Dentro do prazo

Dentro do prazo

Levantamento divulgado na última semana indicava aplicação de doses de vacinas vencidas no Brasil, inclusive Ribeirão Preto; Prefeitura negou, justificando erro de digitação e inconsistências

Texto: Gabriela Maulim

Na última semana, um levantamento realizado por pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), publicado pelo jornal Folha de S. Paulo, mostrou que 26 mil brasileiros poderiam ter recebido doses vencidas da vacina AstraZeneca. 

Executada por meio do cruzamento de dados oficiais do governo federal, a pesquisa de Sabine Righetti, da Unicamp, e Estêvão Gamba, da Unifesp, apontou o problema em oito lotes da vacina. No Estado de São Paulo, a Secretaria da Saúde comunicou que as doses foram distribuídas dentro do prazo de validade e afirmou ter identificado cerca de 4,7 mil possíveis aplicações fora do prazo no sistema. 

Em Ribeirão Preto, segundo a lista publicada, 37 doses do imunizante AstraZeneca teriam sido aplicadas depois do prazo de vencimento. Por meio de nota, a Secretaria Municipal da Saúde, comunicou que não houve vacinação de pessoas com lotes vencidos na cidade. “Todos os procedimentos técnicos para controle do estoque, conservação e aplicação dos imunizantes são rigorosamente obedecidos. As informações veiculadas pela imprensa sobre a aplicação de doses de vacinas vencidas referem-se a possíveis erros de digitação no momento do registro das doses aplicadas, onde eventualmente foi selecionado no sistema o lote errado. Também atribuímos a inconsistências no sistema de registro ao salvar as informações digitadas. A Secretaria de Saúde, dessa forma, tranquiliza a população e reitera a importância da continuidade das ações de vacinação”, informou a pasta. 

A Secretaria Estadual de Saúde não descartou que, realmente, parte dos casos se trata de um erro de digitação. "A pasta está informando as prefeituras, que são as responsáveis pela aplicação das vacinas, para realizar busca ativa desta população", esclareceu, também em nota.

Após divulgação do levantamento, o Ministério da Saúde informou que não distribuiu doses da vacina vencidas. “Prazos de validade dos imunizantes são rigorosamente checados pelo Ministério. Os dados sobre aplicação de doses são inseridos pelos municípios no DataSUS”, informou, no dia 2 de julho. 

Doses aplicadas

Segundo dados do Programa de Imunização do Governo de São Paulo, até o fechamento desta reportagem, Ribeirão Preto havia aplicado 397.359 doses da vacina contra a Covid-19 — 297.958 primeiras doses, 95.601 pessoas que receberam as duas doses e 3,8 mil únicas (Janssen). Os dados apontam que até o dia 6 de julho, 41,86% da população ribeirãopretana havia sido vacinada. 

Segundo a Secretaria Municipal da Saúde, dentro dos grupos que já podem receber as doses dos imunizantes que estão sendo distribuídos na cidade — AstraZeneca, Pfizer, CoronaVac e Janssen —, 1.588 pessoas, o que representa 3% dessa população, ainda não compareceram para receber a segunda dose da vacina. “Contudo, vários destes receberam as primeiras doses em dias distintos do maior grupo e ainda podem estar dentro do prazo”, esclareceu a pasta.

“Quando o cidadão, por algum motivo, perde o agendamento, deve comparecer à unidade de saúde mais próxima de sua residência, pois a depender da disponibilidade da vacina para o grupo ao qual pertence, poderá ser vacinado ou ter seus dados anotados para convocação posterior”, orientou o secretário da Saúde, Sandro Scarpelini.

Sobre o processo de imunização no município, a Secretaria informou que, apesar de estar sendo executado, ele não está de acordo com o que foi planejado pela administração municipal, pois, em dezembro de 2020, a expectativa era de que a cidade receberia um maior número de doses, o que não ocorreu.

Para a Saúde do município, neste processo de imunização, a maior dificuldade enfrentada continua sendo a escassez de vacinas. Apesar disso, a Secretaria afirmou que os próximos passos da pasta relacionados à vacinação são “seguir os programas de imunização e aplicar o mais rápido possível todas as doses recebidas, nas categorias determinadas pela Secretaria de Estado da Saúde”. 

À medida que a vacinação avança, ainda que timidamente, também cresce o otimismo. “As estatísticas já vêm mostrando que que a internação dos pacientes em UTI teve uma queda na sua média de idade. Estamos progredindo na vacinação dos jovens. Sem dúvida, teremos essa repercussão de melhora nas próximas semanas", afirmou o secretário estadual da Saúde Jean Gorinchteyn, em entrevista coletiva no dia 30 de junho.

Mistura de imunizantes

Outro debate com relação à vacinação contra a Covid-19 é a mistura de imunizantes contra a doença. No Brasil, o Estado do Rio de Janeiro começou a aplicar a vacina da Pfizer como segunda dose às gestantes com comorbidades que tiveram bebês há até 45 dias e tomaram a primeira dose da AstraZeneca. Segundo a Secretaria da Saúde de Ribeirão Preto, não está previsto que essa mistura ocorra na cidade.

Na região

Segundo dados do Estado, no Grupo de Vigilância Epidemiológica (GVE) XXIV, que engloba Ribeirão Preto e mais 25 municípios, foram aplicadas 879.535 doses de imunizantes contra a doença. No total, são 7.885 doses únicas, 649.445 aplicações na primeira etapa e 222.205 pessoas que concluíram o processo de vacinação. 

Casos da doença

Até o dia 5 de julho, segundo dados da Secretaria da Saúde, Ribeirão Preto somava 2.573 mortes e 94.053 casos confirmados da Covid-19. Só neste ano, a cidade confirmou mais de 52 mil casos da doença e ultrapassou em 24% os 41.972 que foram registrados em 2020:

De acordo com dados divulgados pela pasta, os meses que mais registraram óbitos causados pelo coronavírus na cidade foram março, abril, maio e junho, sendo 313, 329, 323 e 343 mortes, respectivamente. Somando os óbitos registrados no primeiro semestre deste ano, a cidade chegou a 1.529 vítimas, ante 1.044 em 2020.
 

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