Questões de vida

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Pesquisadores de Ribeirão Preto se desdobram em trabalhos científicos na busca por tratamentos para o novo coronavírus

Texto: Cárila covas Fotos: Luan porto


A pandemia do novo coronavírus jogou luz sobre a ciência. A ansiedade por uma vacina ou por tratamentos que combatam a Covid-19 acelera pesquisas e intensifica o trabalho de cientistas e pesquisadores. Em Ribeirão Preto, profissionais se desdobram para encontrar caminhos que diminuam o sofrimento humano e salvem vidas, com iniciativas promissoras.

A IMUNOCOVID

A Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP-USP) é a sede da pesquisa ImunoCovid, que teve a fase inicial no dia 4 de maio e busca, por meio de análises de biomarcadores, entender o funcionamento do vírus (SARS-CoV-2) em diferentes grupos, dos assintomáticos aos que desenvolvem a forma mais grave da doença, apontando e entendendo as diferenças, para que assim possam ser pensadas estratégias de enfrentamento ao novo coronavírus. 

Segundo o coordenador na área de analítica e bioquímica da pesquisa, o Prof. Dr. Carlos Arterio Sorgi, doutor em bioquímica pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP-USP), o estudo surgiu da união dos professores. “Com um edital de pesquisa para ganhar o financiamento em aberto, professores foram convidando outros estudiosos, cada um com a expertise em uma área, formando um grupo coeso que dominasse toda parte de biomarcadores e respostas imunológicas, originando a ImunoCovid”, afirma. 

Prof. Dr. Carlos Sorgi ressalta a importância da constância nos incentivos às pesquisas no BrasilO estudo é coordenado por oito professores e envolve cerca de 50 pessoas das faculdades de Medicina, Ciências Farmacêuticas e Enfermagem, com a colaboração de instituições de outros estados, como Amazonas e Goiás.

Atualmente, o grupo está na fase de análise e processamento dos dados coletados, como o material biológico dos pacientes. As análises genéticas, de biomarcadores, de anticorpos, de respostas imunológicas e de metabolismo, servirão para determinar um panorama clínico e conseguir titular os grupos, fazendo entender o que leva a pessoa ter uma doença mais grave ou sem sintomas, por exemplo. 

A estudante de enfermagem Ingryd Garcia afirma que o tempo é o maior desafioA estudante de Enfermagem Ingryd Carmona Garcia atua na coleta de material biológico, na análise de dados, entre outros processos analíticos e pré-analíticos da ImunoCovid. Segundo ela, o maior desafio tem sido a responsabilidade constante na busca por respostas que todos anseiam. “O tempo, com certeza, é nosso maior desafio. A pandemia traz consigo os reflexos do tempo roubado, tempo que trouxe tédio aos que estão em casa, e trouxe trabalho, perguntas e mais perguntas para a ciência”, pontua. 

O coordenador explica que mesmo no caso da descoberta de uma vacina que seja eficiente ao vírus (SARS-CoV-2), a pesquisa tem de continuar. “Ainda assim, precisamos conhecer o vírus. A vacina é excelente para imunizar, mas não é 100% eficaz. Algumas pessoas, mesmo vacinadas, vão contrair o vírus e os sintomas vão aparecer. Também as pessoas que fazem transplantes de órgão, que não podem tomar vacina. Muitos dependem da terapia auxiliar que vai ajudar no controle dos sintomas”, argumenta.


Mesmo no caso da descoberta de uma vacina eficiente ao novo coronavírus, pesquisas devem continuar


Para isso, são necessários recursos, e o coordenador detalha as dificuldades para consegui-los, inclusive neste momento de pandemia. “O investimento é baixo, em comparação aos outros países. Muitas vezes, precisamos de favores, pedindo para um conhecido, em outros laboratórios, fazendo a improvisação do financiamento para que os objetivos das pesquisas de sejam alcançados mais rapidamente. É de suma importância que o Brasil tenha incentivos constantes nas pesquisas e que, no momento de crise, seja dinâmico, para que os dados sejam brasileiros, garantindo uma autonomia científica e tecnológica do país”, enfatiza Carlos Sorgi. 

NOVAS OPORTUNIDADES

Com a preocupação de promover a diversidade, a proposta original da bolsa da Dimensions Sciences era de que estudantes brasileiros passassem um período nos Estados Unidos, mas, com a pandemia, o foco passou a ser na atuação de pesquisas no Brasil, em estudos que possam fazer a diferença no combate global da Covid-19. Entre os selecionados, está Glaucia Rigotto, biotecnologista e mestre em Ciências pela USP, que atua no projeto SUPERA AÇÃO, com a participação de startups do parque tecnológico da USP e com mais de 90 voluntários em prol da realização de testes de diagnósticos moleculares da doença em Ribeirão Preto.

O trabalho feito por Glaucia Rigotto objetiva aumentar a capacidade de testes do novo coronavírus no sistema de saúde municipalO trabalho feito por Glaucia objetiva aumentar a capacidade de testagem do sistema de saúde municipal, possibilitando reduzir a taxa de infecção e mortalidade causadas pelo vírus, um projeto em parceria com a Prefeitura de Ribeirão, Supera Parque, Fiocruz e Instituto Butantan. “Esse projeto possui um grande impacto social, já que o foco é a realização de testes em pacientes que dependem exclusivamente do Sistema Público de Saúde (SUS). Assim, podemos contribuir com o mapeamento de casos da cidade e ajudar na prevenção na doença”, explica. 

Ítalo Araújo comprovou que o novo coronavírus pode infectar células do sistema imune que circulam no sangueÍtalo de Araújo, formado em biomedicina, mestre em Biologia da Relação Parasito-Hospedeiro e doutor em Ciências pela USP de Ribeirão Preto, também garantiu a bolsa. O trabalho do pesquisador consiste em entender os mecanismos pelos quais os vírus respiratórios se mantêm no organismo dos pacientes por tempos prolongados após a recuperação dos sintomas agudos. 

Durante o doutorado, Ítalo comprovou que o vírus da gripe pode se alojar em sítios escondidos do organismo humano e se manter por períodos indeterminados em portadores sem sintomas clínicos. “Pensando nisso, iniciamos o projeto com o novo coronavírus e comprovamos que o SARS-CoV-2 pode infectar células do sistema imune que circulam no sangue”, destaca. 


Ansiedade por tratamentos à Covid-19 intensifica o trabalho de cientistas


EM PROL DE RESPOSTAS

Yugo Araújo Martins, é farmacêutico formado pela Universidade Federal do Ceará, com graduação sanduíche na Universidade do Tennessee (EUA). Atualmente, Yugo faz o doutorado pelo programa de Ciências Farmacêuticas da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP-USP). Diante da urgência de se encontrar um tratamento para a Covid-19, o projeto foi redirecionado com o objetivo de estudar fármacos que apresentem potencial ação antiviral contra o SARS-CoV-2.

O projeto de doutorado de Yugo Martins foi redirecionado a encontrar um tratamento para a Covid-19Segundo ele, trabalhar durante a pandemia tem sido desafiador. “A Universidade e os serviços ligados a ela estão fechados ou com funcionamento reduzido. A compra e o transporte de reagentes, de materiais ou de equipamentos foram afetados. Isso lentifica muito a pesquisa”, pontua. 

Apesar disso, o pesquisador destaca o estímulo que tem dia a dia. “A possibilidade de ajudar um número grande de pacientes vítimas do vírus e contribuir para melhoria dessa situação é uma força propulsora que me motiva prosseguir firme com essa pesquisa”, conclui. 

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