Nomes da Ciência

Nomes da Ciência

Cientistas se destacaram nas pesquisas em Ribeirão Preto, construindo eterno legado

A tradicional produção científica em Ribeirão Preto faz com que diversos nomes de homens e mulheres tenham o seu lugar garantido na memória da Ciência feita no Brasil e no mundo. Responsáveis por descobertas que levaram a novos tratamentos para várias enfermidades, como doenças neurológicas, problemas ósseos, hipertensão arterial, doença de Chagas, diabetes e lúpus, entre outras, esses professores e professoras ainda ajudaram a criar departamentos e cursos universitários, atuaram com destaque no exterior, foram premiados por instituições renomadas e, hoje, muitos são reconhecidos com o seu nome em premiações voltadas a valorizar a produção científica contemporânea.

Um legado eterno, deixado por nomes simples, como José, Carlos, Sérgio, Joaquim, Júlio, Izabel e Renato, que você conhece nas próximas páginas.


Responsáveis por descobertas que levaram a novos tratamentos para várias enfermidades, atuaram com destaque no exterior e foram premiados por instituições renomadas


CARLOS JÚLIO LAURE

Em 1998, o bioquímico e professor da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto, Carlos Júlio Laure, recebeu o prêmio “Homem do Ano”, atribuído pelo International Biographical Centre Cambridge, na Inglaterra, a profissionais cuja obra tenha contribuído para o desenvolvimento da Ciência. A base do prêmio foi o trabalho feito pelo cientista no Instituto de Bioquímica da USP, voltado para o uso da crotamina — o veneno produzido pela cobra cascavel — na compreensão do modo de funcionamento de doenças neurológicas.

Os estudos tinham como objetivo específico a miotonia, um sintoma de diversas doenças neurológicas que provoca contrações involuntárias dos músculos. O trabalho de purificação da crotamina fez com que o produto final fosse exportado para laboratórios nos Estados Unidos e Europa, especialmente o Instituto Pasteur, na França.

Carlos Júlio Laure nasceu em Teófilo Otoni (MG), em 1942. Integrou a turma de formandos da USP em 1961 e começou o seu trabalho na Universidade a partir de 1962. Morreu em Ribeirão Preto, em 2012.

JOSÉ MOURA GONÇALVES

Considerado um dos precursores da bioquímica moderna no Brasil, o professor José Moura Gonçalves obteve reconhecimento mundial ao identificar a crotamina, uma proteína tóxica existente no veneno das cascavéis. A sua descoberta foi o ponto de partida para o trabalho de diversos cientistas, entre eles, Carlos Júlio Laure, também da USP de Ribeirão Preto.

Assim como parte dos pesquisadores de medicina que atuaram no campus local da USP, José Moura Gonçalves já era um nome reconhecido da ciência brasileira quando chegou a Ribeirão Preto. Antes, já tinha feito trabalhos de relevo na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), sobretudo sob a coordenação do professor Baeta Viana, no início da década de 1940 e, principalmente, nos Estados Unidos, na Universidade de Wisconsin. Foi ali, como pesquisador associado do Departamento de Química, em 1945, que ele identificou a crotamina.

José Moura Gonçalves chegou a Ribeirão Preto em 1952, a convite do professor Zeferino Vaz, para dirigir o Departamento de Bioquímica da USP. Foi diretor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto por sete vezes e faleceu em São Paulo, em 1996, aos 82 anos.

JOAQUIM COUTINHO NETTO

Um dos trabalhos pioneiros da Ciência brasileira em reparação óssea foi realizado em Ribeirão Preto, pelo professor do Departamento de Bioquímica e Imunologia da Faculdade de Medicina da USP, Joaquim Coutinho Netto. O cientista foi o responsável pelo uso do látex de seringueira como um instrumento para a regeneração de ossos. O trabalho, desenvolvido no final dos anos 1990, evoluiu para a criação de uma pomada com alto poder cicatrizante.

Além dos trabalhos com o látex, Coutinho Netto também participou de uma equipe que estudou a aplicação de uma substância existente no veneno de uma espécie de aranha para combater a evolução da doença de Alzheimer e de outras doenças degenerativas. Os estudos mostraram que uma molécula, isolada do veneno da aranha Parawixia bistrato — comum no Brasil — podia evitar a morte de células nervosas em cobaias, o que foi considerado inédito.

Joaquim Coutinho Netto faleceu em 2012, aos 68 anos, vítima de câncer.

SÉRGIO FERREIRA

O médico e farmacologista Sérgio Henrique Ferreira (1934-2016) foi o responsável pela criação de um dos medicamentos mais utilizados no mundo para o combate à hipertensão arterial. O fármaco foi fruto de pesquisas desenvolvidas por Ferreira na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, durante a década de 1960, que envolveram a bradicinina, um composto obtido do veneno da jararaca. 

O pesquisador descobriu uma substância, que chamou de Fator Potencializador da Bradicinina (BPF, na sigla em inglês), que se tornou o componente mais importante para a produção do Captopril, medicamento que controla a hipertensão. Pela descoberta, Sérgio Ferreira recebeu diversos prêmios ao longo de sua carreira. Um deles, o “Ferreira Award”, instituído em 1990 pela Sociedade de Hipertensão Norueguesa, premia trabalhos de pesquisadores nessa área.

O médico foi presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e presidente de honra, membro da Academia Brasileira de Ciências e do mesmo órgão, nos Estados Unidos. Também recebeu o primeiro prêmio por excelência em trabalhos sobre a dor da Associação Nacional de Estudos sobre a Dor.

JÚLIO VOLTARELLI

Assim como o médico Sérgio Ferreira, o imunologista e pesquisador Júlio César Voltarelli também foi homenageado com um prêmio com o seu nome, por causa do trabalho ligado ao transplante de medula óssea. Voltarelli, que morreu em março de 2012, aos 63 anos, é reconhecido com um dos pioneiros da pesquisa com células tronco no país, especialmente para o tratamento de diabetes do tipo 1 e outras doenças autoimunes, como lúpus.

Era pesquisador e professor titular do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto. Também fazia parte da equipe do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Células Tronco e Terapia Celular.

O Prêmio Júlio Voltarelli foi criado em 2012, em Ribeirão Preto, a partir de uma iniciativa da Sociedade Brasileira de Transplante de Medula Óssea, com o objetivo de incentivar a pesquisa científica nesta área.

IZABEL YOKO ITO

Izabel Yoko Ito foi uma das pioneiras no estudo da microbiologia na USP Ribeirão Preto. Foi uma das primeiras graduandas do curso de Farmácia e Odontologia de Ribeirão Preto, formando-se em 1960. Fez o doutorado pela mesma faculdade, concluindo em 1967, após ter feito um ano de especialização em microbiologia na Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Professora titular da USP, o trabalho de Izabel Ito na área da microbiologia foi reconhecido em 2008, com a criação de um prêmio que leva o seu nome e que é entregue anualmente durante o Encontro Anual Farmacêutico de Ribeirão Preto (Enfarp). O objetivo, de acordo com os organizadores, é “incentivar a iniciação à pesquisa em seus aspectos básicos e aplicados”.

Dois anos antes, em 2006, a obra de Izabel Yoko Ito já havia sido homenageada pela Universidade de São Paulo. Também recebeu o Troféu Lowes, em 2003. A pesquisadora morreu em 2010.

RENATO HELIOS MIGLIORINI

O médico e bioquímico Renato Helios Migliorini foi um dos cientistas mais renomados da Faculdade de Medicina da USP Ribeirão Preto, pelo trabalho voltado para o papel dos estrógenos no diabetes, com o qual obteve o doutorado pela mesma universidade. É considerado um dos pioneiros da pesquisa sobre ácidos graxos no Brasil. 

Com passagens por instituições de renome internacional, como Universidade da California (Berkeley) e o University College (Londres), foi um dos pesquisadores mais prolíficos da faculdade, com mais de uma centena de trabalhos publicados em revistas científicas de referência internacional e mais de mil citações.

Até sua morte, em janeiro de 2008, aos 82 anos, Renato Migliorini foi professor titular de fisiologia da Faculdade de Medicina da USP Ribeirão e membro titular da Academia Brasileira de Ciências. Em 1996, recebeu o prêmio SBEM da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabolismo.

GLETE DE ALCÂNTARA

O nome da professora Glete de Alcântara está diretamente ligado à profissionalização da área de enfermagem no Brasil. O convite feito em 1952 por Zeferino Vaz, diretor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, para organizar a Escola de Enfermagem da instituição, foi consequência de um investimento feito pela Universidade para fortalecer o ensino de enfermagem no país.

Uma década antes, entre 1940 e 1941, Glete foi uma das quatro alunas da USP enviadas ao Canadá para fazerem a graduação em Enfermagem Geral e Enfermagem de Saúde Pública na Universidade de Toronto. O objetivo era colaborar para que o ensino no Brasil se tornasse mais atualizado e voltado às necessidades do país.

Em Ribeirão Preto, foi responsável pela criação de uma estrutura didática e administrativa de uma escola de enfermagem, então inexistente no país. Uma das suas principais medidas foi incluir elementos das Ciências Sociais na área. Nascida em São Sebastião do Paraíso (MG), em 1910, Glete de Alcântara foi presidente da Associação Brasileira de Enfermagem e diretora da EERP-USP por quase duas décadas. Morreu em 1974, aos 64 anos.

JOSÉ OLIVEIRA DE ALMEIDA

O professor José Oliveira de Almeida é um dos responsáveis pela criação do Departamento de Bioquímica e Imunologia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, no início da década de 1950, junto ao professor José Moura Gonçalves. 

Considerado uma das referências nacionais no estudo da doença de Chagas, ele foi o responsável pela descoberta de um antígeno (uma substância que provoca a formação de anticorpos) que ajudou a combater a leishmaniose visceral, doença provocada por um protozoário, que atingia partes do Nordeste do Brasil.

O trabalho de Oliveira de Almeida é considerado revolucionário, porque, ao contrário do que dizia o senso comum na época, ele abriu mão de trabalhar com a criação do antígeno a partir de protozoário e decidiu usar a bactéria da tuberculose. Sem esse princípio, teria sido muito difícil, à época, o combate a males como a Doença de Chagas ou a sífilis.

JOSÉ ANTONIO APPARECIDO DE OLIVEIRA

Presidente da Sociedade Brasileira de Otorrinolaringologia, no início da década de 1990, o professor José Antonio Apparecido de Oliveira foi um dos responsáveis pela formação do Departamento de Oftalmologia, Otorrinolaringologia e Cirurgia da Cabeça e do Pescoço e responsável pela criação do setor de Fonoaudiologia do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto. Foi também o idealizador do curso de graduação em Fonoaudiologia, que começou a funcionar em 2003. 

Apparecido de Oliveira foi responsável pela realização do primeiro implante coclear feito no Hospital das Clínicas, em 2004. A operação é feita em pacientes com surdez profunda e consiste da inserção de um aparelho que desvia os sons das partes danificadas do ouvido, enviando-os diretamente ao nervo auditivo como sinais elétricos.

O professor José Antônio Apparecido de Oliveira faleceu em novembro de 2017. 

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