dentro desse contexto, Cristiane salienta que, na contramão dessa sociedade libertária, ainda há jovens que optaram por esperar até o casamento para ter relações sexuais. “Diante dessa realidade, vejo a decisão dessas pessoas como uma resposta à liberdade. Eles não estão livres do contexto social e das influências culturais, nem dos impulsos e instintos, mas se percebem livres para decidir por si e tomar uma atitude perante a realidade, decidindo por suas vidas e histórias”, explica a psicóloga.

Seguindo esse pensamento, estão Fabiana Faciolla Lisboa, Thaís de Oliveira, Rafael Faciolla Lisboa, Érica e Paulo Henrique Mourão, que, mesmo em meio a questionamentos internos e externos, assumiram suas posições em relação ao sexo. Eles são representantes de um grupo que vem sendo reconhecido — e bastante comentado pela mídia — de jovens que decidiram esperar.

Sugestão de leitura 

“Educação integradora da sexualidade humana — Resgate do sentido do amor”.
Autora: Marina Lemos Silveira Freitas. 
Editora: IECVF.

Disseminando o conceito

Lançado oficialmente em 2011, o Movimento em prol da castidade “Eu Escolhi Esperar” foi idealizado por Nelson Júnior e Ângela Neto, casal que viveu a castidade durante o tempo de solteiro, namoro, noivado e casamento. O EEE, como é conhecido, tem movimentado os meios de comunicação e, a cada dia, conquista mais simpatizantes desse propósito. Segundo os idealizadores, há um grande apelo na sociedade que desperta a sexualidade e o resultado não poderia ser diferente: banalização coletiva a respeito do sexo e até mesmo na maneira de se relacionar, por isso, a missão do “Eu Escolhi Esperar” é fortalecer aqueles que escolheram se preservar sexualmente até o casamento e disseminar os princípios eternos nas áreas afetivas. Através de seminários, encontros, palestras, vídeos e redes sociais, a campanha alcança jovens e adultos que estão aderindo ao movimento que atrai mais de 100 mil jovens a cada encontro e possui mais de 3 milhões de seguidores nas redes sociais. 

Matrimônio casto

Engana-se quem acredita que a castidade só é vivida quando se está solteiro ou namorando. Os casais que vivem juntos e têm filhos também têm a oportunidade de viver esse tempo de espera depois de casados. Essa situação é vivenciada por Érika, 27, e Paulo Henrique Mourão, 28, pais da Liz, 1 ano, e Bento, que nasceu logo após a reportagem. Eles tiveram a primeira experiência sexual juntos e decidiram, depois de algum tempo, que teriam sexo só depois do casamento.

Segundo Érika e Paulo Henrique, a religião é uma forma de viver a castidade com fidelidade e alegriaO casal confessa que esse tempo de espera não é fácil. Têm os hormônios, os sentimentos e as vontades que os levam a querer estar perto e viver, assim, algo mais profundo. “Durante essa fase, no namoro, procurávamos nunca estar sozinhos em ambientes que nos levavam a cair em tentação. Conversávamos bastante sobre o assunto e de como seria belo após o casamento. Enfim, vivemos uma fase linda em nosso namoro e noivado, onde pudemos nos conhecer completamente e perceber que, sim, fomos feitos um para o outro”, avalia Érika.

Na visão dela e de Paulo Henrique, a vida sexual antes do casamento significa uma falsa liberdade em que as pessoas são reféns do ato sexual a cada encontro, não descobrindo, assim, a verdadeira beleza que existe no outro. Paulo Henrique explica que muitas pessoas acreditam que viver a castidade é apenas abster-se do ato sexual, contudo, a castidade dentro do casamento vai muito além. “O casal casto é aquele casal amigo, parceiro que não trai e, consequentemente, não demonstra ciúmes doentio um pelo outro, tem Deus acima de tudo, sonha em gerar filhos e, ao contrário do que se pensa, tem uma vida sexual totalmente ativa e feliz”, acrescenta.

Assim como a psicóloga, o casal vê o quanto as dificuldades do ser humano são perceptíveis nos relacionamentos, de modo especial nas relações amorosas. Diante dos defeitos e das  limitações que vão surgindo, desafios e problemas, as pessoas são questionadas sobre o que querem e o que devem fazer. Muitos casais buscam resolver seus problemas através de compensações, dentro ou fora do relacionamento, porém, isso acaba sendo uma fuga que não oferece espaço ao sentido, aumenta as fraquezas da personalidade e enfraquece o amor. São esses motivos que fizeram Érika e Paulo Henrique desejar viver a castidade juntos. “Com essa escolha, posso contemplar, a cada dia, no olhar da minha princesinha, Liz, na fidelidade e no amor do meu marido e na gestação e nascimento do meu pequeno Bento, o brilho da castidade. Enfim, tenho contemplado dia após dia que vale a pena esperar em Deus”, finaliza Érika.

Olhar além da castidade

“Nos guardamos para o momento certo, vivendo o namoro, o esperado noivado e, enfim, a chegada do casamento”, declaram Thais e Rafael Juntos há cinco anos, Thais Oliveira, 20, e Rafael Faciolla Lisboa, 24, lembram que a decisão de esperar surgiu, primeiro, individualmente, no coração de cada um. Como a maioria dos jovens, em determinado momento, eles cederam, todavia, a atitude não foi motivo para o sonho de casal terminar e, hoje, contam entusiasmados que vivem um namoro casto há dois anos.

A castidade sempre foi o sonho de Thais, por isso, mesmo após alguns anos ao lado do Rafael, eles optaram por viver esse propósito. A convivência com Fabiana, irmã do Rafael, e a escolha pelos propósitos de Deus através da caminhada missionária colaboraram para tornar o sonho de Thais realidade. “Vivemos esse propósito em que um beijo na testa é uma demonstração de amor mais bonita e o aperto de mão se torna sinal de confiança. Compartilhamos momentos da nossa vida, namoramos de uma forma que nos enche de alegria e nos guardamos para o momento certo”, pontua Thais.

O casal sabe que a igreja tem papel importante para que consiga se manter firme nesse propósito. “A religião nos ajudou a vivenciar um namoro santo, pois a maioria das doutrinas tem como valor fundamental o amor. Todos os dias, aprendemos a nos conhecer individualmente, a respeitar as fraquezas de cada um, a aproveitar os momentos nos gestos mais simples. Aprendemos a não olhar apenas para o carnal, mas para dentro de nós e ter Deus como o centro de nossas vidas e nossos relacionamentos”, expressa Rafael.

Crescimento pessoal

A pedagoga Fabiana Faciolla Lisboa, 26, decidiu viver a castidade antes de iniciar um namoro. O conhecimento mais completo sobre o tema surgiu após um retiro da Renovação Carismática Católica, onde Fabiana revela ter tido um encontro com Deus e, assim, passou a entender que para tudo existe um tempo. Muitas vezes, as pessoas não são Fabiana vive a castidade com o objetivo de se preparar para um relacionamento completofelizes porque atropelam momentos da vida. “Ao saber as verdades atrás da palavra castidade, minha vida mudou muito. Quando falamos em castidade, mais do que a relação sexual depois do casamento, falamos em amor, em amar o outro e a nós mesmos”, declara.

Solteira, a jovem comenta que viver a castidade é uma luta, todavia, é um tempo de espera que vale a pena e, mesmo em meio a críticas e questionamentos de muitas pessoas, ela permanece firme no seu propósito. “Hoje, quando se fala sobre castidade, muitos não compreendem ou acham que é loucura. Já cheguei a ouvir que não estou sabendo aproveitar a vida e que isso é coisa antiga, mas, a partir do momento que isso é uma decisão da minha vida, que busco uma felicidade verdadeira, não me abalo com as críticas”, acrescenta Fabiana.

Para ela, a sociedade, hoje, prega os prazeres momentâneos. Essa decisão de viver a espera, a castidade, vem para mostrar aos jovens e adultos — tendo em vista que esses podem viver a castidade mesmo após ter perdido a virgindade —, que todos podem ser verdadeiramente felizes com suas escolhas. 

Eles vivem a castidade  

Conheça alguns famosos que revelaram viver a castidade:

 Lisa Kudrow se manteve virgem até os 32 anos.
 O jogador Kaká e a ex-esposa Carol Celico ficaram conhecidos pelo relacionamento casto.
 O jogador David Luiz movimentou os veículos de comunicação quando declarou que faria sexo só depois do casamento.
 A angel da Victoria’s Secret Adriana Lima manteve o propósito até o casamento.
 Felipe Alcântara, vocalista da banda Os Gonzagas, declarou em rede nacional que ele e a noiva fizeram o voto de castidade.
 Sandy é conhecida como ícone desse propósito e também revelou ter se casado virgem com Lucas Lima.

Texto: Pâmela Silva
Fotos: Luiz Cervi

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