A Guerra dos Canudos

A Guerra dos Canudos

Considerados vilões do meio ambiente, os canudinhos começam a ser abolidos de estabelecimentos de Ribeirão Preto em função do longo tempo de decomposição das matérias-primas

Pequenos e práticos, os canudos são presença frequente em bares e restaurantes, utilizados no consumo de diferentes bebidas. Companheiro inseparável das crianças, o famoso canudinho, que também é utensílio frequente em drinques, pode estar com os dias contados. É que, segundo ambientalistas, o polipropileno e o poliestireno, popularmente conhecidos como a matéria-prima do plástico, que está na base do canudo, são danosos à natureza. Por causa disso, em muitos estabelecimentos de Ribeirão Preto, o acessório foi abolido, ou deu lugar a algumas iniciativas criativas. 

Muitas cidades do mundo já tratam da eliminação do utensílio. No Brasil, a primeira cidade a regulamentar essa decisão foi o Rio de Janeiro. Na capital fluminense, a medida vai ao encontro de um crescente movimento global de combate ao lixo plástico, um dos principais vilões da poluição marinha.

Em Ribeirão Preto, o dilema dos canudos não é diferente. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a cidade possui 694 mil habitantes. Em um dia, se metade da população consumir alguma bebida com o acessório, serão utilizados 347 mil. Em um mês, cerca 10 milhões de canudinhos podem ser jogados fora. No ano, o número chega a 125 milhões.
Sueli ressalta a importância da preservação do meio ambiente
No restaurante japonês Mirai, comandado pelas sócias Sueli e Miriam Hayashida, a decisão de utilizar iniciativas mais sustentáveis já foi estabelecida. “O Mirai trabalha em prol do meio ambiente. Em nossas unidades, abolimos o canudo e o substituímos por cana-de-açúcar. O cliente vem até nós e se delicia com o sabor da cana ligado aos drinques. Preservar é uma ação importante na atualidade”, afirma Sueli.

Da mesma maneira, o Espaço a Coisa também tomou uma atitude para contribuir com a preservação da natureza. No local, os canudos foram trocados por macarrão cru. A Chef Marilia Valle acredita que a substituição veio de uma preocupação por trazer uma alternativa mais ecológica para as bebidas. “Estamos sempre ligados em trazer mudanças inovadoras para nosso projeto e observamos que essa preocupação com os canudinhos nos incomodava, assim como todas as questões ambientais, e resolvemos fazer nossa parte. Alguns países pretendem banir seu uso, mas acredito que seja uma tradição beber algo bem gelado no canudo. Como trabalhamos com massas, achamos a opção do canudinho de macarrão,  a mais bacana para nosso Espaço”, explica.
Adepta dos canudinhos, Maria Eduarda mudou de hábitos
Adepta ao acessório, a estudante Maria Eduarda Vasconcelos, de 18 anos, tem evitado utilizá-lo. “Além de poluir o ambiente, constantemente vemos animais que morrem ou ficam feridos por conta dos canudos. A saída seria usar algo biodegradável, como já é possível encontrar em alguns locais de Ribeirão Preto e região”, diz.

Meio ambiente 
“A conscientização da população é sempre o melhor caminho”, diz a engenheira ambiental
A engenheira ambiental Amanda Vaz Meneguel Gonçalves, de 24 anos, afirma que a abolição dos canudos implica redução de um resíduo danoso e desnecessário. Segundo ela, o uso, na maioria das vezes, é prescindível e dura em torno de cinco a dez minutos.

Para Amanda, a adoção de uma postura mais sustentável por parte dos estabelecimentos e dos clientes auxilia na preservação ambiental e no bem-estar de diversas espécies. “A conscientização da população é sempre o melhor caminho. Campanhas como a que impulsionou esse movimento de redução do uso dos canudos ‘The Last Plastic Straw’ [o último canudo de plástico, em tradução livre] devem continuar, levando a toda a população as informações pertinentes sobre o ciclo de produção e os impactos decorrentes dos materiais que consumimos diariamente. Quando a utilização, infelizmente, se torna necessária, a reciclagem nos mostra a solução”, afirma.

Só em 2016, de acordo com o levantamento da Fundação Instituto de Administração da USP/SP, das 681 mil toneladas de material plástico encontradas no meio ambiente, 615 mil foram direcionadas para a reciclagem, e esse número pode aumentar. “Estamos em um começo, há diversos materiais menos danosos que já são usados na produção dos canudos para evitar o uso desenfreado do plástico. Os principais materiais utilizados são o papel, que oferece um processo de biodegradação mais favorável (cerca de seis meses), e o metal, que pode ser utilizado de forma contínua sem precisar ser descartado após seu uso. De qualquer forma, em razão da relevância do objeto, a redução do uso dos canudos ainda é a melhor saída, não implicando necessidade de nenhum processo produtivo que ocasione impactos ambientais”, explica a engenheira. 

Discussão Política
Vereador incentivou criação do Dia Mundial Sem Plástico Descartável em Ribeirão Preto. Foto: Thaisa Coroado
Em Ribeirão Preto, o vereador Luciano Mega (PDT) já tentou implantar uma lei que vete o uso de canudos na cidade, no entanto, o projeto não foi aprovado em sessão na Câmara Municipal. Após a negação, o parlamentar incentivou a criação do “Dia Municipal Sem Plástico Descartável”, celebrado, mensalmente, no dia 25. Para Mega, o melhor caminho é dar início à discussão do tema por meio da conscientização e não a abolição do uso dos canudos de forma direta. “É um trabalho que fazemos junto à população em busca de um melhor ambiente a todos. Estamos com projetos de reciclagem. Como alguns lugares ainda usam os canudos, que estes sejam recicláveis no município”, afirma.





































Texto: Pedro Gomes | Fotos: Ibraim Leão e Julio Sian

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