Ligações Perigosas

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Polícia Federal divulga resultado de perícia em telefone celular do empresário Marcelo Plastino, morto em 2016; informações indicam supostos pagamentos de propina para políticos de Ribeirão Preto

Um celular do empresário Marcelo Plastino, morto em 2016, foi apreendido durante a Operação Sevandija, em Ribeirão Preto. O aparelho passou por perícia da Polícia Federal e o resultado indica suposto pagamento de propina para políticos de Ribeirão Preto, entre eles, a ex-prefeita Dárcy Vera.

Uma das informações divulgadas pela PF indica que Dárcy teria recebido R$ 1,5 milhão no processo de contratação da empresa responsável pela coleta de lixo na cidade, em 2013, quando o município assinou dois contratos com a Leão Ambiental, nos valores de R$ 53 milhões e R$ 12,8 milhões. Segundo as informações, a partir desse mesmo contrato, cada então vereador teria recebido R$ 80 mil. No celular não constam os nomes de parlamentares.

A Leão Ambiental foi adquirida no mesmo ano pela Estre, que, questionada pela reportagem, afirma não ter conhecimento do assunto, já que o contrato com o município foi firmado antes da aquisição da empresa.
Dárcy Vera sempre negou as acusações e nas vezes em que se manifestou sobre a Operação Sevandija afirmou colaborar com as investigações quando solicitada.
Laudo foi realizado a partir de perícia no celular do empresário Marcelo Plastino, que cometeu suicídio em novembro de 2016

FALSIFICAÇÃO DE FOLHA-PONTO
A perícia no celular ainda apontou que alguns vereadores da atual legislatura teriam falsificado folhas de ponto, como Adauto Marmita (PR) e Ariovaldo de Souza (PTB), o Dadinho, quando terceirizados na Administração Municipal. Perguntado pela reportagem, Dadinho alega que desconhece a perícia e que somente falaria sobre o assunto pessoalmente, na presença dos advogados. O vereador foi funcionário da Atmosphera e atuava em um projeto social ministrando aulas de judô para as crianças.

Já Marmita, que também foi funcionário da Atmosphera, retornou à reportagem negando o fato. Ele afirmou que existia fiscalização, por parte da Coderp, sobre o ponto dos funcionários. “Não era eu quem recolhia os pontos, era outra pessoa. Eu assinava lá na Cava do Bosque, onde fazíamos os serviços. Eu era servente, fazia um serviço pesado. Não trabalhava em ar-condicionado. Uma coisa eu digo: não era funcionário fantasma e fui mandado embora bem antes da Sevandija estourar, mais ou menos um ano e meio antes”, justifica.
Empresário cita que ex-prefeita teria recebido R$ 1,5 milhão em contratação de coleta de lixo, em 2013DEPUTADO NA LISTA
No celular, também foi encontrada menção ao deputado federal Baleia Rossi (PMDB), pelo susposto recebimento de R$ 1 milhão. Baleia Rossi nega que tenha recebido dinheiro de Marcelo Plastino e levanta dúvidas sobre a origem do arquivo encontrado pela Polícia Federal no celular do empresário, já que nunca existiu qualquer encontro entre o deputado e o empresário.

SUPOSTO TRAFICANTE
No laudo, ainda há uma citação de um suposto coveiro, chamado Marcelo, que seria traficante. No documento apenas diz: “não trabalhava e fornecia entorpecente”, que seria ligado ao ex-secretário da Casa Civil, Layr Luchesi. A defesa de Luchesi diz que o ex-secretário está tranquilo sobre as acusações que pairam na Sevandija contra ele, já que alega ser inocente, mesmo estando detido preventivamente em Tremembé.

LIXO NA MIRA DO TCE
Embora tenha chamado a atenção em função da perícia recente, por suposta propina paga a agentes públicos, o contrato para coleta do lixo em Ribeirão Preto já havia sido alvo de apuração do Tribunal de Contas do Estado (TCE) em 2014, que indicou irregularidades na assinatura do acordo entre a prefeitura e a Leão Ambiental, no valor de R$ 12,8 milhões, com vigência de três meses. O motivo que despertou o TCE foi o fato de a contratação ter ocorrido com a dispensa de licitação. O Tribunal afirmou, na ocasião, que o contrato estava irregular por não ter havido a comprovação das razões para a escolha do fornecedor e que não houve justificativas plausíveis para o preço contratado. 

A administração de Dárcy Vera, à época, justificou que o valor de R$ 12,8 milhões, apontado no chamamento, readequava as tarifas praticadas no município com as de outras cidades de mesmo porte, segundo informações extraídas no Sistema Nacional de Informações de Resíduos (SNIR). A Prefeitura também disse que a proposta comercial ofertada pela contratada mostrou-se vantajosa aos cofres públicos, pois a estimativa era de R$ 13,5 milhões, que, ao final, concretizou-se em R$ 12,8 milhões. 

CONFRONTO DE PROVAS
O promotor do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), Leonardo Romanelli, que investiga as suspeitas, disse que, no momento, o Gaeco está debruçado sobre as ações penais em andamento no âmbito da Sevandija. “Aguardamos o encerramento da instrução para realizar análise individualizada das provas, verificando a utilização em outros feitos e suspeitas pendentes”, diz. Além disso, ainda aponta que o material da perícia, juntado ao processo da Sevandija, depende do confronto com outras provas para ser confirmado e que elas ainda podem ser obtidas até o final da ação penal.


 

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