Mistério e surpresa

Mistério e surpresa

Rui Flávio Chúfalo Guião - Diretor do Grupo Santa Emília

Rui Flávio Chúfalo Guião - Diretor do Grupo Santa Emília

O que me encanta nos vinhos são mistério e surpresa. Quando você abre uma garrafa, nunca sabe com antecedência o que vai encontrar lá dentro. Daí o ritual que nós, enófilos, adotamos. O despejar do líquido, o prazer da cor descendo pela taça, o perfume com o líquido ainda parado, o leve chacoalhar, o novo aroma e, finalmente, o primeiro contato com o néctar. Quer você esteja bebendo o vinho pela primeira vez ou repetindo-o, há sempre um suspense, pois ele é caprichoso, faz-se oculto, expõe-se aos poucos. 

Não há dois vinhos iguais, mesmo sendo da mesma uva ou do mesmo produtor. Cada garrafa é única. É este mistério, a expectativa do que se vai encontrar, que nos impulsiona para novas garrafas. Mesmo depois de tantas experiências, você ainda é surpreendido por uma nova uva ou por um blend mais moderno.

Dentre as mais de sete mil vinhas, umas 300 dão vinhos palatáveis, entre as quais apenas cerca de 30 são mais usadas pela indústria vinífera. Sempre nos surpreendemos com videiras autóctones, pequenas preciosidades locais de alguns países, que, de repente, nos fornecem um vinho com sabores totalmente novos. Recentemente, ganhei um vinho de uva Lacrima di Morro d’Alba, da região do Marche, na Itália, que não conhecia: foi uma explosão de sabores, frutas de vários matizes, uma satisfação só. 

Esta alegria você encontra tanto no vinho tinto quanto no branco. O clima de nossa cidade é bastante propício para uma taça de um bom vinho branco. Há uvas belíssimas, suaves, marcantes, como a Viognier, minha preferida. Recentemente, na Argentina, abri uma garrafa de um vinho feito pelo Catena, um blend de Sauvignon blanc, Gewurztraminer e Viognier. Três uvas frutadas, secas, mas tão equilibradas que marcaram a garrafa.

Outro dia, perguntaram-me qual vinho eu considerava o melhor. Minha resposta: o próximo. É tão vasta a gama de produtos, tão diferentes os sabores, os aromas e as cores, que guardo com carinho as minhas experiências, mas estou sempre à procura de algo novo, mesmo garimpando outra vez os velhos amigos. Tenho um grande defeito, que precisa ser reparado: não me seduzem os vinhos rosés.

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