Vinícola própria

Vinícola própria

Para os enófilos, produzir os próprios vinhos, independentemente do retorno financeiro, é dar vida a uma paixão

Quem se aventura pelo mundo dos vinhos logo se encanta. É impossível não se apaixonar por uma bebida que, além de aguçar os sentidos, está impregnada por uma cultura riquíssima. O caminho natural do enófilo passa de degustador para um consumidor frequente, chegando ao passo de colecionador e, para os mais fascinados, produtor de vinhos. 

Para o sommelier Gleison Trevisol, da Mercovino, o clima diversificado, o gosto particular e a facilidade para se comunicar são algumas das características que fazem do Brasil um país apropriado para receber pequenas vinícolas. “Os vinhos são como as pessoas: cada garrafa contém uma personalidade e um propósito. Sendo assim, a diversidade brasileira é um fator que contribui para encorajar quem deseja produzir um rótulo”, avalia o especialista.

Segundo Gleison, ter uma vinícola significa muito trabalho, dedicação, experiência e investimento. Antes de mais nada, é importante analisar o terroir da região onde se pretende produzir as uvas: altitude, inclinação, incidência solar, amplitude térmica, composição e drenagem do solo estão entre os itens a serem avaliados. “Todas essas variáveis precisam ser levadas em conta na hora de escolher a uva ideal para cultivo, pois muitas variedades não são apropriadas para determinados tipos de solo ou para certo regime de chuvas”, comenta o sommelier. 

Além disso, é preciso definir o estilo de vinho que será produzido: se mais amadeirado ou fresco, leve ou encorpado — nunca sem deixar de considerar que cada safra tem sua individualidade. Ter cuidado com a hora ideal para a colheita e pensar em um público-alvo também são questões relevantes a estudar antes de lançar um rótulo. “Vale a pena se preocupar com qualidade, antes da quantidade”, acrescenta Gleison. 

Atualmente, a área de produção vitivinícola no Brasil é de 82 mil hectares e tem como principais regiões produtoras Serra Gaúcha, Campanha Gaúcha, Serra do Sudeste, Santa Catarina e Vale do São Francisco, que possuem pequenas propriedades (média de 2 hectares por família). “Algumas regiões do Sudeste com boa altitude e drenagem do solo, como Espírito Santo do Pinhal, também é ideal para o cultivo de castas”, garante o sommelier. 

Dica do sommelier

“O Guaspari Syrah é cultivado em Espírito Santo do Pinhal, na vinícola Guaspari. Trata-se de um vinho encorpado com boa acidez. Possui cor forte e aromas marcantes, com amoras e mirtilos, notas de café e pimenta preta. Também contém taninos robustos e apresenta equilíbrio. O detalhe fica por conta da maturação de 20 meses em barricas de carvalho francês”. Gleison Trevisol



Confraria

“Sempre fui apreciador de vinhos, todavia, o divisor de águas foi o convite recebido, em 2006, do amigo e chef Liu Wen para ingressar na Confraria dos Amigos do Vinho e da Enofilia (CAVE). Dali em diante, passei a conviver com pessoas que entendem do assunto. No início de 2016, juntamente com três grandes amigos sonhadores e apaixonados, resolvi empreender. Iniciamos a pequena e artesanal produção do Allegro, em Lajeado, no Rio Grande do Sul, com as uvas Merlot e Cabernet Sauvignon. Já na safra 2017, ousamos um pouco mais e, além dessas uvas, estão em fase de maturação e estabilização Pinot Noir, Cabernet Franc e Malbec, que passarão por estágio em barriga de carvalho francês. Os vinhos produzidos não são comerciais, mas considerados de autor ou garagem. A cada safra, fica o desafio de fazer melhor, de agregar conhecimentos adquiridos com a experiência e, especialmente, de promover momentos inesquecíveis. Entre essas ocasiões, destaco a viagem da CAVE ao Napa Valey, na Califórnia, Estados Unidos, onde visitamos lindas vinícolas e degustamos ótimos vinhos. Nossas reuniões quinzenais também são excelentes oportunidades para trocar boas experiências. Sandro Sousa, empresário.



Produto próprio

A produção do Allegro iniciou com as uvas Merlot e Cabernet Sauvignon. Na safra deste ano, estão em fase de maturação e estabilização Pinot Noir, Cabernet Franc e Malbec.



Vale a pena

1-Château Angelus, 2012: foi reconhecido como Premier Grand Cru Classe A de Saint-Émilion, em 2012, pela excepcional qualidade.

2-Châteauneuf Du Pape, 2010: um vinho maduro, doce e fresco, com camadas de cerejas e framboesas, resultando em uma bebida equilibrada e rica.

Compartilhar: