Sempre em boa companhia

Sempre em boa companhia

Por reunirem pessoas com, pelo menos, um interesse em comum — os vinhos —, as confrarias vêm ganhando cada vez mais adeptos

“As confrarias conquistaram os ribeirãopretanos com reuniões entre pessoas com interesses comuns”, comenta TatianaAos poucos, os enófilos vão chegando, cada qual com sua garrafa. Assim que os lugares são organizados, os vinhos são abertos. Assim começa um saboroso ritual, que irá terminar na degustação de cada rótulo compartilhado. Entre texturas, aromas e sabores, os apreciadores de vinho apresentam suas opiniões e aprendem mais sobre a bebida uns com os outros.

A confraria é uma reunião de amigos que objetivam degustar bons vinhos. Atualmente, esses grupos agregam pessoas interessadas em saber mais sobre a bebida e provar novos rótulos. Para os especialistas, as confrarias dão a identidade a um determinado grupo, disposto a produzir, preservar e difundir saberes. “Uma das principais funções de uma confraria é a troca de opiniões e de conhecimento. Em Ribeirão Preto, há grupos formados apenas por homens, por casais ou somente por mulheres, como o organizado pela Grand Cru todos os sábados”, apresenta Tatiana Arruda, coordenadora da Grand Cru.

Esse tipo de reunião começou a ganhar força da França, no início do século XX, e não demorou para se espalhar pelo mundo. No Brasil, o boom aconteceu nos anos de 1980. O poder de agregar as pessoas em torno dos vinhos coincide com a luta contra a banalização desse mercado. 

Para o sommelier, Marco Antônio Tegano, do Museu da Gula, os apreciadores de vinhos têm nas confrarias uma possibilidade de ampliar os conhecimentos sobre a bebida. “Através desses encontros, é possível expandir e partilhar o nosso conhecimento sobre vinhos. Temos a oportunidade de tomar diversos rótulos diferentes ao mesmo tempo, lado a lado, comparando-os diretamente, e estudar novas possibilidades”, pontua o sommelier. 

Monte uma confraria

1- Reúna os amigos que gostam da bebida e que têm interesse em conhecer mais sobre vinhos.
2- Cheguem a um consenso sobre a periodicidade e estabeleça uma data fixa para os encontros.
3- Escolha o local para realizar o encontro ou faça um rodízio na casa dos confrades participantes, mas não se esqueça de verificar se há necessidade de levar taças adicionais.
4- Caso opte por marcar em um restaurante, verifique se a casa cobra pela rolha e se possui taças adequadas, baldes de gelo, etc.
5- Escolha sempre um tema — por exemplo, um país ou uma uva  e cada confrade leva um rótulo correspondente.
6- Anote, faça o seu legado de degustação. Registre nome do vinho, safra, produtor, país, tire fotos, enfim, crie um acervo pessoal.
7- Torne esse hábito um prazer, aquele tipo de evento que o faz aguardar com ansiedade pelo próximo.

Confraria na prática 

Há 15 anos em Ribeirão Preto, a Confraria dos Amigos do Vinho e da Enologia (CAVA) reúne um pequeno e coeso grupo de amigos para degustar e dividir experiências sobre vinhos. “A CAVE é um grupo de apreciadores do vinho que há algum tempo vinha sentindo a necessidade de se constituir uma confraria para degustações, trocas de ideias e novos conhecimentos. Com a ajuda de André Maculan, que, na época, abriu uma filial da World Wine em Ribeirão Preto, iniciamos os nossos encontros”, lembra Rui Flávio Chúfalo Guião, um dos fundadores da confraria. 

As reuniões acontecem a cada 15 dias, sempre às terças-feiras. Cada confrade banca um jantar, realizado em um restaurante ou local semelhante. “Além disso, temos férias em janeiro e julho. No retorno, fazemos uma degustação às cegas onde cada confrade traz uma garrafa embrulhada e tentamos adivinhar qual é o vinho”, comenta Rui. 

As confrarias sempre começam com um espumante. Depois, são servidos outros cinco vinhos, sendo um branco e quatro tintos. “A escolha dos rótulos é feita pelo Prior da Confraria. Neste ano, o Rodrigo Costa divide este trabalho com Gilberto Maggioni Filho. Cada um dos presentes faz seus comentários e deixa um pouco de vinho para análise final quando, então, são dadas as notas”, explica o fundador.  Como o encontro acontece há anos, a qualidade dos vinhos degustados vem aumentando gradativamente”, revela o empresário.

Vale a pena

1- Château de JAD, 2014: o merlot adquiriu uma perfeita maturação e equilíbrio, no nariz, destacam-se notas de frutas vermelhas com toques de pimenta-branca. Na boca, é de intensidade média, fresca e redonda.

2- Elgin Vintners Agama, 2009: um vinho de grande classe, com bom volume e textura, que se alongam na passagem pela boca; o destaque fica pelo profundo vermelho-cereja, que mantém alguns tons roxos intensos. 

3- Les Ailes de Berliquet, 2011: a uva foi selecionada cacho por cacho, antes de ser suavemente desengaçada; o resultado é um vinho intenso, coberto e brilhante, que se destaca pela elegância no nariz.

4- Château Saint Louis Vieux Galvesse, 2011: esse vinho na taça, assim que é oxigenado, parece uma fruta madura com elegantes especiarias e fundo fenólico. Sua boca equilibrada traz taninos marcados, mas que apontam boa estrutura.


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