Sapateando  até as estrelas

Sapateando até as estrelas

Apaixonada por dança desde pequena, a bailarina Gisele Silva participará de espetáculo na Broadway

É preciso muita dedicação e investimento, em seu sentido mais amplo, para construir uma carreira de sucesso. É necessário, mais ainda, amar o que se faz e ter talento. Nenhuma das dificuldades do caminho foram capazes de interromper a caminhada de Gisele Silva, que conheceu a dança ainda criança e vem conquistando seu lugar ao sol. A bailarina foi convidada para dançar no teatro The Duke, na Broadway. Gisele foi uma criança muito ativa. A tia trabalhava em uma academia e, ao observar o interesse da sobrinha pela dança, conversou com a diretora da empresa. “Aquele foi o melhor dia da minha vida”, afirma a dançarina. 

O início não foi fácil, mas a menina não desistiu. “Eu ia a pé para as aulas com a minha mãe, que ficava me esperando na academia porque não tinha condições de me levar e voltar para me buscar. Sempre fui muito dedicada às aulas, não faltava por nada e, com isso, ganhei uma bolsa integral de estudos”, lembra a dançarina. Com a bolsa, Gisele continuou fazendo o que amava e se destacando. Aos 15 anos, tornou-se professora. 

Pelo apoio e pela motivação recebida, Dânia Amaral e Ludmila Heck, sua primeira professora de sapateado, foram fundamentais em sua trajetória até aqui, aos 31 anos. Apesar de dançar de tudo um pouco, foi no sapateado que encontrou o que queria. “Por um tempo, dediquei-me ao ballet. A intenção era me tornar bailarina de uma grande companhia. Apesar de ter recebido alguns convites, a questão financeira me impediu de seguir. Com o tempo, fui vivenciando novas experiências, fazendo workshops e tendo um certo destaque. O sapateado foi tomando meu coração”, explica a bailarina. 

O espetáculo Rhythm in Motion, do qual participou na Broadway, contou com quatro bailarinos e durou 20 minutos. “Sempre tive esse sonho, que está se realizando de maneira inesperada, mas no momento certo”, diz Gisele. 
Ela dançou pela American Tap Dance Foundation e foi dirigida por Tony Waag, mas essa não é sua primeira experiência internacional. Em 2014, quando participou do Brasil Tap in Rio, com a Cia Pé na Tábua, Gisele conheceu Chloe Arnolds, uma das professoras do evento e uma das sapateadoras mais famosas da atualidade. Chloe ofereceu uma bolsa para o D.C. Tap Festival, em Washington. Naquela oportunidade, trabalhou com outros brasileiros, como Leonardo Sandoval, coreógrafo residente da American Tap Dance Foundation. O profissional estava produzindo um espetáculo com referências na cultura negra e brasileira e a convidou para participar. 

A dançarina desembarcou em Nova Iorque no dia 22 de março. O espetáculo aconteceu nos dias 1º e 2 de abril. De lá, Gisele seguiu para Washington, onde participou novamente do D.C Tap Festival até 9 de abril. Mais uma vez, ela foi contemplada com uma bolsa integral. 

Gisele busca patrocínio para que possa permanecer em viagem. Ao lado do seu grupo Tap New Generation, foi convidada, durante sua participação no Brasil International Tap Festival, para outro importantíssimo evento de dança, que acontece em agosto deste ano: o LA Tap Festival, por ninguém menos do que Jason Samuel Smith, um ícone do sapateado.  

Para a bailarina, a arte e a cultura salvam vidas e precisam do apoio e da participação de todos. Gisele reconhece que é uma vencedora, já que vem de uma família humilde, e sabe que sua maior recompensa é representar suas origens. “Nas questões sociais e raciais, infelizmente, ainda estamos longe de viver em um país justo e solidário. A mulher ainda é muito maltratada e tem poucas oportunidades. Nossa representatividade ainda é muito pequena. O mesmo digo dos negros e das pessoas mais pobres, que nascem e vivem em condições precárias, sem grandes oportunidades de mudança. Como mulher negra, de uma família muito humilde, considero-me uma vencedora! Devo isso a todas as pessoas que me ajudaram e ao meu esforço pessoal, mas isso ainda é pouco. Essa representatividade precisa ser maior. Minha luta é para representar as minhas origens com competência”, afirma a bailarina. 

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