Os vinhos do vizinho

Os vinhos do vizinho

Bebidas marcantes e persistentes são protagonistas nas vinícolas e adegas argentinas

O vinho faz parte do DNA argentino. No universo da bebida, o país vizinho sempre foi produtor e consumidor de destaque. Em 1983, a Argentina era a quinta maior produtora do mundo, com quase 25 milhões de hectolitros engarrafados, atrás apenas de Itália, França, Espanha e ex-União Soviética. 

Sávio Hedley Falqueto Miranda, sommelier da Rede Savegnago, destaca que, para atingir este posto, o país precisou passar por um profundo processo de compreensão do próprio terroir. A produção vinícola naquele país começou em meados de 1551, influenciada pelos ritos religiosos da igreja católica. “Centenas de anos se passaram e, por volta dos anos 80, com muito investimento em novas tecnologias e na qualificação de toda a cadeia produtiva, o vinho argentino ganhou notoriedade e reconhecimento pelo mundo”, explica.

A Argentina possui uma vasta área produtora. Entre elas, merecem destaque a região de Salta por reunir as vinhas mais altas; de Mendoza, considerada a principal produtora; e de Rio Negro, na Patagônia. “Essas três regiões combinam altitude, estações bem definidas, solo ricamente mineralizado e água proveniente do degelo da grande Cordilheira dos Andes, resultando num sistema único de produção”, pontua o sommelier.

Uma das principais uvas produzidas na Argentina é a Malbec, seguida das castas Bonarda, Syrah, Pinot Noir, Cabernet Sauvignon, Torrontes e Viognier. “As castas argentinas têm personalidade marcante, persistência no paladar e um aroma inconfundível”, destaca Sávio. 

Alguns especialistas brincam com a rivalidade entre Brasil e Argentina, mas Sávio acredita que, no mundo dos vinhos, essa “briga” não existe. “A Argentina consome cerca de 23,7 litros da bebida per capita ano, enquanto, no Brasil, esse consumo é de 3,8 litros. Diante disso, dá para concluir que o vinho é uma iguaria constante nas mesas dos ‘hermanos’, enquanto os brasileiros ainda estão aprendendo a apreciar a bebida”, finaliza. 

Dica do especialista

“Para quem procura um vinho fácil de degustar, o Trivento Reserve Malbec e o Altos Del Plata Malbec são ótimas opções. O primeiro é um vinho tinto argentino balanceado, com coloração rubi brilhante, que harmoniza muito bem com carnes de caça. Já o Altos Del Plata reúne aromas de frutas vermelhas maduras, como a ameixa, e notas de especiarias picantes, combinando perfeitamente com massas e bisteca.” Sávio Hedley Falqueto Miranda, sommelier.



Confraria

“Sempre apreciei a bebida, mas meu verdadeiro envolvimento começou depois de um curso básico de vinhos e harmonização, em 2013. A partir daí, fiz amigos com o mesmo interesse, participei de confrarias e hoje faço parte de um grupo que se reúne, ao menos, uma vez por mês para compartilhar brindes e experiências. Entre as melhores oportunidades que tive, destacaria a chance de degustar alguns rótulos antigos, especialmente da safra de 1983, ano do meu nascimento. No meu último aniversário, por exemplo, provei um Saint-Joseph 1983, da região do Vale do Rhône, na França, uma experiência marcante. Atualmente, tenho apreciado muito as bebidas com uvas Pinot Noir, principalmente do Velho Mundo (França), mas a Nebbiolo sempre me encantou, com seus Barolos e Barbarescos.” Leonardo Tonin, analista processual do Ministério Público da União (MPU).



Região produtora

A Alsácia, no nordeste francês, é uma das regiões de destaque do universo vinícola graças às uvas brancas, que produzem vinhos que vão dos secos aos doces.



Vale a pena

“Sempre procuro variar e não me limitar aos mesmos rótulos de vinhos, mas um Barbaresco, da uva Nebbiolo, do produtor Piero Busso, na Itália, assim como os Pinot Noir franceses da Alsácia, produzidos pela Hugel & Fils, e da Borgonha, das produtoras Clotilde Davenne e Philippe Pacalet, são rótulos que eu recomendo sem hesitar”, lista Leonardo. 

1-Domaine Albert Mann: reúne aromas de frutas cítricas com caroço maduras, envolto por notas florais. O destaque é o equilíbrio entre acidez e doçura, com um final persistente.

2-Davenne Bourgogne Rouge: este tinto tem bela coloração vermelha rubi e aroma que evidencia notas frutadas. No paladar, é encorpado e possui boa estrutura, de acidez fraca e taninos maduros.

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