Reencontro das estrelas

Reencontro das estrelas

Após cancelamento em 2016, o Festival Tanabata está de volta e acontecerá entre os dias 14 e 16 de julho, no Morro do São Bento

Mesmo sendo evidente, o amor do ribeirãopretano pelo Festival Tanabata foi Festival Tanabata volta graças à captação de recursos via Proacposto à prova no último ano. Após o anúncio do cancelamento da edição de 2016, a cidade foi tomada por uma grande mobilização popular pela volta do festejo. Uniram-se nessa luta a Prefeitura, representada pela Secretaria Municipal da Cultura, a Câmara dos Vereadores, a iniciativa privada e a população, por meio das redes sociais. O resultado não poderia ser outro.

A movimentação pelo retorno teve início em uma reunião, no Palácio Rio Branco, em fevereiro deste ano. Na ocasião, o prefeito Duarte Nogueira (PSDB) recebeu o presidente do Festival, Teruo Abe, o presidente da Associação Nipo Brasileira de Ribeirão Preto, Hazime Nakamura, e o presidente da Associação Cultural Japonesa de Ribeirão Preto, Sadao Sakai, para acertar os primeiros detalhes do retorno do Tanabata.  Na mesma reunião Abe sugeriu ao chefe do Executivo auxílio para que o Festival fosse inserido no calendário cultural do município.

A reunião gerou frutos, pois, pouco mais de um mês após o encontro, o Projeto de lei de Maraca transformou o evento em patrimônio imaterial cultural ribeirãopretanovereador Alessandro Maraca (PMDB) enviou para votação o projeto de lei nº 13.962, que tornava o Festival patrimônio cultural imaterial do povo ribeirãopretano. A proposta foi sancionada pelo Executivo no dia 23 de março. “A intenção é fortalecer o Tanabata para que ele possa voltar a acontecer normalmente. Dessa forma, o evento passa a patrimônio cultural de Ribeirão Preto e ganha a chancela governamental para sua execução”, comenta Maraca.

O 23º Festival Tanabata acontece nos dias 14, 15 e 16 de julho, no Morro do São Bento. A cerimônia de abertura está marcada para as 19h da sexta-feira, 14, e a última agenda está prevista para 22h do domingo, 16. Ao todo, serão mais de 100 atrações.

Cancelamento e Proac

A agitação da sociedade para o retorno do evento começou logo após o cancelamento, em 2016. Até então, o Tanabata recebia um aporte da Prefeitura de R$ 50 mil, complementado por patrocínios obtidos através do Programa de Ação Cultural do Governo do Estado (Proac), provenientes do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). Por diversos motivos, incluindo a crise econômica, em 2016, o valor pretendido com o Programa não foi alcançado.

Cultura japonesa tem espaço garantido em cada canto do FestivalO Proac ICMS funciona por meio de incentivos fiscais. Os organizadores enviam o projeto do evento, que deve ser aprovado previamente pela Secretaria de Estado da Cultura. Depois disso, é dada a autorização para captar patrocínio junto a empresas que, a posteriori, poderão descontar o valor desse investimento do ICMS devido. O recurso necessário para a realização do evento é de R$ 300 mil.

Para tentar esclarecer a polêmica, Abe explica que não existiu um culpado para o cancelamento. “Ficou parecendo que a culpa era da Prefeitura, mas não era. Na verdade, houve um problema de captação no Proac. Mesmo sabendo disso, ficou uma impressão ruim sobre o evento. Por isso, estamos trabalhando duro este ano para dar o nosso melhor e oferecer um ótimo entretenimento”, esclarece.

Sobre possíveis riscos de cancelamento ou incertezas para 2017, a Prefeitura é categórica. “Não há nenhuma possibilidade de que o Festival seja cancelado este ano. Todas as atrações dos dois palcos e das oficinas, assim como fornecedores e prestadores de serviço, já foram contratados. Além disso, a adesão dos expositores foi um sucesso, assim como a preparação do cardápio gastronômico”, afirma.

Sem prejuízos

Ao tornar o Tanabata patrimônio cultural imaterial de Ribeirão Preto, os investidores tiveram mais segurança para anunciar e patrocinar o evento, detalhe que veio em boa hora. Em tempos de austeridade por parte da administração pública, a Secretaria da Cultura sofreu cortes no orçamento, assim como as demais pastas. Isso deixou o órgão impossibilitado de auxiliar eventos culturais já tradicionais da cidade, como o Carnaval de Rua, Parada do Orgulho LGBT e o próprio Festival Tanabata. 

O problema com falta de verba foi sanado com uma boa captação de recursos. “Pela primeira vez, o Tanabata será realizado sem recursos da Prefeitura. Toda a verba para a realização do evento foi captada via Proac. Dessa forma, os próximos eventos poderão ser organizados sem prejuízo aos cofres públicos. Contudo, o munícipio ainda tem a liberdade de investir alguma quantia, caso necessário”, comemora Maraca.

O poder público ainda se prontificou a ajudar com a logística. “Sabemos que a Prefeitura não tem dinheiro neste ano, mas eles vêm nos ajudando com tudo que podem; Transerp, Guarda Civil Municipal e Daerp nos dão todo o suporte”, pondera Abe. 

Expectativa

Abe destaca o trabalho para recuperar o festivalNa última edição, em 2015, a organização do Festival estimou um público de 55 mil a 65 mil pessoas. Para 2017, são esperados 65 mil visitantes.

Assim como nos outros anos, serão mantidos dois palcos: um tradicional para as atrações clássicas, como taikô (tambores japoneses), artes marciais e musicais, e o palco jovem, onde a cultura pop japonesa será a principal atração, com apresentações de dança e cosplay (fantasias).

As oficinas também estão confirmadas para este ano. Nelas, os participantes aprenderão desde como desenhar mangás (histórias em quadrinho japonesas) e fazer origamis até a como cuidar de um bonsai e preparar pratos da culinária oriental.

Além disso, o Tanabata conta com as tradicionais tendas com diversos pratos típicos, karaokê, bon odori, torneio de card games, espaço para jogos eletrônicos, desfile de moda, pipamodelismo, workshops e muito mais.

A lenda e a tradição?

O Tanabata Matsuri (Festa das Estrelas) teve sua origem em uma lenda chinesa de 4 mil anos atrás. Posteriormente, foi adaptada à cultura japonesa, há aproximadamente 1.300 anos, e tem um feriado no calendário oficial do país desde o século XVII. No entanto, como em toda lenda, existem pequenas discrepâncias entre uma versão e outra, mas todas partem de um mesmo pressuposto: uma história de amor. 

Público terá a oportunidade de conhecer um pouco mais sobre a cultura orientalDiz a lenda que quando o Universo ainda era jovem, o grande imperador Tenkou-Sama (Senhor Celestial) tinha uma filha, a princesa Orihime. A jovem, conhecida como a “Princesa Tecelã”, foi incumbida da tarefa de, ao lado de seu pai, tecer as estrelas e o firmamento.

Porém, certo dia, a princesa se apaixonou perdidamente por um rapaz humilde chamado Kengyu, começando a passar a maior parte do seu dia ao lado dele.  O imperador, já impaciente com os sumiços da filha e por ela se esquecer das suas obrigações, foi procurá-la.

Quando descobriu que a filha havia deixado tudo de lado em nome do amor, Tenkou-Sama resolveu separar o casal e criou um enorme rio entre eles. Esse rio é conhecido como Amanogawa (Via-Láctea).

Entretanto, vendo o sofrimento de Orihime pela distância do amado, o imperador permitiu que os amantes se vissem uma vez por ano. Dessa forma, na sétima noite, do sétimo mês do calendário lunar, a princesa e o seu amado podem se encontrar. No ocidente, as estrelas Orihime e Kengyu receberam o nome de Vega e Altair, respectivamente.

Para comemorar a data, o Morro do São Bento é decorado com enfeites típicos que imitam grandes estrelas (kussudamas) presas a galhos de bambu formando túneis. Os visitantes que passeiam debaixo dos enfeites escrevem desejos em tiras de papéis coloridos (tanzaku). A lenda garante que todos os desejos escritos nos papéis serão atendidos no momento mágico do encontro entre Orihime e Kengyu.

Texto: Paulo Apolinário

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