Duas vacinas a cada minuto

Duas vacinas a cada minuto

Desde outubro, mais de 70 mil pessoas já foram imunizadas contra a febre amarela em Ribeirão Preto

Em Ribeirão Preto, a cada minuto, são aplicadas duas vacinas contra a febre amarela. Ao todo, mais de 70 mil pessoas já foram imunizadas na cidade, desde outubro de 2016. Segundo Luzia Marcia Romagnoli Passos, diretora do Departamento de Vigilância de Saúde da Secretária Municipal, a média diária tem sido de 2.800 doses. Ela afirma que o número pode mudar, mas, se a média continuar, até o início de março a meta dada pelo Estado — de 150 mil vacinas — será cumprida. “As pessoas devem procurar alguma unidade de saúde para atualizar sua carteira. Mesmo as que não possuem mais o certificado devem ir até o posto, pois existe um sistema de registros com os dados de cada um”, orienta Luzia.

De acordo com o Secretário Municipal de Saúde, Sandro Scarpelini, mesmo com a morte registrada de um homem, em 26 de dezembro de 2016, a situação da doença está sob controle. “A vítima foi contaminada por um vírus de um mosquito silvestre, não resistiu e, infelizmente, o caso foi letal. É importante que a população se previna”, diz. A Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta que moradores de locais úmidos, como Ribeirão Preto, têm de ser vacinados, além de ser fundamental que todos contribuam na prevenção contra mosquitos. 



Scarpelini afirma que todo monitoramento tem sido feito há alguns anos e foi intensificado em outubro, após confirmação da morte de um macaco sagui, por febre amarela. “Fizemos visitas e vistorias em toda área rural de Ribeirão Preto e nos locais em que são mais propícios ao mosquito. Nas proximidades da moradia da vítima, encontramos larvas de Aedes Albopictus, Aedes Aegypti, além dos mosquitos silvestres que são os responsáveis pela contaminação”, analisa o Secretário.


Convocação

A Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo realizou, na segunda-feira, dia 30, na capital paulista, um grande encontro estadual sobre Arboviroses (doenças transmitidas por insetos). Em 2017, há dois óbitos autóctones confirmados no Estado: um no município de Batatais e outro em Américo Brasiliense. Desde o ano passado, até o momento, foram confirmadas 24 epizootias (situação de adoecimento ou óbito) de primatas não humanos para febre amarela, nas regiões de Ribeirão Preto, Barretos, Franca e São José do Rio Preto.



O prefeito de Ribeirão Preto, Duarte Nogueira (PSDB), diz que o combate ao vírus em Ribeirão Preto é exemplar. Na apresentação de uma nova unidade móvel de atendimento do Samu, na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da Avenida 13 de Maio, o chefe do Executivo voltou a afirmar que o município garante atender toda a população que procura as unidades básicas de saúde para tomar a vacina. Ainda de acordo com o prefeito, as UBDSs do Castelo Branco e do Santa Cruz são os postos mais procurados, com média de 600 doses distribuídas por dia. Já nas outras unidades, a média de 400 doses. 

Elisabete Paganini, diretora do grupo de Vigilância Epidemiológica Regional, conta que, mesmo após tomar a vacina, são necessários dez dias para que o corpo esteja protegido. Maria Lúcia Biagini, chefe da Divisão de Vigilância Ambiental de Saúde em Ribeirão Preto, confirmou que toda a intensificação de trabalho contra os mosquitos já é feita. “São mais de 290 mil imóveis na cidade. Trabalhamos até aos sábados, mas é importante que cada um faça sua parte e não deixe locais com água ao ar livre”, reforça.


Contaminação

O médico infectologista Luiz Fernando Baqueiro conta que, em aproximadamente 90% dos casos, o quadro clínico é assintomático ou oligossintomático, ou seja, sem sintomas ou com vários. A febre amarela pode ser assintomática, leve, moderada, grave e maligna, com letalidade entre 5% a 10%, podendo atingir 50% nos casos graves, com manifestações icterohemorrágica e hepatorrenal. “O paciente deve seguir recomendações semelhantes àquelas direcionadas para outras arboviroses, especialmente a dengue: repouso domiciliar e hidratação abundante. Não devem ser utilizados anti-inflamatórios e ácido acetilsalicílico (AAS) para controle da febre e dores no corpo. O recomendado é a utilização de dipirona. Procurar imediatamente assistência médica em caso de observação de olhos amarelados e/ou urina escurecida, sangramentos de mucosas, queda de pressão, desmaios, vômitos persistentes e sonolência excessiva”, alerta Baqueiro.



O especialista ainda diz que a vacinação é a forma de prevenção mais eficaz, entretanto, o controle do vetor de transmissão é fundamental para um combate mais amplo de todos os arbovírus. A imunização não está indicada para gestantes, mulheres amamentando crianças com até seis meses e imunodeprimidos, como pacientes em tratamento quimioterápico, radioterápico ou com corticoides em doses elevadas, como portadores de Lúpus, por exemplo.
O esquema vacinal da febre amarela é de duas doses, tanto para adultos quanto para crianças. As crianças devem receber as vacinas aos nove meses e aos quatro anos. Assim, a proteção está garantida para o resto da vida. Para quem não tomou as doses na infância, a orientação é tomar uma dose e um reforço, dez anos depois da primeira. As orientações são apenas para as pessoas que vivem ou viajam para as áreas de recomendação da vacina.
 

Sintomas

Para a OMS, a febre amarela é uma doença hemorrágica viral aguda transmitida por mosquitos infectados. Uma vez contraído, o vírus se mantém em incubação no corpo de três a seis dias. Muitas pessoas não apresentam sintomas, mas, quando eles ocorrem, os mais comuns são febre, dores musculares, sobretudo nas costas, dores de cabeça, perda de apetite, náuseas ou vômitos. Na maioria dos casos, os sintomas desaparecem após três ou quatro dias.
A médica infectologista Karen Morejon ressalta que os sintomas podem variar, ocorrendo desde quadros leves até potencialmente fatais. No quadro clínico clássico da febre amarela, a maioria dos pacientes evolui com melhora, porém cerca de 15% experimenta o retorno dos sintomas após um breve período de remissão do quadro. “Nesse momento, podem ocorrer quadros graves de falência hepática (incluindo icterícia — o amarelão), falência renal, sangramentos e quadros neurológicos. Em torno de 20% a 50% das pessoas que desenvolvem essa forma grave da doença chegam a óbito” diz.
 

Resultado antecipado

Uma parceria entre a USP de Ribeirão Preto e a Faculdade de Veterinária da Unesp de Jaboticabal pode acelerar os resultados dos exames sobre febre amarela em macacos com suspeita. Desta forma, o laudo poderia sair em até três dias, enquanto o Instituto Adolfo Lutz, por ter uma demanda maior de material, recebida de todo o Estado de São Paulo, leva, em média, 30 dias. A notícia foi dada pelo virologista e professor de infectologia da USP de Ribeirão Preto, Benedito Antonio Lopes da Fonseca. 
Segundo o médico, quando iniciada a colaboração, o trabalho em conjunto consistirá em testar animais encontrados mortos ou doentes, que serão enviados à Unesp para que seja determinado se eles estão ou não infectados com vírus da febre amarela. De acordo com o professor, esse estudo ainda não começou por estarem adquirindo os reagentes para o projeto, que objetiva dar uma resposta mais rápida aos municípios com morte de macacos, para que eles programem as devidas ações de controle.

 

A voz da População

A alta procura por parte dos moradores em busca de prevenção traz esperas e muita paciência ao ribeirãopretano. As mais de 50 salas de vacina permanecem lotadas. Jéssica Camargo, 21 anos, foi até a UBDS do Jardim Castelo Branco e por lá ficou por mais de 40 minutos. “A espera tem sido alta e nós não podemos fazer nada. Por sorte, eu não precisei renovar a dose, mas fiquei um bom tempo esperando, apenas para conseguir essa informação. É difícil, mas entendo o quão complicado e sem erros tem de ser esse trabalho”, comenta Jéssica. Já João Pedro de Andrade conta que a demora é grande e que atrapalha as pessoas que trabalham. “Temos pouco tempo disponível para a imunização.



Decidi me vacinar na hora do almoço, mas, com a fila, terei de vir outro dia e, assim, correr ainda mais risco”, considera. O secretário Sandro Scarpelini explica que muitos dos casos de demora são em razão  da incerteza de quem vai até os postos. Algumas pessoas não sabem e já tomaram a vacina e o histórico delas deve ser checado no sistema.

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