Protegida nos telefonemas
Os promotores do Gaeco, Frederico Camargo, Gabriel Rigoldi e Leonardo Romanelli, afirmam que houve pagamento de propina

Protegida nos telefonemas

Agentes da Polícia Federal, que participaram das investigações da Sevandija, disseram que Dárcy era protegida em ligações telefônicas

No começo desta semana, o delegado e os agentes da Polícia Federal, responsáveis pelas investigações da Operação Sevandija, prestaram depoimento como testemunhas de acusação, arroladas pelo Ministério Público no processo referente a irregularidades nos pagamentos dos honorários dos 28,35%.  Os policiais afirmaram que a ex-advogada do Sindicato dos Servidores Municipais, Maria Zuely Librandi, tentou “proteger” a ex-prefeita de Ribeirão Preto Dárcy Vera, que teria ecebido dinheiro através de uma Organização Não Governamental (ONG) que comandava. Além da advogada e a ex-prefeita, também são réus neste processo os advogados Sandro Rovani e André Hentz, que trabalhou na disputa judicial de Zuely para receber os honorários, além do ex-secretário de Administração, Marco Antonio dos Santos, e o ex-presidente do Sindicato dos Servidores, Wagner Rodrigues. Todos os réus estiveram presentes, com exceção de Dárcy e Zuely que conseguiram liminares na Justiça para se ausentar das audiências. Funcionários da Prefeitura também foram ouvidos.

O dinheiro era pago por Zuely para que a Prefeitura de Ribeirão Preto liberasse os pagamentos dos honorários advocatícios. A advogada ganhou para o Sindicato dos Servidores Municipais uma ação de reparação salarial dos servidores que tiveram perdas com o Plano Collor, no início dos anos 1990. O montante que Zuely teria direito a receber chegaria a R$ 58 milhões, valor que posteriormente foi corrigido para R$ 69 milhões, referentes aos honorários advocatícios. O Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) sustenta que a Prefeitura só realizou os pagamentos a advogada mediante o repasse de propina para os acusados. Além disso, os promotores apontam que houve fraudes em atas de reuniões do Sindicato dos Servidores que autorizaram o pagamento dos honorários a Zuely. Antes, a entidade presidida até então por Wagner Rodrigues, era contrária ao pagamento aos honorários, já que quando venceu a causa, em 1997, Zuely era funcionária registrada pelo Sindicato, e por isso a advogada não teria o direito de recebê-los.
O advogado de Maria Zuely, Luiz Carlos Bento, afirma que Zuely foi coagida pelos outros investigados a pagar propina
Nos depoimentos que tiveram início na segunda-feira, 25, no Fórum de Ribeirão Preto, foram ouvidos o delegado da Polícia Federal Flávio Reis e os agentes Luís Janones e Roni Pires. Os policiais disseram que Maria Zuely ficava descontente por ter que pagar agentes públicos para receber os honorários em razão da vitória no processo da reparação salarial dos servidores. “Ela se mostrava contrariada e reclamava que tinha que pagar imposto sobre os honorários, enquanto ‘eles’ não pagavam nada, porque recebiam um dinheiro ilegal”, disse Janones, ao se referir das reclamações de Zuely sobre a pressão que recebia para realizar os pagamentos aos outros réus envolvidos. O agente da Polícia Federal ainda declarou que nas ligações interceptadas com autorização da Justiça, a ex-prefeita não era citada, e sim tratada como “ela”, “amiga”, “a chefe” e “a outra”. Os investigadores só chegaram à conclusão de que essas denominações se referiam a Dárcy Vera quando a ex-advogada do Sindicato, que na época das investigações atuava como assessora da Casa Civil da Prefeitura de Ribeirão Preto, foi questionada em uma conversa com Sandro Rovani se “a outra estava doente”, justamente em um período que ex-prefeita teve problemas de saúde. De acordo com o Ministério Público,  Dárcy Vera teria utilizado uma ONG para receber dinheiro de Maria Zuely Librandi, ex-advogada do Sindicato dos Servidores Municipais de Ribeirão Preto. A afirmação foi feita pelo delegado da Polícia Federal Flávio Reis que também declarou que o dinheiro era repassado a secretária da ONG fundada pela ex-prefeita. O advogado de Maria Zuely, Luiz Carlos Bento, disse que Zuely foi coagida pelos outros investigados a realizar esses pagamentos para liberação do dinheiro dos honorários advocatícios. Em um dos pedidos de liminar de habeas corpus, o advogado afirmou que a ex-advogada do Sindicato sofreu chantagem. A PF aponta que, em um breve período das investigações, a entrega do dinheiro chegou a sofrer atraso.

Os investigadores ainda apontaram que Maria Zuely recorria a Rovani para interceder junto a Marco Antonio e a Dárcy para que os pagamentos dos honorários fossem realizados. Questionados pela defesa se testemunharam alguma entrega de dinheiro, os agentes disseram que não, embora as denúncias, de acordo com eles, estejam embasadas nas movimentações financeiras, como saques em dinheiro e emissão de cheques, além da colaboração premiada de Wagner Rodrigues. Em outubro do ano passado, o ex-presidente do Sindicato dos Servidores, que havia disputado a Prefeitura pelo PC do B, selou o acordo de delação, em que descreveu como funcionava a repartição do dinheiro entre os envolvidos.

As defesas dos acusados questionaram quais elementos que fizeram com que os investigadores concluíssem que houve pagamento de propina para liberação do dinheiro. Os advogados alegam também que as interceptações telefônicas e e-mails autorizados pela Justiça não deixaram claro se houve de fato a entrega de dinheiro e para quais agentes públicos a verba teria sido destinada. Na saída dos depoimentos, os advogados de defesa não quiseram fazer declarações aos jornalistas.

Texto: Leonardo Santos

Foto: Amanda Bueno

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