Promessa Verde

Promessa Verde

Afinadas com o apelo mundial para redução da emissão de CO2 no planeta, as fábricas automotivas apostam nos carros híbridos e elétricos, mas esbarram na falta de incentivos no Brasil

Bem diferente da realidade dos Estados Unidos, do Japão, da China e de diversos países da Europa, onde o chamado carro verde — como são designados os modelos elétricos ou híbridos — tem conquistado cada vez mais mercado e consumidores, no Brasil, as vendas desses veículos não alcançaram a prospecção esperada, o que coloca o país na contramão da tendência mundial. 

No exterior, a projeção favorável desses veículos sustentáveis tem ocorrido, sobretudo, graças aos incentivos que compreendem desde o aporte financeiro oferecido aos compradores até a importação da tecnologia para o desenvolvimento da indústria interna e também a isenção de impostos em balsas, pedágios e estacionamentos, como ocorre na Noruega.

Conforme a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), foram emplacados, de 2006 a meados de 2016, 2,5 mil carros verdes, sendo que a frota brasileira compreende, aproximadamente, 50 milhões de automóveis. Os dados indicam que tais veículos só se tornarão efetivos no Brasil em longo prazo. Para isso, os dirigentes têm que assumir a redução de emissão de poluentes, definitivamente, como uma bandeira e propiciar o barateamento da tecnologia por meio de impostos e incentivos, tomando como exemplo o Japão. No país localizado na Ásia, segundo levantamento feito pela Nissan, há, hoje, mais postos de recarga para carros elétricos puros e híbridos do que postos de combustível. A realidade ainda está distante do Brasil, país onde o aumento de tributos vive na pauta do dia dos políticos. 

Em meio a esse cenário e a pesquisas, a perspectiva da Associação Brasileira do Veículo Elétrico é que circulem de 30 mil a 40 mil veículos verdes no Brasil em 2020, sendo que, até o ano passado, os híbridos e os elétricos correspondiam a 0,08% dos carros em circulação no país.

Para Marcelo, a principal vantagem do Ford Fusion Hibrid é não precisar de combustível fóssil para ser acionadoEnquanto tramitam na Câmara dos Deputados o projeto 65/2014, que obriga as concessionárias de energia elétrica a instalar pontos de recarga para veículos elétricos em vias públicas e em ambientes residenciais e comerciais; e no Senado o projeto de Lei 174, do mesmo ano, que concede isenção do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) sobre automóveis elétricos ou híbridos a etanol, as fabricantes desses veículos encontram um mercado bastante tímido. 
No país, há cerca de 20 modelos elétricos e híbridos disponíveis para venda. Entre eles o Toyota Prius, o Toyota Lexus CT200h, o Ford Fusion Hybrid, o BMW i3, o BMW i8 e o Mitsubishi Outlander PHEV. 

O supervisor da Ortovel Veículos e Peças, Marcelo Siufi, explica que o Ford Fusion Hybrid possui dois motores: um elétrico e outro à combustão. “O elétrico é acoplado a um gerador carregado pelo freio do automóvel quando acionado ou pelo motor à combustão, quando a velocidade do carro supera 100 km”, explica, ressaltado que se a bateria de lithiun estiver precisando de carga, o motor à combustão também é acionado automaticamente.

O modelo híbrido vendido pela Ford justifica perfeitamente o fato de tais veículos serem conhecidos como carro verde: a nova tecnologia não precisa nem de tomada para carregar a bateria, basta acionar o freio com ele em movimento que o dispositivo já recebe carga. “A principal vantagem é que não é necessário combustível fóssil para acionar o veículo, em um momento em que é imperativo se preocupar, cada vez mais, com a sustentabilidade, com a emissão de gases e com a qualidade de vida”, ressalta Marcelo. Conforme o supervisor, somente por essas prerrogativas, os carros elétricos híbridos são a grande tendência do mercado automotivo, em um futuro não muito distante. A Ford disponibiliza o modelo Ford Fusion Hibrid desde 2009. 

Rodrigo explica que a diferença entre o carro elétrico e o carro híbrido está nas fontes de energiaO gerente comercial da Eurobike, Rodrigo Fernandes Conceição, explica que a diferença entre o carro elétrico e o carro híbrido está nas fontes de energia. “O carro híbrido combina dois motores: um elétrico e outro à combustão, que funcionam em conjunto ou separadamente. O nível de emissão de CO2 é baixo, mas existe. O carro elétrico não possui motor à combustão e, por isso, o nível de emissão é zero, trata-se de uma energia limpa e renovável”, argumenta.

A BMW possui dois carros verdes, chamados de veículos da linha i: o BMW i3 Rex Entry, que é 100% elétrico, e o BMW i8, um esportivo híbrido PlugIn, que combina as vantagens de um motor elétrico inovador com as tecnologias dos motores de combustão. Os modelos vêm acompanhados de carregador e podem ser abastecidos em tomadas 110 ou 220 volts. “No i8, a recarga pode ser feita através do motor à combustão, o que o torna um veículo híbrido; já no i3, a recarga pode durar até 3 horas, com a utilização do wallbox”, comenta o gerente comercial.

Por acreditar na tecnologia como tendência para o futuro, a BMW saiu na frente, implantando o dispositivo BMW i Wallbox nos estacionamentos da rede Multiplan, o que favorece a abertura de mercado para modelos elétricos. No entanto, segundo Rodrigo, isso não basta. “É preciso mais iniciativas dos governos federal, estadual e municipal como, por exemplo, a resolução da Câmara do Comércio Exterior (Camex) que, em outubro de 2016, isentou os carros elétricos do imposto de importação”, ressalta o gerente comercial da Eurobike.

A Lexus, marca de luxo da Toyota, apresenta o modelo CT200 Hibrid, movido à combustão com motor auxiliar elétrico,Conforme Luís, a economia de combustível chega a 40% em relação aos carros convencionais composto por uma bateria de níquel e um conversor que transforma a energia cinética em eletricidade. O veículo dispõe de duas fontes de carregamento da bateria: o próprio motor à combustão e os freios autorregenerativos, que realiza o carregamento da carga por meio de um sistema de cabos, tornando o veículo independente de qualquer outra fonte externa de energia. Outro produto disponibilizado pela fábrica, em tecnologia híbrida, é o novo Prius que já está na quarta geração.

Luís Artur Nacarato, gerente comercial da Ontake Toyota, destaca que, além da baixa emissão de CO2, o carro híbrido possui outras vantagens em relação aos demais modelos. “A economia de combustível chega a 40% em relação aos carros convencionais. O veículo também apresenta baixíssimo custo de manutenção, maior durabilidade nas peças, oito anos de garantia no sistema híbrido e é um veículo extremamente silencioso. Em comparação aos carros elétricos, o híbrido dispensa fonte externa de energia”, explica Luís. 

A Toyota acredita que o carro verde é uma tendência para o mercado brasileiro, assim como nos Estados Unidos e na Europa. Por conta disso, a Lexus terá toda a gama de produtos atualizada no sistema híbrido até o final de 2019. “Todos devemos nos preocupar com o meio ambiente atrelado ao custo-benefício. Já existem cidades no Brasil com incentivos de desconto em IPVA e isenção de rodízio, como São Paulo e Rio de Janeiro”, destaca o gerente comercial.
José Carlos está satisfeito com o Lexus CT200h
O oftalmologista José Carlos Zenha adquiriu um Lexus CT200h em agosto. Entre as razões que o levaram a escolher o carro estão as características que o diferenciam dos demais: a combinação do motor à gasolina com o elétrico que, dependendo das condições de condução do veículo, aumenta a economia de combustível e reduz as emissões de gases. “É um carro silencioso e agradável de dirigir. O motor elétrico — de tração — carrega a bateria, que fica sob o banco traseiro e possui tecnologia de última geração, em termos de segurança e  de conforto”, afirma o proprietário.

Medidas de incentivo

Marcos: o RibeirãoShopping conta com sistema de recarga para carros elétricos desde 2015Apesar de ainda não haver grandes iniciativas governamentais capazes de estimular o consumo de carros da linha verde, a sociedade ribeirãopretana começa a incorporar ações que reafirmam a tendência mundial de apostar nos carros elétricos. O RibeiraoShopping foi o primeiro centro de compras a implantar a tecnologia. Conforme Marcos Botelho, gerente de marketing do empreendimento, o sistema de recarga para carros elétricos foi disponibilizado para os clientes desde setembro de 2015. “O equipamento foi fornecido pela BMW com o intuito de ter um ponto de grande visibilidade na cidade para atender aos seus clientes. A demanda é baixa, pois dependemos de políticas públicas voltadas ao uso de veículos elétricos”, ressalta Marcos.

O público aprovou a iniciativa, já que o serviço, além de trazer benefícios ambientais, serve de incentivo ao uso deste tipo de veículo, uma vez que não há ponto de recarga em local de uso público. “Além de trazer benefícios ao meio ambiente, a instalação do ponto de recarga para carros elétricos é uma tendência mundial, principalmente em shopping centers, onde as pessoas podem resolver outras necessidades do dia a dia”, afirma o gerente de marketing do RibeirãoShopping.

A Habiarte também já trabalha pensando no futuro. No empreendimento Cidade de Paris, cada apartamento conta com uma tomada para recarga de carros elétricos, ligada a seu quadro de energia. “A Habiarte acredita que, em um futuro não muito distante, o carro elétrico será uma realidade no país. Tanto que lançamentos da empresa, que deverão ser entregues em três ou quatro anos, contarão com totens para recarga de carros elétricos, como já acontece com condomínios de São Paulo”, comenta Teresa Cristina de Souza Lima, diretora de planejamento da construtora. 

A reação no mercado

Apesar de o mercado do carro verde ser ainda tímido no país, as montadoras estão investindo na tecnologia limpa. Até o Segundo Teresa, os futuros lançamentos da Habiarte terão totens para recarga de carros elétricosfinal deste ano, o Brasil pode ganhar uma fabricante de carros elétricos, a Brave-Brasil. Se tudo correr bem nas negociações, no que tange aos incentivos fiscais, o Mato Grosso do Sul pode sediar, futuramente, uma das fábricas da companhia, que deverá ter uma filial na região fronteiriça com o Paraguai destinada especificamente à produção de baterias para esses veículos.

Sérgio Longen, presidente da Federação das Indústrias do Estado do Mato Grosso do Sul (FIEMS), afirma, ainda, que a empresa pretende investir em fontes de energia renováveis, tornando sua frota mais verde. Para tanto,  a Brave-Brasil está estudando uma parceria com o Instituto Senai de Inovação em Biomassa, no mesmo estado.

A alemã Volkswagen também está apostando em tecnologia mais sustentável: pretende lançar 80 novos modelos elétricos até 2025, e criar uma versão elétrica para os 300 modelos do grupo até 2030. A Fiat segue a mesma linha investindo na produção e testes do seu Pálio Weekend elétrico. Já a Volvo que disponibiliza o XC90, o T8 Hybrid e o e-Tech anuncia que todos os seus veículos lançados a partir de 2019 terão um motor elétrico ou um sistema híbrido. 

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