Entendendo o câncer

Entendendo o câncer

Por Dr. Bruno Andraus Filardi

Câncer é uma doença genética causada por alterações no DNA. Mas, o que define o câncer são características e comportamentos específicos desse novo tecido corporal (neoplasia = novo tecido) e não suas mutações genéticas em si. Então, qual a relação entre mutações genéticas, hereditariedade e câncer? O câncer possui capacidades e características que o definem: imortalidade, invasão de outros órgãos, migração e metástases a distância, evasão a resposta imune, entre outras. Em nosso DNA, estão as informações de como nosso corpo será constituído. Como uma planta de arquitetura, que serve de base para a construção de um edifício. Comparamos também as estruturas físicas do edifício com proteínas, que são sintetizadas a partir dos nossos genes. Usando essa mesma ideia, se houver alterações nessa planta arquitetônica hipotética (genes), as proteínas do nosso corpo serão bioquimicamente alteradas e, com isso, podem, também, ter suas funções alteradas. 


O metabolismo de uma célula normal depende das adequadas e extremamente complexas funções proteicas. Mutações em genes importantes podem alterar vias metabólicas, ocasionando um evento em cascata, que leva a mais divisões celulares desorganizadas, surgimento de novas mutações com mais e mais modificações no metabolismo celular. Estabelece-se um ciclo vicioso que pode, finalmente, ocasionar uma célula cancerígena. 
De modo simplificado, dividimos os genes cujas mutações (variantes) podem levar ao câncer em dois grupos: oncogenes e genes supressores tumorais. Oncogenes são genes cujos produtos funcionais (uma proteína, por exemplo) participam de processos vitais ao metabolismo celular. Mutações nesses genes podem causar alterações estruturais nas suas respectivas proteínas, promovendo a ruptura do metabolismo normal, fazendo a célula apresentar as características condizentes com as neoplasias, conforme explicamos acima. Em última análise, um oncogene promove direta e indiretamente as transformações da célula saudável em uma célula cancerígena.

 

Os genes supressores tumorais, como o próprio nome diz, são genes que codificam proteínas capazes de impedir o desenvolvimento do câncer, corrigindo erros do DNA durante a replicação e divisão celular, além de outras funções associadas. Aqui, então, algumas variantes genéticas podem levar a perda de função. Existem variantes genéticas hereditárias (herdadas dos nossos pais) que acarretam alto risco para desenvolvimento de câncer. Hoje em dia, sabemos que cerca de 15% (ou 1 a cada 8) dentre todos os tumores malignos estão associados a essas variantes e podemos identificá-las com exames. Uma vez hereditárias, naturalmente, podemos transmitir aos nossos filhos.


Alguns tumores, em especial, chamam a atenção para a grande possibilidade de alguma variante genética herdada. Por exemplo: triplo negativo de mama, ovário, pâncreas, próstata metastático e intestino, entre outros. Mas, também, características familiares que apontam para a possiblidade de variantes genéticas hereditárias, como mais de um caso de câncer de um mesmo grupo em parentes próximos (mama, ovário, próstata e pâncreas, por exemplo) indicam uma avaliação para aconselhamento genético.


Descobrir uma variante genética hereditária que leva a alta probabilidade de câncer tem implicações importantíssimas na família cometida. Podemos agir para identificação precoce da doença, fazer tratamentos específicos a diminuir o risco de câncer e até cirurgias preventivas. A oncogenética é a área da Medicina que atua na identificação desses casos, realiza o aconselhamento genético, solicita exames de avaliação genética, os interpreta e faz o seguimento das pessoas com risco de câncer aumentado.

 

Antes de se pensar em fazer um exame genético, é extremamente importante que haja uma avaliação da história pessoal, familiar, seja explicado os benefícios e as limitações do exame em questão. Da mesma forma que o resultado do exame deve ser avaliado por um médico profissional da área, para que as orientações e condutas baseadas no resultado do exame sejam tomadas de acordo com as evidências científicas. Hoje, conseguimos identificar os casos de variantes de alto risco na prática clínica e podemos encontrar variantes de alto risco para câncer em cerca de 1 a cada 20 ou 30 famílias, aproximadamente. Além de oferecermos o mais completo tratamento contra o câncer, aqui na ProOncoGen, realizamos a avaliação em oncogenética que apresentamos nesse artigo. Agende uma consulta conosco.

 

Dr. Bruno Andraus Filardi
Oncologista com PhD em Medicina pela USP e oncogeneticista pelo
Hospital Albert Einstein. Atende na clínica ProOncoGen, no Centro Médico do
RibeirãoShopping. Tel.: (16) 4009.8140

 

*Artigo veiculado na edição impressa 1.178 

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