Estudante do ensino público de Ribeirão entra em Oxford
Juliano estuda em Oxford

Estudante do ensino público de Ribeirão entra em Oxford

Juliano Morimoto saiu da rede municipal e chegou a uma das principais universidades do mundo

Juliano Morimoto faz doutorado ma InglaterraNa sala D20 do Departamento de Zoologia da Universidade de Oxford, na Inglaterra, um brasileiro de feições nipônicas se mistura aos milhares de estudantes da mais antiga universidade de língua inglesa.
Quem o encontra nos corredores do Departamento de Zoologia ou na sala que divide com outros três doutorandos, não imagina a nacionalidade nem a origem do rapaz de 22 anos.
Egresso de escolas municipais de Ribeirão Preto, Juliano Morimoto conseguiu a proeza de conseguir uma vaga numa das mais disputadas e invejadas universidade do mundo.

O jovem doutorando começou a caminhada rumo à Oxford na Escola Municipal de Educação Infantil (Emei) Carmen Massaroto, onde cursou a Educação Infantil, depois foi para a Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef Anísio) Teixeira. Ele concluiu seus estudos em Ribeirão na Escola Municipal de ensino Médio (Emefem) Dom Luís do Amaral Mousinho.
Olhando para o passado na escola pública, o estudante vê como principais problemas as salas superlotadas e professores desmotivados. "Como um professor vai dar conta de ensinar 45 alunos em uma sala? Muitos professores não tinham ânimo para dar aula, outros eram despreparados. Apesar das limitações, alguns professores se esforçavam em nos ensinar algo", desabafou.
Apesar das dificuldades e problemas das escolas públicas em geral — incluindo as escolas municipais—, Juliano conseguiu, com esforço próprio, uma oportunidade e um apoio de um professor especial, obter uma vaga na Universidade Federal do Paraná, em Curitiba.

Até o final do ensino fundamental, Morimoto era um diamante bruto entre outros matriculados nas escolas da cidade. Quem lapidou este diamante foi o professor de Matemática Rafael Ferreira da Silva.

O professor foi, segundo Juliano, quase um pai para o aluno, mostrando os caminhos a serem percorridos, dando estímulos e valiosos conselhos. "O Rafão (professor Rafael) para mim foi o cara. Sem ele não estaria onde estou hoje. É o meu mestre. Se fosse dar um prêmio para alguém, daria para ele", contou Juliano.

Depois de formado no ensino médio, o estudante fez o vestibular e concorreu pela Cota Social, da qual entrou em primeiro lugar para o curso de Ciências Biológicas na Universidade Federal do Paraná, em Curitiba.
Juliano conta que a oportunidade ganha com a cota mudou de vez a sua vida, pois abriu os horizontes. "Eu era um quando entrei na faculdade, na metade do curso era outro, e quando me formei era outra pessoa", disse.
Juliano aprova tanto as cotas sociais, quanto as raciais — que beneficiam negros e indígenas. "Não é a solução final para o problema da educação, mas precisa dar acesso a quem estudou no ensino público. Quanto às cotas raciais, elas corrigem a distorção histórica que temos entre negros e brancos", declarou.
"Infelizmente, a maioria dos meus colegas de escola não conseguiu entrar numa universidade pública e estão pagando para estudar numa particular, que são de menor qualidade", lamentou.

No terceiro ano da faculdade, o estudante de Ciências Biológicas teve a oportunidade de fazer intercâmbio do programa Ciência sem Fronteiras no Elettra Sincrotrone Trieste, na cidade italiana de Trieste, onde fez pesquisas relacionadas à biologia molecular e estruturas de proteínas para desenvolvimento de medicamentos. Voltou ao Brasil e acabou por se formar seis meses antes do prazo.

"Em Trieste vi na internet a notícia de que o vice-chanceler de Oxford [Andrew Hamilton] estava assinando um convênio com o CNPq [Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico] e iria disponibilizar algumas bolsas para estudantes brasileiros. Aí fui procurar saber como era a seleção e me candidatei", contou. Antes de ser aceito por Oxford, Juliano passou por uma série de entrevistas via Skype até ser convocado para uma entrevista presencial na sede da universidade, na cidade de Oxford.

Selecionado, Morimoto correu para terminar a graduação e se viu estudando de manhã, à tarde e à noite. "Tinha dias da semana que eu entrava às 7 horas da manhã e saía às 11 horas da noite", relembrou. Daí o motivo de ter formado aos quatro anos e meio de curso, ao invés dos habituais cinco anos de estudos, explicou ele.

Com 22 anos e formado, Juliano Morimoto pode, enfim, realizar um sonho que é compartilhado por vários estudantes dedicados: ingressar em Oxford. Seu doutorado (sim, ele foi promovido diretamente ao doutorado sem precisar fazer mestrado) é sobre a seleção sexual dos seres vivos, pesquisa inserida na teoria da evolução que afirma que todos os seres vivos estão interligados.

Seus ensaios são feitos no laboratório D23 do Departamento de Zoologia e são realizados com moscas drosófilas, pela facilidade de manuseio e menor custo. Os estudos são acompanhados por dois professores orientadores, que dão conselhos a Juliano, porém, não se envolvem diretamente nos experimentos.

"É um método diferente do que tem no Brasil. Aqui eles te ensinam a ser um pesquisador totalmente independente. Você aprende praticamente sozinho todas as etapas da produção científica", explicou.

Na famosa cidade universitária, o acadêmico tem a vida corrida. O doutorado é "full time" e normalmente vai das 8h às 17h30. "Mas tem dias que saio bem mais tarde, como dez da noite. Uma vez estava fazendo experimento e saí às duas da manhã", contou.

Juliano recebe do CNPq uma bolsa de cerca de 1.000 libras esterlinas (R$ 3.760) para custeio com alimentação e moradia. O estudante conta que gasta mais da metade do montante só com aluguel.

"O restante gasto com alimentação, que é cara por aqui. Banana, por exemplo, eu pago R$ 8 por três bananas", disse. O programa Ciência sem Fronteira, do governo federal, arca com as taxas da universidade que somam aproximadamente £ 10.000 anuais (no câmbio atual, R$ 37.500).

O jovem terminará seu doutorado entre 2016 e 2017 e depois disto, voltará ao Brasil, onde mantém contato constante com os professores da UFPR. "Quero ser professor na Federal do Paraná e devolver para a faculdade em que formei todo o conhecimento que aprendi. Depois, se tiver oportunidade farei um pós-doc fora do país", planejou.

Revide Online
Texto: Bruno Vogah (Colaborador)
Fotos: Arquivo pessoal (divulgação)

Compartilhar: