Sabores catalogados

Sabores catalogados

Uma história de vidas passadas: é assim que a sommelier Bia Amorim descreve sua relação com as cervejas artesanais

Desde a primeira vez que tomou uma cerveja artesanal com atenção, Bia Amorim soube que percorreria um caminho complexo  para desvendar os mistérios da bebida. A sommelier vem se especializando no assunto há apenas oito anos — antes, dedicava-se aos vinhos, um mundo paralelo, mas com experiências semelhantes a serem vivenciadas. Para a profissional, a cerveja sempre foi sinal de amigos reunidos, papo solto e experiência sensorial, e, de repente, a bebida virou trabalho. 

Bia já provou muitos rótulos, mas não consegue estimar a quantos sabores já submeteu seu paladar, mas acredita que foi em concursos especializados que encontrou as opções mais diferentes. “Cerveja com pepino é uma delas — e eu gostei do sabor, por mais curioso que possa parecer. A mais alcoólica do mundo, que tomei em 2011, vinha dentro de um bicho empalhado. Teve garrafas antigas e com grossas camadas de poeira. Provei bebidas feitas por monges, cerveja com jatobá e também gostei”, lembra a sommelier. 

Garrafas, latas, bolachas, tampas, rótulos, crachás são alguns dos objetos que a sommelier coleciona

Para Bia, a cerveja é pura ciência e gastronomia. Cada vez que lê um artigo, recebe um texto, compra um livro, escuta um amigo, bebe uma cerveja e aprende algo novo. “Mudo de estilo conforme a estação. Acompanho neste momento, junto ao mercado, a ‘febre’ de cervejas mais ácidas. Muitas discussões acaloradas sobre a refrescante Catharina Sour. Todo dia surge uma cerveja nova, uma fruta diferente, um papo sobre técnicas na fabricação. Acho que a moda cervejeira precisa ser o que tem no tanque, que vai para o barril, mais do que o que está na garrafa ou na lata”, acrescenta. “Cada coisa conta uma história diferente e a ajuda a catalogar os sabores dentro da mente”, Bia Amorim

A sommelier explica que estão em alta bebidas frescas, todavia, isso não quer dizer que os clássicos  não são bem-vindos. “Todo mundo sabe que alguns rótulos nunca saem de moda. Não faz sentido, por exemplo, viver sem as cervejas lupuladas e as mais maltadas. Em dias mais frios, costumo priorizar estilos mais alcoólicos. Minha preferência é pela cerveja boa, que caiba no bolso”, salienta. 

Além de colecionar sabores e viagens cervejeiras, Bia também tem mania de guardar suas lembranças em forma de itens colecionáveis. Ao longo dos anos, foi juntando copos de cerveja, taças, pints, canecas, copos de geleia ou de cristal, até de fábricas de cervejas que não existem mais. “Growlers de vários tamanhos que ganhei, abridores do mundo todo, rótulos de cervejas que bebi ou que peguei em um festival. Bolachas? De todos os tipos e tamanhos. Tampinhas que fiquei com dó de jogar fora e se juntam na caixinha de madeira daquela cerveja maravilhosa de anos atrás”, apresenta. 

A coleção não para por aí. A sommelier ainda junta incontáveis adesivos que pegou no evento em Nashville e uma bandeira de Blumenau, além de latas vazias que parecem quadros. Cada coisa conta uma história diferente e a ajuda a catalogar os sabores dentro da mente. 

Com experiência na área, Bia tem algumas sugestões para quem está começando no universo cervejeiro, com rótulos que tenham aromas mais florais e cítricos ou então aromas com notas de chocolate e café. “Pensando nisso, a cor não importa muito, o fundamental é estar no meio termo de tudo. Nem muito amarga, nem muito doce; nem muito ácida, nem muito seca. Estilos como Witbier, Helles, Weiss, Marzen, Vienna Lager, Schwarzbier, Pale Ale (não as que puxam para americanas), Dry Stout e Brown Porter são estilos legais para conhecer de primeira”, sugere.  

Cervejas que você precisa experimentar

1. Uma da escola cervejeira belga. Uma Saison que seja clássica o suficiente para ter todas as possibilidades de aromas de uma boa cerveja Ale e textura macia como uma excelente cerveja com toque de trigo. Dá para saber que existe levedura com algumas notas que esta cerveja vai trazer.

2. Uma da escola alemã. Uma Lager bem-feita, seja Dunkel, Pilsner ou Doppelbock. Secura na medida. Um “cheiro” de lúpulo. Amargor ali sem interromper o paladar. Chama sempre o próximo gole.

3. Uma cerveja da escola inglesa com toque da americana. Boa base maltada com aquele toque de coragem. O amargor vai mudar o paladar. O lúpulo ajuda a entender outras facetas do gosto amargo. Até o café fica diferente quando o lúpulo toma conta. Aprenda entre cítricos, herbais e até florais desta flor que pouco conhecemos por aqui. American Pale Ale, boas IPAs e suas divertidas variações vão divertir no copo. 

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