Os atentados que mudaram os pequenos mundos

Os atentados que mudaram os pequenos mundos

Nesta sexta-feira, são completados 14 anos dos atentados terroristas de 11 de setembro, que mudaram a vida de muitas pessoas em Nova Iorque e no Brasil

Para muitos, os atentados terroristas contra as torres gêmeas em Nova Iorque de 11 de setembro de 2001 foram o ponto de início definitivo para o século XXI. Foi a pá de cal sobre a Guerra Fria, já que o mundo não seria dividido entre duas nações rivais, mas sim, entre os estados e as instituições contra o terrorismo, prática até então restrita a grupos anarquistas do século anterior, do Exército Republicano Irlandês (IRA), e do ETA basco, na Espanha.

A diretora financeira em uma escola de Ribeirão Preto, Camille Velloso, vivia em Nova Iorque em 2001. E morava a apenas seis quadras das torres do World Trade Center (WTC). E lembra que o primeiro contato com a colisão dos aviões nos prédios foi pelo barulho.

“Eu tinha acabado de acordar quando ouvi um barulho, mas só fui saber que um avião bateu ali, quando liguei a televisão e vi pela CNN. Mesmo assim, no primeiro momento achei que foi uma barbeiragem do piloto, já que o espaço aéreo da ilha de Manhattan é restrito”, conta Camille.

Tanto, que a então professora de português para estudantes norte-americanos, ligou para a mãe para deixá-la tranquila sobre os acontecimentos, porque estava tudo bem. “Falei: ‘mãe, bateu um aviãozinho no prédio aqui do lado, mas está tudo bem comigo’, e ela respondeu positiviamente, tanto que ela e meu pai chegariam na cidade no outro dia”, recorda.

Camille diz que só se deu conta da gravidade do que estava acontecendo quando houve o segundo ataque. “A fumaça estava indo direto para minha casa. Quando saímos de lá para ir para outro ponto de Nova Iorque, todo mundo vinha em nossa direção. Bombeiro, polícia, ambulância, então decidimos voltar e esperar”, e ela acrescenta que ao lado da casa em que vivia, havia um posto de bombeiros, que no socorro as vitimas dos atentados, morreram todos.

“Conviver com aquilo é o pior de tudo, por causa do cheiro da morte. Ficamos uns dez dias em casa. Virou terra de ninguém. Para se locomover pela região tinha que mostrar os documentos. E um porta aviões da marinha dos Estados Unidos ancorou no Rio Hudson, então era o dia e a noite inteira com o barulho dos caças pousando e partindo. Parecia Poltergeist”.

Mãe de Chicago

Também nos Estados Unidos, mas em Chicago, uma professora brasileira dava à luz uma menina no mesmo dia. Yara Araújo teve a criança antes dos atentados, portanto não sentiu nenhuma diferença naquele instante, mas durante o dia, as visitas e funcionários do hospital não desgrudavam da televisão.

“Acho que todos estavam assustados sem saber o que aconteceria depois disso. Não lembro de muita coisa, porque depois do parto acho que a gente fica meio aérea e eu só queria minha bebezinha comigo”, recorda Yara.

A professora lembra que o marido foi para casa assim que a criança nasceu para poder dormir, então não ficou sabendo de nada que acontecia, e só voltou depois que aconteceu os atentados.

“Ele chegou falando: ‘Nossa. Você não vai acreditar o que aconteceu?', e eu perguntei o que o que era. Pensei que aconteceu algo com a minha filha. E ele disse: ‘não, nada com a Lívia, mas aconteceu um atentado e blá blá blá’, e eu pensei  ‘tudo bem com a Lívia, então está bom. A gente não tinha noção do que realmente estava acontecendo”, argumenta.

Depois, ela foi para casa, e aos poucos entendeu o que havia acontecido. “Mas na hora ninguém estava entendendo nada. Nem os americanos”, completa.

Reflexão

Mesmo sem ligação direta com a cidade de Nova Iorque e com os Estados Unidos, os brasileiros foram muito marcados pelos atentados de 11 de setembro, tanto que o presidente Fernando Henrique Cardoso foi o primeiro chefe de estado no mundo a se manifestar sobre o ocorrido, antes mesmo do norte-americano George W. Bush, como aponta Camille.

“Tanta coisa doida. Mas hoje vemos o que acontece pelo mundo, como o Estado Islâmico cometendo diversos ataques. Vê que são coisas parecidas. Todo mundo deixou de ser inocente”, aponta.

Para ela e diversos brasileiros, muitas mudanças transformaram o planeta a partir daquele momento. Muitos, que estavam trabalhando ou chegando da escola enquanto tudo era transmitido ao vivo pela televisão.

“Lembro das cenas como se fossem hoje. Na época morava em São Paulo, e trabalhava em um escritório comercial com mais de 100 pessoas no mesmo andar. Todos foram chamados para o auditório para ver as cenas do inesquecível atentado. E aquele escritório comercial, agitado, barulhento se transformou em um silencio, parecia que todos estavam vendo um filme de terror e ninguém no momento acreditava que aquilo era verdade. Foram alguns segundos que mudaram a América e o mundo. Hoje vejo que após esse ataque,  muitas coisas mudaram. A América, com a entrada do Obama, ficou mais amigável com os vizinhos, e em contra partida com a morte do Osama Bin Laden, fez o grupo Al-Qaeda perder forças, o que trouxe muita tranquilidade aos americanos, embora eles nunca mais dormirão tranquilos sabendo que a qualquer momento pode vir um novo acontecimento”. Claudio Mussalam, diretor comercial

“Eu tinha uma confecção de lingerie com a minha filha, e estava criando um modelito novo, toda animada. O dia prometia. A TV estava ligada um pouco longe da gente. Só ouvimos umas exclamações fora do comum da apresentadora, depois uns gritos. Fomos ver o que estava acontecendo, e só consegui pensar: ‘puta que pariu! Conseguiram de novo enganar o mundo inteiro!’. Nunca acreditei na versão dos americanos. E a tristeza e a impotência que toma conta da gente? Acabaram com meu dia. Joguei fora minha TV! Não tenho televisão. Tenho aversão. Não só por isso, mas foi a gota d'água” Sonia Paschoalick, cantora

“Eu era adolescente. Lembro-me de ter chegado do colégio para almoçar na casa da minha madrinha que assistia naquele horário sempre a Olga Bongiovanni. O jornalismo  da Band entrou na transmissão ao vivo quando  houve a primeira colisão e eu, como centenas de pessoas, tive a infelicidade de assistir as pessoas  se jogando das torres, a segunda colisão e por fim as estruturas desabando. Constatei que deveria ter  desligado antes a TV. Estive em Nova Iorque no começo de 2015 e o novo prédio ainda não estava aberto para visitação, mas, pude conhecer o Marco Zero. Há naquele espaço  uma energia que eu nunca havia sentido em nenhum  outro lugar. Um mix de emoções, um vazio mas, havia também paz, não mais dor, nem sofrimento e claro, uma enorme vontade por parte daquela comunidade  toda em volta de  recomeçar. Essa é palavra, recomeço”. Pedro Leão, ator

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Leonardo Santos

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