Curiosidade é fundamental

Curiosidade é fundamental

Dar espaço aos sentidos e ter prazer em experimentar: essas são algumas das características que um enófilo precisa ter para apreciar um bom vinho

Para degustar um bom vinho é necessário estar atento à visão, ao olfato e ao paladar Diante de uma prateleira com uma infinidade de rótulos nacionais e importados, não é fácil selecionar o melhor para cada ocasião. Uva, marca, produção: tudo deve ser levado em conta nessa missão, que pode se tornar cada vez mais simples. Para ser um apreciador de bons vinhos, é preciso, antes de mais nada, ter a mente aberta. “Muitas pessoas se privam de experimentar rótulos novos por terem uma espécie de preconceito em relação à uva ou ao estilo do mesmo. Outros não provam uma uva específica porque, um dia, tiveram uma decepção com um rótulo específico”, pontua o sommelier Gleison Trevisol, da Mercovino.

Segundo o especialista, a degustação deve começar pela pesquisa sobre os vinhos: conhecer a safra, a variedade das uvas e os estilos de cada produtor são um bom caminho. Gleison também recomenda pesquisar a melhor época para abrir o vinho. Alguns rótulos duram pouco tempo e outros carecem de mais guarda. A temperatura para servir esta ou aquela bebida também impacta diretamente no sabor de um vinho. “É importante, ainda, relacionar ao local e clima da ocasião. Almoços, por exemplo, pedem vinhos mais leves e fáceis. Noites, geralmente, combinam com vinhos encorpados”, sugere Gleison. 

O sommelier acrescenta que na hora de degustar um vinho, toda atenção é bem-vinda. Vale analisar as qualidades através dos variados sentidos: visão, olfato e paladar. “Esse cuidado permite formar uma memória de aromas e de sabores que serão úteis em futuras compras do vinho”, ensina o especialista. 

Outros detalhes também podem ser importantes no momento da degustação. Na hora de experimentar vinhos tintos, o ideal é servir primeiro os vinhos de teor alcoólico inferior, como os das uvas Pinot Noir e Grenaches, guardando para o final as bebidas com graduação alcoólica mais elevada. Se entre as bebidas houver um vinho ícone, comece a experiência por ele e guarde os rótulos mais simples para depois. “Agora, se a degustação envolve vinhos brancos ou espumantes, eles devem ser servidos primeiro. É uma experiência única”, explica Gleison. 

Confraria

“Por se tratar de uma terra com rica diversidade de vinhos, diferentes tipos de solo e variedade de uvas nativas, os colonizadores gregos chamaram a Itália de Oenotria, ‘a terra do vinho’. A longa cadeia de montanhas, indo dos Alpes ao Sul do país, apresenta combinações desejáveis de altitude e latitude. No Norte, a Soave coabita com a Valpolicella, responsável pelos famosos rótulos Recioto e Amarone — o primeiro é doce e o segundo, seco e amargo, resultado da combinação de algumas uvas: a Rondinella, a Corvina e a relativamente ácida Molinara, criando o clímax do vinho Veronese. Ao nordeste, no Piemonte, o Barbaresco é um bom exemplo da uva Nebbiolo, mas o Barolo é superior. Outra região fantástica é Maremma, chamada de ‘costa dourada da Toscana’, onde, na década de 1940, o marquês Incisa della Rocchetta plantou uvas Cabernet Sauvignon e Merlot para produzir vinhos como os de Médoc —inicialmente, isso o fazia ser considerado rebelde, uma vez que adotava castas de uvas estrangeiras, não aceitas na região. Todavia, quando os primeiros vinhos do marquês perderam o tanino, revelaram sabores nunca vistos na Itália. Seus sobrinhos, Piero e Ludovico Antinori, seguiram a linha e, em 1968, começaram a envasar e comercializar o fabuloso Sassicaia. Outros produtores passaram a usar cepas estrangeiras, associadas ou não às regionais, criando os supertoscanos com a denominação IGT. Também na Toscana, na região Meridional, na tradicional Montalcino, a família Clemente Santi estabeleceu uma seleção de clones de uva Sangiovese para produzir o famoso Brunello. Ainda na Itália Meridional, a uva Aglianico, com sua casca escura, produz vinhos poderosos e densos; mais ao sul, as variedades Negroamaro, Primitivo, Malvasia Nera, nas mãos de grandes enólogos, podem atingir notas voluptuosas. Assim, a medida que os anos passam, na companhia dos amigos, os vinhos ficam melhores.” Sérgio Borges Ferreira, médico.

Um bom vinho precisa de...
Por Gleison Trevisol


Equilíbrio: que vem da harmonia entre acidez, extrato de fruta, teor alcoólico (corpo), taninos (estrutura).
Persistência: a duração que o sabor do vinho permanece na boca após a deglutição.
Complexidade: geralmente, os melhores vinhos têm um amplo leque de aromas e de sabores, tornando-se um vinho mais interessante.

Vale a pena

Sassicaia, 2011: classificado como supertoscano, esse vinho é um ícone. Possui aromas de frutas vermelhas, groselhas e cassis, além de uma estrutura de madeira bem integrada, com notas de cedro, baunilha e tabaco.

Barbaresco Rivetto: um vinho de coloração vermelho rubi, com um aroma leve e elegante, notas defumadas de amora e mirtilo. Na boca, é rico com taninos aveludados e acidez correta.

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