Histórias de conquistas

Histórias de conquistas

Em meio a tantas notícias e estatísticas negativas relacionadas ao avanço da Covid-19 pelo país — e em Ribeirão Preto —, a Revide traz o relato de pessoas que venceram a batalha contra a doença

Texto: Paula Zuliani


Renascimento e gratidão

Everson destaca a importância de um atendimento rápido e adequadoNo início de março, antes de ser declarada a pandemia do novo coronavírus, Everson Bellissimo esteve em São Paulo para participar de uma importante feira do ramo de revestimentos que reuniu pessoas do mundo inteiro. Poucos dias depois, apresentou febre e falta de ar. Acompanhando as notícias sobre o avanço da Covid-19, o empresário buscou a orientação do primo, Fernando Bellissimo, que é médico infectologista. “Também assessorado pela minha cunhada Ana Gabriela Ribeiro, que é fisioterapeuta, passei a monitorar a saturação de oxigênio no sangue com um oxímetro. Ter esse equipamento foi primordial porque no instante em que a medição ficou abaixo do normal, fui para o hospital”, comenta Everson. 

O empresário, de 54 anos, teve o diagnóstico confirmado e o quadro evoluiu para a manifestação mais crítica da doença. Passou 38 dias internado no Hospital Unimed de Ribeirão Preto, sendo 20 na UTI, entubado. “Sempre tive um estilo de vida saudável e nunca precisei ficar internado. Mesmo assim, meu quadro degradou muito rápido, com uma série de complicações. Foi realmente impressionante. Essa doença pode afetar qualquer um, de diferentes maneiras. Algumas pessoas têm apenas sintomas leves. Em outras, a gravidade é maior, como foi o meu caso. Felizmente, tive acesso a um tratamento adequado, conduzido por uma equipe fantástica”, ressalta Everson. 

Se restabelecendo em casa, cercado pelo amor da esposa e dos filhos, o empresário comemora cada pequeno progresso. “Com muita fé e com o suporte da minha família, estou focado, exclusivamente, na minha recuperação. Sei que o mais difícil já ficou para trás. Tenho uma nova data de nascimento. Eu renasci. Também sou grato às mensagens, às orações e às vibrações positivas que recebi de familiares, amigos e pessoas que nem imaginava durante todo esse processo, uma corrente do bem que eu sentia ainda no hospital e que me ajudou a sair dessa situação adversa. Desejo que o meu relato sirva de aprendizado, para que as pessoas se conscientizem e não se exponham ao risco de enfrentar essa situação”, declara.

Uma grande vitória

“O vírus não é uma brincadeira, ele é avassalador”, descreve PaolaMesmo seguindo todos os protocolos de segurança e utilizando os Equipamentos de Proteção Individual (EPI’s) fornecidos pelo hospital em que trabalha, a fisioterapeuta Paola Cherubin Mesquita Gimenes, de 38 anos, foi contaminada pelo novo coronavírus. “Eu coordeno uma equipe de profissionais que estão na linha de frente do combate à doença. Tenho contato com eles, ando por todos os setores do hospital e faço visitas multidisciplinares na UTI. Não tenho como precisar qual foi o momento em que fui exposta ao vírus”, afirma Paola. Os primeiros sintomas — dor de garganta e uma tosse seca e persistente — apareceram no dia 17 de abril. Em seguida, vieram a dor nos olhos e uma cefaleia intensa. O quadro piorou com o surgimento de dor nas costas, cansaço extremo, falta de ar e perda do paladar e do olfato. Um médico amigo a aconselhou a fazer o teste para Covid-19 e o resultado veio positivo.

Para investigar a situação, a fisioterapeuta passou por uma tomografia, que também apresentou uma alteração característica da doença. “A equipe médica optou por me manter internada. Estava debilitada física e emocionalmente. Senti medo e me apeguei na fé. Graças a Deus, fui muito bem assistida e não precisei de oxigenação. Fiz o tratamento com a cloroquina, que era a conduta indicada à época, mas tive fortes efeitos colaterais”, relembra. Em casa, Paola ainda ficou 15 dias isolada do marido e dos filhos. O acolhimento da família, dos amigos e dos vizinhos foi determinante para a recuperação. De volta à rotina, ela faz um alerta para quem ainda não entendeu a dimensão do problema. “O vírus não é uma brincadeira, ele é avassalador. Peço que as pessoas valorizem a vida e priorizem o coletivo. Sou grata porque sei que conquistei uma grande vitória”, emociona-se.

Segunda chance

Depois de enfrentar 21 dias de internação, Felício está totalmente recuperadoJosé Luiz Felício Filho, presidente da Passaredo Linhas Aéreas - Voe Pass, foi um dos primeiros casos confirmados da Covid-19 em Ribeirão Preto. “No dia 15 de março, senti um pouco de dificuldade para respirar. Pensei que estava tendo uma crise de asma e fui para o pronto-atendimento. A equipe que me recebeu disse que os sintomas que eu apresentava levantavam suspeita de H1N1 e do novo coronavírus. Fiquei preocupado, querendo saber o que estava, de fato, acontecendo comigo. Era o início da pandemia, ainda não tínhamos muitas informações sobre a doença e os resultados dos testes levavam dias para sair, mas logo percebi a gravidade do meu quadro. Cerca de três horas depois da minha entrada, já estava em isolamento na UTI”, recorda Felício.

Diagnosticado com Covid-19, o empresário ficou internado por 21 dias no Hospital Ribeirânia, sendo 16 deles entubado. “Agradeço a dedicação dos profissionais que cuidaram de mim, pois, naquele momento, não havia protocolos definidos para casos como o meu. Destaco, em especial, a sabedoria, a habilidade e a conduta humana do Dr. Marcelo Bonvento”, pontua. O empresário, de 43 anos, está plenamente recuperado e descreve o período que passou como uma viagem por um vale sombrio. “Sem dúvida, essa experiência fez com que eu reavaliasse minha vida. Minha fé cresceu muito e estou ainda mais próximo da minha família. Sou outra pessoa e quero aproveitar essa segunda chance da melhor maneira possível. A doença é séria. Quase me levou embora. Temos de respeitar as orientações das autoridades, principalmente o distanciamento social. Assim, podemos ter a esperança de que é só uma questão de tempo até que tudo isso acabe”, enfatiza

Outra perspectiva

Profissional da área da saúde, Danilo Ricardo Laureano, de 37 anos, também faz parte das estatísticas da Covid-19. O técnico de enfermagem atuava na ala reservada para o cuidado de pacientes infectados com o novo coronavírus em um hospital da cidade quando percebeu que algo estava errado. “No dia 7 de abril, durante o meu plantão, notei que estava com febre e comecei a sentir uma forte dor no corpo. Na hora, desconfiei que era dengue. Jamais imaginei que poderia ser Covid-19, porque adotamos rigorosos protocolos de segurança e trabalhamos com todos os equipamentos de proteção individual. Fui para o pronto-atendimento do meu convênio e lá, por precaução, eles decidiram fazer o teste e um Raio-X do tórax. Para a minha surpresa, o resultado foi positivo. Fiquei desesperado porque estava acompanhando o sofrimento dos pacientes com essa doença”, lembra Danilo, que ficou internado por cinco dias, sendo três deles na UTI.

“Tive as duas experiências, a do cuidar e a do ser cuidado”, destaca DaniloSem necessidade de sedação, ele se recorda do período que passou em isolamento. “Uma vez por dia, a equipe trazia um tablet para que eu pudesse conversar com a minha família. Isso me dava forças para lutar. Fui muito bem atendido, inclusive por colegas. Tive as duas experiências, a do cuidar e a do ser cuidado. Senti na pele a importância do toque, do carinho e da atenção. Por isso, assim que eu puder, quero voltar e exercer a minha profissão com mais empenho e amor”, declara. Recuperando-se aos poucos, Danilo ainda lida com o desconforto gerado pelo tratamento com a cloroquina, mas está feliz por estar em casa ao lado da esposa e do filho. “Agradeço o apoio de todos nesse processo, principalmente do meu trabalho. Só quem passou por essa situação sabe a gravidade da doença. Espero que as pessoas acreditem no que estou falando e fiquem em casa”, finaliza.

Recomeço

“Vivo um dia após o outro para conseguir vencer totalmente o vírus”, conta FabianaA técnica em enfermagem Fabiana Cacilda Gabaldo, 43 anos, que trabalha no Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto, tem asma e faz parte do grupo de risco para a Covid-19. Após contrair a doença, a profissional de saúde passou a viver uma espécie de recomeço, com comprometimento no pulmão e uma rotina ainda mais intensa de cuidados com a saúde. 

Fabiana sentiu os primeiros sintomas no dia 18 de abril, mas começou um tratamento para sinusite. Sem melhora, somente no dia 24 de abril, Fabiana fez o teste para o novo coronavírus, que deu positivo. “Como tenho asma, o quadro piorou e precisei ser internada no dia 27 de abril. Tive todos os sintomas da doença e o comprometimento do pulmão foi o mais grave. Com muita dificuldade para respirar, dor de cabeça, corpo muito cansado e diarreia”, descreve. 

Mesmo após a alta do hospital, a técnica em enfermagem conta que situação continuou difícil. “A recuperação da doença é realmente muito lenta. Continuei com dificuldades para respirar e, até hoje sinto cansaço”, descreve. Fabiana retornou ao trabalho no mês março, mas esse recomeço também exige mais esforço. “Foi bem difícil essa readaptação. Faço acompanhamento no HC, com exames periódicos, e vivo um dia após o outro para conseguir vencer totalmente o vírus”, conta.

Nova vida 

Após ser internada por duas vezes por conta da Covid-19, Antônia Gonçalina Massonetto, de 66 anos, precisou se adaptar a uma nova vida por conta das marcas deixadas pelo vírus. “A recuperação foi bem difícil. Até hoje, se fico conversando muito, por exemplo, sinto uma dor no peito. Também me canso com mais facilidade e ainda sinto um mal estar”, conta. Ela já voltou a trabalhar, mas o cotidiano profissional também tem mudanças. “A rotina mudou um pouco, continuo com os exercícios de fisioterapia para a respiração e o esforço traz um cansaço mais rápido”, conta.

Antônia sentiu um forte mal estar no começou no dia 22 de março. Com dificuldade para respirar, dores no peito e saturação baixa, ela foi internada pela primeira vez na Santa Casa no dia 29 de março, onde ficou por quatro dias. “Tive alta pela primeira vez e voltei pra casa, mas continuei sentindo muitas dores no peito e mal estar. Então, voltei para o hospital”, conta. Ela ficou internada por mais oito dias, na oxigenioterapia, sem a necessidade de entubação. “Se não fosse o início da fisioterapia, precisaria ser entubada. Depois que comecei os exercícios, ainda na UTI, fui melhorando até ter a segunda alta, no dia 11 de abril”, conta. 

Depois de sair do hospital, Antonia ficou em isolamento longe do pai, de 93 anos, e da neta, de doisO período dos 15 dias logo após a saída do hospital, em isolamento longe do pai de 93 anos e da neta de 2 anos, também foi complicado. “Senti muito cansaço e dores no peito. Como tomei cloroquina, em um retorno, a médica pediu exames para verificar se estava tudo bem com o coração, mas era resquício da doença mesmo”, conta Antônia, que aprendeu a encarar a vida com outros olhos após a Covid-19. “Vamos vivendo um dia após o outro”, conclui. 

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