Prejuízo anunciado

Prejuízo anunciado

Presidente da Associação Comercial e Industrial de Ribeirão Preto, Dorival Balbino, discorre sobre os efeitos da pandemia na economia da cidade

Texto: Marina Aranha


Para conter a transmissão do novo coronavírus, a principal medida sugerida por autoridades e determinada por meio de decretos municipais e estaduais tem sido o isolamento social. A orientação é para que as pessoas fiquem em casa e Ribeirão Preto, na fase vermelha do Plano São Paulo de retomada econômica, pode manter abertos apenas os estabelecimentos considerados essenciais. Com isso, o comércio da cidade tem sentido os efeitos da crise instalada. Para o presidente da Associação Comercial e Industrial de Ribeirão Preto (Acirp), Dorival Balbino, as medidas tomadas pelas autoridades acarretaram graves perdas para a economia ribeirãopretana. “Tivemos discrepâncias nas medidas dos três níveis de governo. A falta de diálogo é imensa e trouxe prejuízos irreparáveis”, pontua o empresário, que avalia o cenário na entrevista a seguir.

A pandemia do novo coronavírus afetou intensamente o comércio de Ribeirão Preto. A Acirp calcula o prejuízo que a Covid-19 tem causado para o setor desde março?

Os primeiros dados relacionados a este período disponíveis na região são os de emprego, que mostram perdas significativas relacionadas à pandemia, e podem dar um indicativo do que ocorreu no comércio da cidade. Em Ribeirão Preto, foram perdidos mais de 7 mil empregos formais em três meses, o que representa 3,4% do total. Como referência, uma queda dessa magnitude foi observada na crise econômica de 2015/2016, mas diluída ao longo de dois anos. Podemos esperar, portanto, uma queda ainda maior do que a da última crise, porém concentrada em menos de um ano.

Como o senhor avalia as medidas dos governos municipal e estadual para conter a pandemia?

Tivemos discrepâncias nas medidas dos três níveis de governo. A falta de diálogo é imensa e trouxe prejuízos irreparáveis. Em nível federal, tivemos um atraso na liberação de recursos aos empresários por parte dos bancos, que necessitavam de repasse do BNDES para os financiamentos. Quando vieram, eles foram insuficientes. No Estado, padecemos com um governo que determinou rigidez do isolamento social com base nos dados da cidade de São Paulo, prejudicando e muito o comércio no interior e também as indústrias. No âmbito municipal, tivemos erros no início, na decisão de fechamento abrupta e unilateral, na falta de planejamento para expansão de leitos de UTI, na falta de previsão de reaberturas e protocolos de higiene, o que fez com o que o comércio não pudesse se preparar para as mudanças. A demora em resolver a questão da aglomeração nos ônibus e na rua, com fiscalização, também foram pontos que prejudicaram a reabertura com segurança. 

O Plano São Paulo de retomada das atividades econômicas classificou, por semanas consecutivas, Ribeirão Preto na fase vermelha. A Acirp se posicionou contra essa avaliação. Por quê?

Ribeirão Preto, infelizmente, teve uma política errônea de combate à pandemia logo no início, quando o vírus estava com um volume baixo de circulação, e logo tivemos restrições mais rígidas que as do governo do Estado. Isso fez com que o comércio fosse fechado muito cedo e não houve fôlego dos comerciantes para os próximos meses. Ao meu ver, essa medida logo no início da pandemia no Brasil, aliada aos erros de cálculo do pico da doença na cidade, fizeram com que o município ficasse sem opções de flexibilização do comércio. Passamos um tempo sob o jugo das restrições do governo estadual, que atuou pensando na situação da capital, e no momento em que se aplicou o Plano São Paulo, já era tarde para abrir, pois estávamos com um crescimento de casos. No entanto, a saúde das pessoas também está ligada à capacidade de se manter, pagar suas contas e alimentar a família. Chegamos a um ponto insustentável para os que necessitam vender para se manterem, principalmente os pequenos negócios. Juntam-se a essa situação calamitosa os erros cometidos no início, a falta e atraso das políticas públicas de expansão dos leitos de UTI e a aglomeração nos ônibus, e chegamos a essa situação complicada que estamos hoje. 

Quais têm sido as medidas tomadas pela Acirp para auxiliar os comerciantes de Ribeirão Preto durante esse período?

A Acirp tem se movimentado para buscar soluções e auxiliar o empresariado, bem como seus trabalhadores, sempre pensando na preservação de vidas e apoiando determinações sanitárias vigentes. Temos representado os interesses do setor produtivo junto aos órgãos competentes para a liberação de crédito empresarial, principalmente para folha de pagamento e capital de giro, a solicitação de extensão do prazo de pagamento de tributos, além de cobrar políticas públicas adequadas para o setor em Ribeirão Preto. Também oferecemos um suporte de informações confiáveis por meio de boletins diários, listas de transmissão, mais de 40 lives no Youtube e canais institucionais abertos nas redes (Facebook, Instagram e Whatsapp). Nesses canais, divulgamos informações úteis, dados relevantes e esclarecimento de dúvidas dos empresários sobre as determinações governamentais durante a epidemia do Covid-19, além de ofertar informações sobre finanças, inovação e gestão de crise. A estrutura permitiu, ainda, o desenvolvimento de pesquisas periódicas que mapeiam a situação econômica e sua evolução durante todo o período da pandemia, fazendo com que as empresas tenham previsibilidade de toda a situação. Também negociamos, junto à Transerp, a abertura de 20 bolsões de ‘Drive Thru’ nos principais corredores comerciais da cidade para que o comércio pudesse se organizar e manter suas atividades.

Com a recessão durante a pandemia, é possível estimar o tempo de recuperação para o comércio da cidade?

É possível antecipar que será um longo caminho até a recuperação total do impacto da pandemia. Mesmo com uma possível flexibilização da quarentena, ou o fim da pandemia mais futuramente, existe um grande número de negócios encerrados e empregos perdidos que levarão tempo para serem recuperados. 

Compartilhar: