Em tempos de paralisação nas rodovias, extinção de ferrovia de Ribeirão completa 20 anos
“É preciso resolver a falta de integração no sistema de transporte”, diz especialista ao Portal Revide
A paralisação dos caminhoneiros que afeta o país nos últimos nove dias mostrou que o Brasil é dependente do transporte rodoviário. Combustíveis, alimentos, gás de cozinha e até dinheiro geraram preocupação - ou falta. Para especialista ouvido pela reportagem do Portal Revide chegou a hora de levar parte da carga transportada por rodovias para outros modais de transporte.
Justamente nesta terça-feira, 29, completa-se 20 anos da extinção da antiga Ferrovia Paulista S.A. (Fepasa), sucessora da estrada de ferro Mogiana, considerada por historiadores um dos marcos para o desenvolvimento e destaque de Ribeirão Preto no interior de São Paulo. Após 20 anos, o que se mantém da histórica ferrovia é a Ferrovia Centro-Atlântica (FCA), gerida atualmente pela VLI.
São mais de 7,2 mil quilômetros de extensão, passando por 316 municípios. Apesar do pouco apelo de um passado áureo, Ribeirão Preto ainda é um dos principais check-points desse percurso, que, atualmente, conta com quatro terminais de carregamento – além de Ribeirão Preto, há os de Paulínia, Uberlândia-MG, Goiandira-GO, e Anapolís-GO.
O produto que mais movimentava o terminal de Ribeirão Preto era o açúcar, levado para exportação no Porto de Santos. Na região, ainda há o Terminal Integrador em Guará, que tem capacidade de movimentar 2,3 milhões de toneladas deste produto por ano, por exemplo.
No entanto, para o engenheiro civil e professor do Centro Universitário Moura Lacerda, Creso Peixoto, que é especialista em transportes, chegou o momento de levar mais cargas para lá, diversificando o sistema de transporte brasileiro, que é concentrado nas rodovias.
“A paralisação dos caminhoneiros mostrou que o Brasil precisa dessas artérias [as rodovias] para mostrar que está vivo neste cenário econômico, mas precisa fortalecer a malha ferroviária e começar a fazer frente com o transporte rodoviário. Ainda falta integração com outros sistemas de transporte”, comenta Peixoto.
Contudo, ele acredita que isso só vai ocorrer quando o governo der garantias e segurança financeira para as concessionárias da malha ferroviária poder investir e ter retorno financeiro. Caso contrário, ele explica, a situação permanecerá do jeito que está atualmente, quase parada, por simplesmente não se mostrar muito mais competitiva no mercado.
Para isso, ele aponta, como uma das soluções, o financiamento a partir do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico Social (BNDES), em que cobre como contrapartidas a obrigatoriedade que se faça o transporte de passageiros, o que, de acordo com ele, implicaria numa maior cobrança para investimentos e manutenção das ferrovias.
“O trem de passageiro precisa de manutenção e modernização. Trem de carga rende sem esses investimentos. Ferrovia de longo percurso é viável para carga. Se tivesse passageiros, seria obrigado a fazer esses investimentos. Tem mais gente para exigir que esse sistema se mantenha bem”, conclui.
Foto: Beth Santos - Secretaria-Geral da PR e arquivo