Exercício aeróbico em jejum requer cuidados

Exercício aeróbico em jejum requer cuidados

Para uma vida saudável, especialistas indicam dieta e uma rotina de treinamento

Os atletas – profissionais ou amadores – sabem que o caminho que leva ao corpo desejado não é fácil. Os que conseguem – com dedicação, disciplina, foco e muito treino – revelam que não há uma fórmula mágica ou uma teoria que leve à perfeição.

Mesmo assim, a cada estação, uma nova “tendência milagrosa” invade as academias. A da vez é o Aeróbico em Jejum (AEJ). O recurso, contudo, não é novo. Pois, há muito tempo é utilizado por bodybuilders (fisiculturistas) para intensificar a queima de gordura.

O fisiculturista ribeirão-pretano Fernando Luiz –Sardinha – faz uso da prática do aeróbico em jejum. No entanto, ele deixa bem claro, que há, na musculação, os profissionais que – como ele – preconizam o uso o AEJ como queimador de gordura e os que não preconizam, por acreditarem que este tipo de aeróbico não apresente tantas vantagens.

Sardinha cita o professor Valdemar Guimarães como um dos profissionais – e estudiosos – que citam o AEJ em seus treinos. “O Valdemar é um autodidata, professor de educação física com uma carreira meteórica, com Best Sellers de musculação e vídeos na internet. É uma das pessoas que eu mais respeito no esporte e um amigo. Ele sempre falou do aeróbico em jejum, porque normalmente ele tinha contato com outros atletas, como Dorian Yates (6X Mister Olympia), Nasser El Sonbaty e Ernie Taylor. Todos são fisiculturistas que foram tops nas suas épocas, e ainda são. Estes atletas usam o aeróbico, não como performance, mas como um controlador de gordura”, explica o fisiculturista que, assim como os atletas citados acima, também faz apenas vinte minutos de aeróbico leve em jejum.

Por outro lado, Sardinha cita o Sergio Sheman, bioquímico e bodybuilder que defende que o aeróbio em jejum é mais problemático que vantajoso. “Ele diz que, pelo fato de você estar em catabolismo muscular, há uma perda tecidual de músculo tão grande quanto a de gordura. E a metabolização da gordura vem da queima dos carboidratos. O Sheman defende que durante o dia, se você consome carboidratos bons (batata doce, aveia, massas integrais) você ativa o mecanismo de queima de gordura e isso todo o fisiologista afirma: ‘a gordura queima na chama do carboidrato’”, cita Sardinha. 

Aliados

O personal trainer Luis Gricio, explica que a dieta e os exercícios físicos precisam caminhar juntos, além da consulta com profissionais capacitados, a hidratação também precisa ser diferenciada. 

“A ingestão de água é o principal fator para que a pessoa não desidrate, além de procurar profissionais, como educadores físicos e nutricionistas, pois o programa de treinamento e dieta tem que estar em perfeita sincronia. Não adianta nada você comer mais no dia anterior e achar que o aeróbio em jejum logo pela manhã será milagroso para perder aqueles quilinhos extras”, diz.

O personal trainer destacou ainda não existir mágica, pois, a melhora do rendimento só é alcançada através de um programa de treinamento específico para a individualidade de cada um e uma dieta balanceada.

Para os iniciantes de uma rotina de exercícios, esse tipo de treinamento não é indicado, pois normalmente se encontram em peso excedente, com percentual de gordura alto, além do metabolismo lento e com baixa capacidade cardiorrespiratória.

Gricio também explica que para os indivíduos que estão em treinamento avançado e com um percentual de gordura excelente ou próximo disso, o treinamento é indicado por ele, porém, sob supervisão. "É importante ficar atento à intensidade do treinamento, porque não vale a pena perder massa muscular ao invés da gordura", completa Gricio.

Para o nutricionista Tiago Faria Mazzilli, as celebridades nas mídias influenciam as pessoas que recorrem a essa atividade e destaca que sem o monitoramento correto do exercício, a prática pode trazer riscos à saúde.

“Cada vez mais pessoas aderem a procedimentos divulgados por celebridades, mas, elas negligenciam o fato de que esses famosos possuem uma dedicação extrema em relação a seus treinos e alimentação diária. Já que são sempre monitoradas por grandes profissionais. Então, adotar apenas umas das condutas realizadas não surtirá grande efeito, além de trazer riscos à saúde”, destaca o nutricionista.

Outro fator importante é que dependendo de como foi a alimentação no dia anterior, o individuo pode apresentar um estado de hipoglicemia, o que pode provocar algumas reações, entre elas estão os enjoos, náuseas, dores de cabeça e até possíveis desmaios. É preciso ficar atento à prescrição da intensidade do exercício, já que o AEJ pode alterar o metabolismo e até prejudicar todo o planejamento do programa de treino.

Mazzelli ressaltou o fato da busca por soluções imediatas e que as pessoas estão sempre procurando processos rápidos para perder peso. O grande erro é precipitar esse processo de queima de gordura, já que o AEJ seria o último degrau a ser alcançado, além de ser uma prática de atletas com vasta carreira em treinamento.

Exemplo
A estudante, B.M.S, que pediu para não ser identificada, conta que teve uma experiência desagradável recentemente. A jovem de 17 anos, após ler sobre o AEJ nas redes sociais, resolveu tentar. “No primeiro dia eu já não me senti muito bem, mas continuei. No terceiro dia eu fiquei tonta, tive que interromper o treino e o professor me perguntou se eu havia me alimentado. Assumi que não. Na mesma hora me dispensou e orientou que eu me alimentasse, ali mesmo, na academia. O meu desejo era a perda de peso, mas, em conversa com um nutricionista, eu vi que não era o melhor caminho para mim e abandonei o projeto", conta a jovem. 

Fernando Sardinha, que também é membro do corpo docente da Federação Brasileira de Musculação, explica que passar mal durante um exercício na academia está relacionado à falta de glicose cerebral e não muscular. “Na hora a pessoa pode tomar um isotônico – que é o recomendado – pois, é um repositor hidroeletrolítico e vai subir rápido para o cérebro. Mas, poderia ser um BCAA (suplemento alimentar), por exemplo. Poderia ser um xarope de glicose ou um açúcar simples de mesa”, indica. 

“Façam a musculação de maneira correta, em um local onde tenha metodologia de treino e que o professor treine também. Se a pessoa seguir alguns parâmetros que nós, profissionais, seguimos não terá erro, ninguém vai desmaiar ou ter problema. O que não pode é dizer para alguém subir na esteira e que aquilo será um milagre na vida dele”, alerta o fisiculturista.

Os praticantes de musculação e atletas de fisiculturismo defendem a prática de exercícios acompanhados de uma dieta específica, e dizem que não há um suplemento milagroso.

“Para iniciantes, a ordem é: musculação, dieta e em terceiro lugar o aeróbio. Contando que musculação e dieta têm que ter insgestão de pelo menos três litros de água por dia, seguido de oito horas de sono, o que é variável de pessoa para pessoa, mas é importante dormir o máximo possível. Também é necessário conversar com um profissional sobre a implantação de algum suplemento alimentar, que é muito importante e dá resultado”, apontou Sardinha.

Dica de leitura

Sardinha também indicou o livro “Body for Life – Em Plena Forma Para a Vida”, Best Sellers nos EUA, escrito por Bill Phillips, onde o leitor tem uma aula sobre como comer, cozinhar, manter horários e metodologia, além dos movimentos nos treinos e motivação a prática.

O fisiculturista diz que os interessados em adotar o AEJ devem dar início à atividade para saberem a melhor forma de executá-la, já que não tem como passar uma receita a ser seguida, variando o resultado de um indivíduo para  outro. Lembrando, “sempre sob os cuidados de um profissional da área”, conclui.

Revide Online
Karen Fabiane
Fotos: Carolina Alves e Divulgação

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