Hora da escola

Hora da escola

O estilo de vida atual, em que os pais precisam conciliar a rotina de atividades relacionadas à família faz com que seja necessário pensar sobre a hora certa de matricular as crianças na escola

Segundo Dr. Álvaro, os bebês ainda estão muito expostos a infecçõesA pequena Ana tinha sete meses quando chegou a hora da mamãe, Débora Duarte, voltar ao trabalho. A decisão da profissional de comunicação e marketing, juntamente com o marido, o professor Carlos Bonacim, foi a de encontrar uma escolinha para a filha. “Fizemos essa opção pelas possibilidades de socialização e de aprendizados que a escola oferece”, justifica Débora. Depois de muita pesquisa, encontraram uma unidade que reunia aquilo que procuravam: instalações adequadas, equipe pedagógica bem preparada, uma programação de brincadeiras e estímulos que julgaram importantes e fácil localização em relação à casa e ao trabalho. 

A adaptação de Ana à nova rotina foi tranquila e incluiu alguns momentos exclusivos junto à mamãe, que deu continuidade à amamentação. “Estamos satisfeitos com a decisão que tomamos. Observamos que, hoje, com um ano e três meses, nossa filha se se comunica melhor e seu desenvolvimento cognitivo e motor supera nossas expectativas a cada dia. Definitivamente, Ana é uma criança feliz, saudável e muito ativa”, comemora Débora. 

Pelo estilo de vida da atualidade, as famílias, de fato, precisam pensar sobre a hora certa de matricular os filhos na escola cada vez mais cedo. Para as mamães que trabalham e não têm a possibilidade de deixar os pequenos em casa, a questão se impõe com a proximidade do fim da licença-maternidade, que acontece entre quatro e seis meses. No entanto, segundo o pediatra Álvaro Afonso Truite (CRM: 37.745), é recomendável adiar um pouco mais o ingresso na escolinha. “Nessa idade, além de não terem a vacinação básica completa e apresentarem uma imaturidade imune fisiológica, as crianças podem contrair uma série de doenças, facilmente evitadas permanecendo em casa”, explica o médico, que acredita que os bebês devem ser preservados, pelo menos, até completarem o primeiro ano de vida.

Entre os seis e os nove meses, o problema de saúde mais temido é a bronqueolite, virose que inflama os pequenos bronquíolos, causando grande dificuldade respiratória. Já em crianças um pouco mais velhas, os resfriados comuns são mais recorrentes. “Por si só, eles não assustam, mas podem evoluir, em alguns casos, para complicações, como rinossinusites, otites e até pneumonias”, acrescenta Dr. Truite. Quando matricular os filhos na creche ou na escolinha ainda bebês é a única opção dos pais, então, vale tomar alguns cuidados. “Verificar a relação entre o número de bebês e de cuidadores e se eles exercem a atividade com prazer é uma dica importante. Também recomendo observar se as instalações são adequadas, se o local tem boa ventilação, se o piso é apropriado para evitar quedas, entre outros detalhes”, ensina o pediatra.

“Ser criança faz parte do desenvolvimento humano e tem fundamental importância na formação do adulto que o indivíduo se tornará”, ressalta Ana PaulaNa escola comandada pela diretora Ana Maria Freitas, que recebe bebês a partir dos 10 meses, todas as instalações foram preparadas cuidadosamente. “Nesta idade, os pequenos já tem mais firmeza, começam a se comunicar e a ensaiar os primeiros passinhos. Tais condições permitem o início de um trabalho de apoio ao seu desenvolvimento”, argumenta a proprietária da escola de Educação Infantil Criança e Cia. 

Na unidade, cada espaço é preparado para determinada atividade. “Gostamos de dizer que temos uma escola viva, por onde os alunos transitam em ambientes lúdicos, criados com finalidades pedagógicas bem definidas, mas nunca limitando a liberdade das crianças”, acrescenta Ana Maria. Noções de espaço, coordenação motora e linguagem são alguns dos aspectos trabalhados junto aos pequenos. A diretora ressalta, no entanto, que o desenvolvimento dos pequenos só seguirá seu curso apropriado se houver sintonia entre a escola e a família.

Tempo de ser bebê

Para a psicóloga, musicoterapeuta e educadora infantil Ana Paula Lazarini, a hora certa de colocar os filhos na escola está intimamente relacionada às necessidades de cada família e às condições da criança em questão. “Ao meu ver, antes da idade propriamente escolar — segundo as regras brasileiras, toda criança deve frequentar a escola a partir dos quatro anos — a criança precisa ser um bebê, aprender a deixar de ser bebê, reconhecer-se individualmente e coletivamente. Tudo isso só acontece em um ambiente próprio para a idade, com estímulos e muito amor, e não com aulas planejadas e rotinas padronizadas. Essas condições podem ser encontradas em casa ou na escola, dependendo da instituição”, comenta Ana Paula, que, além de prestar atendimento em consultório particular, é psicóloga da Escola de Educação Infantil Viver Feliz.

Débora, Ana e Carlos: escolinha aos sete meses e pela satisfaçãoAté os três anos, as necessidades de cada criança são muito individuais e devem ser atendidas com flexibilidade, adaptação e atenção plena. “Escolinhas que garantem a formação de pequenos grupos de alunos e equipe pedagógica qualificada têm condições de fazer tudo isso com qualidade”, garante a psicóloga. Não se deve esperar, no entanto, que as crianças sejam enviadas à escola nessa primeira infância para adquirir recursos que as tornem mais preparadas para o futuro mercado de trabalho. “Ser criança faz parte do desenvolvimento humano e tem fundamental importância na formação do adulto que o indivíduo se tornará. Essa experiência não volta mais e nós carregamos eternamente nossa própria criança dentro de nós”, acrescenta Ana Paula, que é mãe de Augusto, de 8 anos, e de Leonardo, de 5 anos.

Crianças estimuladas adequadamente em casa e que têm a possibilidade de conviver com outras crianças em seu dia a dia podem ir para a escola mais tarde. “Os pais devem ficar atentos aos sinais que a criança dará em relação à coletividade e ir percebendo se o ambiente escolar é importante para o seu desenvolvimento”, recomenda a psicóloga. A partir de dois anos, variando de uma criança para outra, os pequenos começam a lidar melhor com o coletivo e se sentirão mais curiosos na presença dos coleguinhas.

Ana Maria explica que, na escola viva, as crianças passam por espaços lúdicos, planejados com base em finalidades pedagógicasNa busca pela instituição ideal, a realidade e as necessidades daquela criança são os fatores mais relevantes a serem considerados. “A confiança dos pais na escolinha e a atenção deles ao estado emocional da criança, para se assegurarem de que ela está sendo bem acolhida, também são primordiais. Manter o diálogo constante com os responsáveis pela escola, refletindo periodicamente sobre seu desenvolvimento, também é fundamental”, enumera Ana Paula. 

Por esses e outros fatores a contadora Joyce Castro está feliz com a decisão que tomou junto com o marido, Artur, quando Luís tinha 8 meses. “Como sou autônoma, boa parte do meu trabalho pode ser realizada em casa, o que me ajudou muito nos primeiros meses de vida do Luís. No entanto, entendemos que proporcionar a ele algumas horas do dia inserido em um ambiente que estimulasse seu desenvolvimento de forma apropriada era a melhor opção”, acrescenta. Antes de definirem a instituição escolhida, visitaram três endereços. “Ao final, seguimos nosso coração e optamos pela escola onde sentimos total confiança, além, claro, de ter espaço e liberdade para as brincadeiras”, destaca Joyce. Hoje, com pouco mais de dois anos, Luís demonstra maior capacidade de interação com as pessoas e mais facilidade de se comunicar. A família já decidiu que seguirá os mesmos passos com Caetano, que nascerá em breve para fazer companhia ao irmão. 

Joyce, a espera de Caetano, e Luís: escolinha desde os oito mesesPara refletir

De acordo com o pediatra Álvaro Truite, já existem estudos científicos que comprovam que, idealmente, a melhor época para encaminhar as crianças para a escola é a partir dos três anos. “Só a partir dessa idade é que elas começam a brincar socialmente. Nos primeiros anos de vida, a evolução possível é a socialização, que nada mais é do que aprender a confiar, a amar e se sentir amado, seguro e protegido — e ninguém melhor do que os pais para desempenharem essa tarefa. Outros aprendizados dependem de um adequado desenvolvimento cerebral, que inclui a aquisição de inteligência emocional, fundamental para estabelecer bons relacionamentos na vida adulta”, argumenta Dr. Truite.

Sem culpa

Se a escola é a única opção para as famílias, não há motivos para carregar culpas. As instituições existem para atender a uma necessidade real do mundo contemporâneo e vêm se preparando bastante para isso. “O mais importante é que os pais entendam que a escolinha não é a única responsável pelo total desenvolvimento dos seus filhos e não substitui qualquer função materna ou paterna: a parceria é essencial”, esclarece Ana Paula. O processo de se afastar do filho, confiá-lo aos cuidados de terceiros e participar das ampliações de suas vivências afetivas é uma difícil e igualmente importante conquista na direção do amadurecimento familiar.

Texto: Luiza Meirelles
Fotos: Julio Sian e Luiz Cervi

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