O Perigo Mora em Casa

O Perigo Mora em Casa

Com as férias escolares, as crianças passam mais tempo em casa e, portanto, mais expostas ao risco de sofrerem acidentes domésticos

Segundo o Ministério da Saúde, aproximadamente 5 mil crianças morrem e outras 120 mil são hospitalizadas no Brasil em decorrência de lesões não intencionais. Os dados mais recentes são de 2013 e também mostram que, até os 14 anos, o número de meninos hospitalizados por razões dessa natureza é duas vezes maior do que o volume de meninas. Nesse cenário, a boa notícia é que esses índices vêm caindo com a passagem dos anos — de 2000 a 2013, a queda foi de 32%. Ainda elevadas, as ocorrências correspondem a acidentes, afogamentos, sufocações, queimaduras, quedas, intoxicações, entre outros episódios que, não raras vezes, ocorrem dentro de casa. 

Nas residências, os vilões podem estar em todos os cômodos. Na cozinha, as principais culpadas de acidentes costumam ser as panelas no fogo, irresistíveis para a curiosidade das crianças. “A água fervendo para o cafezinho pode ser um grande perigo. O piso escorregadio dos banheiros, assim como produtos químicos e baldes cheios de água na lavanderia também exigem máxima atenção”, aponta Daniela Grizzo (CRM: 144.941), médica reguladora e coordenadora da equipe médica do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU), Regional de Ribeirão Preto.

De acordo com a especialista, em julho, quando as crianças em idade escolar estão de férias da sala de aula, há um aumento nos chamados 192 por causa dos acidentes domésticos. “Entorses, quedas, fraturas, queimaduras e presença corpo estranho nas narinas e nos ouvidos estão entre as consequências mais comuns entre as ocorrências que atendemos em Ribeirão Preto”, continua Daniela.

Os incidentes também podem acontecer do lado de fora da casa. Em parques e praças, a vigilância aos pequenos deveO pediatra Alexander Engelberg destaca que os acidentes fora de casa também são relevantes ser igualmente intensa. “É imprescindível atentar-se ao trânsito — inclusive, de veículos não motorizados. Vale ressaltar, também, que animais de rua podem ser agressivos e que algumas plantas podem causar intoxicação e até queimaduras”, alerta o pediatra Alexander Engelberg (CRM: 88.594), coordenador do Pronto-Atendimento da Fundação Maternidade Sinhá Junqueira. 

De acordo com o pediatra, que é médico assistente da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP-USP) e do curso de Medicina do Centro Universitário Barão de Mauá, em geral, os traumas são os acidentes mais frequentes. “Choques elétricos e afogamentos também são mais comuns do que deveriam”, ressalta Alexander, lembrando  que todos os acidentes podem ter desdobramentos severos e até mesmo fatais. “Em todos os casos, vale a máxima: acidente não se trata, acidente se previne”, defende o pediatra.

 É nesse sentido que trabalham, também, os bombeiros, que realizam palestras de prevenção a acidentes durante o ano inteiro. Trata-se do Programa Bombeiro Educador, que acontece não apenas em escolas, mas também em indústrias, empresas e outros locais. “A intenção é, justamente, conscientizar as pessoas sobre a necessidade de prevenirem e evitar a ocorrência de acidentes”, salienta o 1º tendente da Polícia Militar, chefe da seção de Comunicação Social, Michel Aparecido Monroe. 

Para proteger as crianças, as principais recomendações são instalar portões em extremidades de escadas e de redes de proteção em sacadas, janelas e outros locais que ofereçam risco de queda. “Proteger as tomadas elétricas, retirar almofadas e afins de berços e cercadinhos e tomar cuidado com pequenos objetos no chão ou sobre móveis baixos são cuidados importantes”, ensina o 1º tenente. Na hora de preparar as refeições, colocar o cabo das panelas virados para a parte interna do fogão é uma dica simples que também ajuda a evitar muitos acidentes.

Se não houve meios de evitar o acidente, o melhor a fazer é manter a calma e procurar ajuda no pronto-atendimento mais próximo. Caso a situação seja uma emergência, o ideal é pedir socorro pelos tels.: 192/193. “É importante informar corretamente endereço da ocorrência, se possível, com algum ponto de referência. Confie e responda às perguntas do atendente”, recomenda o tenente Monroe. 

Se a vítima estiver desacordada, as orientações indicarão que sejam verificados os sinais de respiração. “Estando o acidentado sem respiração ou agonizando para respirar, será necessário virar a vítima de costas, em uma superfície rígida e iniciar a manobra recomendada pelo socorrista, que não deve ser interrompida até a chegada do socorro”, completa. 

De cara no chão


Enquanto Jennissy Palmieri Vieira ia ao médico, os gêmeos João Fillipi e João Gabriel, de 5 anos, ficariam com a tia, como não era raro. Antes mesmo que a mãe deixasse a casa da madrinha, um tombo sério: o pastor alemão da casa, também criança, saiu correndo em busca de brincadeira. O mesmo fez João Fillipi, que levou um empurrão forte do cachorro e caiu de cara no chão. Inicialmente, foram os cortes no lábio e na parte interna da boca que mais assustaram, já que sangraram muito. “Colocamos gelo imediatamente e o João foi se acalmando. Pouco tempo depois, ele começou a ficar sonolento demais e aquilo nos levou ao Hospital”, relata Jennissy, revelando que os acidentes geralmente acontecem mesmo com João Fillipi, mais destemido. Uma tomografia revelou a fratura no osso orbicular do olho, que fica sobre a sobrancelha, que não exigiu cirurgia, mas demandou dedicação. “Passamos as duas semanas seguintes indo ao neurologista e ao otorrinolaringologista, até que recebemos alta”, comemoram Jennissy, ao lado do marido, João Marcos. Os hematomas e machucados da face não demoraram muito a sumir, deixando para traz a mesma energia para brincar do acidentado.

Punho fraturado

Os cursos de férias estão entre as programações preferidas das crianças em julho. Esta foi a opção de Ludmila e Nina Puntel para a primeira semana do recesso escolar. O último dia de brincadeiras, no entanto, rendeu à garota de 10 anos um punho fraturado. “Já estava me preparando para buscá-la quando meu telefone tocou. Quando cheguei, a Nina estava chorando muito e, como isso não é característico, corremos para o hospital”, relata Ludmila, que também é mãe de Alice, de 5 anos. A fratura foi resultado de um jogo de futebol com os meninos, em que Nina escolheu ser a goleira. Apesar do incômodo, a menina continua animada para aproveitar viagem que fará ainda nessas férias de julho.

Nariz quebrado

No sábado pela manhã, como de costume, Caetano, de 3 anos e 11 meses, foi brincar no parquinho do condomínio acompanhado pelas irmãs, Laila e Isabel, de 13 e 7 anos, respectivamente. Muito ativo, o caçula corria para lá e para cá, enquanto as irmãs brincavam no balanço de madeira. Até que Caetano saiu em disparada por traz do brinquedo, sem que as meninas tivessem tempo de interromper o movimento. O balanço acertou o nariz do pequeno. “Minha filha mesmo se ocupou em estancar o sangramento, enquanto a outra veio me chamar. Corremos para o hospital em seguida”, conta Larissa Montanari Silva, que também é mãe de Sofia. O nariz está trincado e ganhou uma nova forma, mas não há muito a fazer agora, a não sei tentar prevenir novas pancadas. Os hematomas da batida já sumiram e Caetano, no dia seguinte, estava de fôlego renovado para brincar. Com quatro filhos, dá para imaginar que esta não foi a primeira experiência de Larissa com um acidente do gênero. No entanto, ela confessa que, com Caetano, o volume de episódios tem sido impressionante. “Ele é muito ativo e não para nunca. As meninas não demandaram tanto nesse sentido”, garante Larissa.

Corte na cabeça

Esta foi uma das primeiras ocasiões que Marco Antônio, de 6 anos e 11 meses, foi sozinho a uma festinha de aniversário. Uma hora depois de deixar o pequeno no buffet infantil, a mãe, Bianca dos Reis Valochi, que está no sétimo mês de gestação do segundo filho, recebeu uma ligação para buscá-lo. Com o coração sobressaltado, encontrou o filho já socorrido com um corte na cabeça. No pronto-atendimento, precisou levar dois pontos. “Ele não é muito levado e não passei por experiências assim muitas vezes. Por isso, o susto foi grande”, conta Bianca, à espera de João Pedro.

 

Para os idosos

1º tenente Michel Monroe ensina que, se não foi possível evitar o acidente, o melhor a fazer é buscar socorro
O representante dos bombeiros faz questão de destacar que os idosos também estão bastante suscetíveis aos acidentes domésticos. Algumas medidas, se incorporadas ao dia a dia dos mais velhos, podem evitar as ocorrências ou garantir rápido socorro.  

*instale telefones próximos à cama
*adote barras fixas ao lado de chuveiros e vasos sanitários
*não recorra a banquetas ou cadeiras para acessar armários altos e trocar lâmpadas
*esteja atento a ambientes molhados e encerados
*não utilize tapetes soltos, especialmente no entorno de escadas e em corredores
*mantenha a casa bem iluminada e instale abajures próximos à cama 

Compartilhar: