PróUrbano recebe 11 reclamações sobre transporte coletivo por dia em Ribeirão Preto
Levantamento realizado via Lei de Acesso à Informação mostra quais são as 10 linhas com mais reclamações na cidade

PróUrbano recebe 11 reclamações sobre transporte coletivo por dia em Ribeirão Preto

Linha do Cristo Redentor é a campeã, todos os dias moradores do bairro reclamam da qualidade do serviço

Entre janeiro e agosto de 2019, a PróUrbano recebeu 2,8 mil reclamações envolvendo o transporte coletivo em Ribeirão Preto. Em média, a companhia recebe 11 reclamações por dia. Os dados foram obtidos pelo Portal Revide via Lei de Acesso à Informação.

Ao todo, os passageiros utilizaram o transporte coletivo 35 milhões de vezes, nos oito primeiros meses do ano. Uma média de 144 mil passageiros por dia.

Ou seja, a cada 12 mil utilizações, um passageiro entra em contato com o Consórcio PróUrbano, empresa responsável pelo transporte coletivo na cidade, para reclamar do serviço.

Em contrapartida, no mesmo período, a autarquia registrou 43 elogios. Uma média de um elogio a cada 5 dias, ou então, um elogio a cada 832 mil utilizações.

Por meio de nota, a Transerp amenizou a situação e declarou que a proporção de reclamações, 1 para 12 mil, mostra "a qualidade desse serviço, que certamente será aprimorada mediante a implantação dos corredores estruturais de transporte".

O Portal Revide entrou em contato com o Consórcio PróUrbano, mas a empresa não se pronunciou até o fechamento desta matéria.

Não tão planejado

Dentre as dez linhas que mais receberam reclamações, a média entre o segundo e o décimo colocado é de 60 reclamações nos últimos oito meses. Somente a primeira linha da lista, a do Jardim Cristo Redentor, recebeu 234 reclamações no período.

Para entender o problema, a reportagem do Portal Revide ouviu moradores do bairro que concentra quase 10% de todas as reclamações de transporte coletivo da cidade. Dentre as principais queixas estão a superlotação e ineficiência na cobertura.

Segundo a construtora responsável pelas casas, a intenção é que o local seja o maior bairro planejado de casas do Brasil. São 6,9 mil residências, mas apenas uma linha de ônibus. A demanda elevada pelo serviço faz com que a única linha do bairro esteja, frequentemente, lotada. Além dos problemas de atrasos, em decorrência da superlotação e do longo trajeto realizado.

"O ônibus vem do Centro lotado. Quando chega na Avenida Dom Pedro já não cabe mais pessoas, e na saída da escola isso piora. O motorista não para em alguns pontos da Dom pedro, pois não caba mais ninguém", afirmou a auxiliar de contabilidade Rayane Ferreira.

Já a aposentada Marli Pereira De Freitas Jacob, tem problemas de locomoção. Com fortes dores no quadril e nos joelhos, a aposentada precisa andar cerca de cinco quarteirões para utilizar o transporte coletivo. "Fica muito longe para a gente que mora aqui na parte de baixo do bairro", reclamou.

A distância entre das casas aos pontos também foi outro ponto comentado pelos moradores. Como só há uma linha, que cruza o bairro em sentido único, moradores que precisam sair do de uma extremidade do bairro para outra – geralmente, buscando pela creche e hospital –, precisam fazer o trajeto caminhando. Por isso, uma segunda linha para o bairro, que faz o caminho contrário, é exigida pelos moradores.

A Transerp informou que o bairro Cristo Redentor é atendido pelo serviço de transporte coletivo urbano desde o início de sua entrega, ocorrido em dezembro de 2018. 

"Sendo desde então monitorado continuamente com vistas a adequar, sempre que necessário, a oferta de transporte à demanda registrada, conforme os moradores está ocupando suas casas", comunicou a empresa.

Com isso, segundo a Transerp, a frota de ônibus vem sendo ampliada gradativamente e já conta com 11 ônibus nos horários de pico da manhã e opera com intervalo médio de 11 minutos.

Dobradinha

Outro bairro com problemas no transporte coletivo é o Ribeirão Verde. As duas linhas que atendem aos moradores daquela localidade, Ribeirão Verde I e II, receberam 117 reclamações. Elas aparecem em sexto e sétimo lugar na lista das mais criticadas, respectivamente.

Segundo Luís Antônio França, presidente da Associação de Moradores do Complexo Ribeirão Verde, uma das principais queixas dos moradores do bairro é referente à superlotação das linhas. "Em todos os horários, principalmente, de manhã e de tarde, no horário de pico", afirma.

O líder comunitário solicita mais linhas ao bairro, bem como uma linha expressa. "As linhas também não chegam no Jardim Pedra Branca, que faz parte do Complexo Ribeirão Verde. As cerca de 700 famílias de lá são atendidas, com muita dificuldade, pelas vans", declara França.

Por meio de nota, a Transerp informou que o Ribeirão Verde é atendido por duas linhas, com 19 veículos nos horários de picos de manhã e que o intervalo médio é de cinco minutos. Já sobre o Jardim Pedra Branca, a empresa alega que local presenta condições de acesso, circulação viária e níveis de ocupação não compatíveis com a incursão de ônibus urbano e sim de micro-ônibus.

 

Reclamações

No final de 2017, a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Transporte, na Câmara dos Vereadores, apresentou um projeto que exigia da Transerp a divulgação de um relatório com as queixas dos usuários à PróUrbano. Antes, as queixas não podiam ser acessadas pela população.

Com a aprovação do projeto, é possível acessar às reclamações. O caminho para os dados, contudo, ainda é longo. O usuário precisa acessar o site da Prefeitura, clicar em "Administração Municipal", depois em "Transerp", "Transparência", "Gestão do Transporte Público", "Relatório de Relacionamento com o Usuário", e só assim, depois de seis páginas, escolher o ano e o mês desejado para ter acesso a um documento em formato PDF com as reclamações.

Com base nas reclamações é possível constatar que, somente em agosto, ao menos 30 usuários criticaram que o ônibus não passou no horário estipulado. Em alguns casos, os usuários esperaram por mais de uma hora.

Na maioria das reclamações, a empresa informa que, segundo registrado no sistema de rastreamento eletrônico, o veículo passou no ponto no horário correto.

Também em agosto, cerca de 50 queixas foram registradas acusando uma superlotação de diversas linhas. A resposta ao munícipe, geralmente, é de que a fiscalização do consórcio PróUrbano será intensificada na referida linha com o objetivo de sanar eventuais irregularidades.

Além dessas, existem queixas são a respeito da demora dos motoristas ao saírem dos terminais. Em alguns casos, moradores reclamam de “atrasos” de um ou dois minutos. Em outras situações, com atrasos de cerca de 10 a 15 minutos, o passageiro é orientado que o motorista dispõe de uma pausa a cada viagem para ir ao banheiro.

Como nem todos os terminais possuem banheiros em condições ideais de uso, alguns motoristas esperam chegar em terminais com melhores condições, ou utilizam os banheiros de bares, supermercados ou onde mais conseguirem parar.

Condições de trabalho

Os próprios motoristas enviaram fotos e vídeos ao vereador Marcos Papa (Rede), denunciado a situação do Terminal Evangelina de Carvalho Passig, na Avenida Jerônimo Gonçalves.

Nas imagens, é possível ver a presença de baratas na área destinada à alimentação dos motoristas. Além disso, os banheiros, exclusivos dos motoristas, é utilizado por moradores em situação de rua. O local estava com lixo e em condições precárias de higiene.

Os trabalhadores também reclamam de vasos sanitários entupidos, luzes queimadas e falta de tranca nas portas dos banheiros exclusivos. Após a denúncia e a repercussão do caso, os banheiros foram limpos.

Foto enviada por um dos motoristas do banheiro do terminal

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Contrato

O contrato com o ProUrbano, firmado em 2012, tem duração de 20 anos, com um custo global de R$ 2,2 bilhões ao município. Dentre as obrigações assumidas pela empresa está a construção de 500 pontos de parada com abrigo. Até o momento, foram instalados 150 na cidade.  

A meta é que sejam entregues cerca de 25 por ano, para que os 500 sejam entregues até o final do contrato, em 2032. Atualmente, Ribeirão Preto conta com 3029 pontos de parada, sendo 925 com abrigo e 2104 sem abrigo.


Foto: Arquivo Revide

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