OPINIÃO: A fibromialgia não é coisa da sua cabeça

OPINIÃO: A fibromialgia não é coisa da sua cabeça

Por Marcos Aurélio de Freitas Machado

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Dia 12 de maio é o Dia Mundial da Fibromialgia, essa “doença invisível” que precisa ser vista e compreendida. A fibromialgia (FM) é uma causa muito frequente de dor crônica e a causa mais comum de dor musculoesquelética generalizada em mulheres entre 20 e 55 anos. No Brasil, ela acomete cerca de 2,5-3 % da população geral (aproximadamente 6.500.000 pessoas), sendo bem mais frequente nas mulheres que nos homens.

A FM é uma síndrome que se caracteriza por dor musculoesquelética generalizada e crônica (pelo menos 3 meses de duração) e que é acompanhada de sintomas como fadiga, distúrbios do humor e do sono.

A FM tem sido uma condição controversa. Observando uma paciente portadora de FM, ela parece estar bem, apesar das queixas de dores generalizadas e que muitas vezes limita suas atividades em graus variados. Não há anormalidades no exame físico (sinais), além da hipersensibilidade generalizada à palpação dos tecidos moles e os exames laboratoriais e radiológicos também são normais.

Assim, o papel de doença orgânica foi e ainda tem sido questionado e a FM tem sido considerada por alguns como psicogênica e psicossomática, como se isto fosse sinônimo de fingimento e simulação, e não uma característica patológica dessa síndrome. No entanto, pesquisas atuais têm mostrado que a FM é causada por um distúrbio no mecanismo de regulação da dor no sistema nervoso central, o que faz com que as pacientes sintam dores desproporcionais aos estímulos dolorosos (hiperalgesia) e também sintam dores desencadeadas por estímulos não dolorosos (alodínea), como por exemplo o frio e o vento.

Não há como negar, portanto, o caráter pejorativo do nome fibromialgia em virtude da sua abundância de sintomas e a ausência de sinais ou exames capazes de comprovar a sua patologia, o que faz com que as portadoras dessa síndrome procurem outro diagnóstico para explicar suas dores. É comum também uma grande percentagem dos peritos negar a possibilidade de sua incapacidade, mesmo que temporária, com a frase pronta de que “esta doença não dá direito a afastamento laboral”.

Os profissionais da saúde precisam entender a natureza sintomática da síndrome da fibromialgia e explicar para a paciente que, apesar dessas características, ela não é “coisa da sua cabeça” e a paciente não está criando seus sintomas. Devem também explicar que a fibromialgia é uma doença como outra qualquer, que se diferencia por apresentar sinais e exames subsidiários para sua comprovação.

Uma atitude positiva e otimista frente ao tratamento, compartilhada entre o paciente e seu médico, é fundamental. No tratamento da FM são usados alguns medicamentos para inibir a resposta e a percepção central da dor e, principalmente, a indicação da prática de atividade física com regularidade com o objetivo de aumentar e normalizar o nível de substancias analgésicas produzidas pelo nosso organismo (neurotransmissores endógenos), reverter e evitar as contraturas musculares e melhorar o funcionamento da dinâmica muscular. Quando necessário, o paciente pode fazer um acompanhamento psicológico com tratamento cognitivo-comportamental.

Neste Dia Mundial da Fibromialgia desejamos compartilhar com as pacientes portadoras de fibromialgia as dificuldades com as quais elas vivenciam no seu dia a dia e, principalmente, lhes enviar uma mensagem de otimismo de que pesquisas médicas são feitas permanentemente para melhorar o prognóstico e a qualidade de vida dos portadores de sua síndrome.

*Texto assinado pelo médico Marcos Aurélio de Freitas Machado


Foto: Divulgação

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