
Ano novo com velhas preocupações
2015, pelo menos na economia – crescimento, inflação, juros -, será parecido com 2014, apontam especialistas do mercado, com a diferença de esperança aumentada no final do período
“De acordo com os dados apresentados, percebe-se que os indicares não são otimistas para o País, e são ainda piores para o estado paulista e para a região de Ribeirão Preto. A forte base no setor industrial ajuda a explicar o fraco desempenho nas duas últimas regiões, enquanto que a dependência do setor sucroalcooleiro explica a relativa pior situação econômica na última (cidade) em relação à primeira (região)”.
O texto acima é o início de uma análise publicada no Boletim Conjuntura Regional, da Fundace, elaborado sob a coordenação do professor Luciano Nakabashi, da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA), da USP de Ribeirão Preto. Os números são de novembro, mas as preocupações com o fraco desempenho econômico estão renovadas. O boletim analisa unicamente o mercado de trabalho dos últimos anos, mas há percepção de estagnação dos salários.
“O ano que está terminando mostrou um desempenho fraco, com trajetória descendente. Colaboraram para isso alguns efeitos externos, mas foram vários os erros cometidos pela equipe econômica. Por isso a tendência de deterioração”, afirma o professor.
Nakabashi comenta que o que dá esperança é a mudança na equipe econômica, principalmente com Joaquim Levy na Fazenda. “É um nome impecável. Uma pessoa competente, mas precisará de liberdade para agir. Entre os ajustes necessários estão a redução de subsídios e de crédito, com aumento de juros, para controlar a inflação. Mas também será necessário reduzir gastos”, aponta.
O professor comenta que o ajuste é, sim, recessivo, mas necessário. Ainda assim, ele acredita que 2015 será muito parecido com 2014. A diferença é que o País chegará no final do ano com expectativa ascendente. Bons frutos mesmo só em meados de 2016.
Opiniões parecidasE Luciano Nakabashi não é um analista solitário em suas opiniões. “O ano de 2015 deve ser similar ao de 2014: crescimento do PIB inferior a 1% no ano; inflação ao redor de 6,5% ao ano. A taxa de câmbio já apresentou, neste fim de ano, desvalorização, que poderá ser acentuada em 2015, promovendo um processo de substituição de importações, com maior crescimento do setor industrial. A redução do preço das commodities poderá significar retração do crescimento do PIB agropecuário. A queda do preço internacional do petróleo irá provocar crises financeiras na Rússia, Irã e Venezuela, causando problemas aos exportadores brasileiros para esses países. Enfim, será um ano de grandes desafios econômicos”. Esta é a opinião do também professor da FEA/RP Alberto Borges Matias.
Para ele, o governo precisará reduzir as taxas de juros e fomentar os investimentos, principalmente nas pequenas e médias empresas do país. E há necessidade de equilibrar escândalos com retomada econômica.
“Com a situação emergente dos recentes casos de corrupção, tenderá a haver um bloqueio da atividade política do país. Desta forma, investimentos públicos devem ser retraídos. O Brasil precisa da definição de um projeto estratégico público - de um planejamento de longo prazo (50 anos) - no qual estariam conjugados os planos de governo”, aponta“O exercício de 2015 será uma sequência de 2014, do ponto de vista econômico. Os equívocos cometidos no corrente ano são sementes que, germinadas, farão a sociedade brasileira colher dificuldades em 2015. E muitas dificuldades. Estas dificuldades estarão presentes na política de controle de preços, no mercado de empregos, nos investimentos privados e na expansão do PIB. Que será pífio”.
Apesar de muito parecida com a anterior, a opinião acima é de outro especialista; Vicente Golfeto, diretor do Instituto de Economia Maurílio Biagi, da Associação Comercial e Industrial de Ribeirão Preto (Acirp). Para ele, uma das principais medidas para o País voltar a crescer é a restauração do equilíbrio orçamentário do governo. “Depois – somente depois – acelerar-se a economia. Para que o PIB se expanda é preciso, como preliminar, que a casa esteja em ordem”.
Golfeto ainda defende o aumento de investimentos públicos em infraestrutura e corte despesas de custeio. “Se possível, também, convocar o setor privado para investir em infraestrutura. Investimento em infraestrutura – social e econômica – é a melhor e mais decisiva ferramenta de desenvolvimento econômico”.
Muitos ajustes, vários reajustes“2015 será um ano de ajustes e de reajustes. Ajustes na política econômica que deverá ser mais austera, previsível e transparente de modo que se criem as condições para recuperar a credibilidade e a capacidade para atrair investimentos. Dentre as medidas espera-se o ajuste fiscal, o controle da inflação, o realimento de preços administrados, política monetária mais realista e política industrial menos seletiva e eficiente”. A análise é do economista e ex-secretário da Fazenda de Ribeirão Preto Afonso Reis Duarte.
Ele cita como possíveis – e “inevitáveis” - os reajustes da energia elétrica, do transporte coletivo, dos combustíveis, dos importados e aumento de impostos.
“A economia mundial depois de um crescimento em torno de 2,5% nos três últimos anos deverá crescer em 2015, segundo analistas internacionais, 2,8% (Oxford Economics - Adam Slater) ou 3,6% (Deutsche Bank). Para a economia brasileira o crescimento previsto do PIB é de 0,77% (Boletim Focus BACEN) contra a previsão de 0,19% em 2014. Juros no crediário e para empresas, em ascensão (SELIC 12%). Inflação 6,49% (IPCA). Como se vê, o cenário para 2015 não é muito diferente do que vimos em 2014”, comenta Afonso.
Para o economista, o grande desafio da nova equipe econômica é aliar desenvolvimento com controle de inflação. “Para os desenvolvimentistas do primeiro governo Dilma (Rousseff), esta receita não deu certo e criou muitos entraves. Não gerou crescimento e colocou a inflação no teto da meta. Os ajustes serão graduais, com resultados de médio prazo e não se espera mudanças significativas na economia até 2016”.
Mas os grandes desafios do governo como um todo é recuperar a credibilidade diante de potenciais investidores, em função da crise de confiança que hoje afeta o poder central. Esta é uma apertada síntese do que dizem os especialistas em economia.
“A corrupção aparente paralisa obras no País, porque leva à instabilidade política, que traz reflexos à economia”, diz Luciano Nakabashi. “Primeiro (para melhorar a economia), recuperar a credibilidade, ainda que no meio desta grave crise de confiança por que passa o governo federal”, comenta Afonso Reis Duarte.
“Para que o PIB se expanda é preciso, como preliminar, que a casa esteja em ordem. Quando falamos de casa em ordem, falamos das finanças públicas dos três níveis de governo”, afirma Vicente Golfeto.
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Guto Silveira
Fotos: Divulgação e Arquivo Revide