Pesquisas eleitorais
Pesquisa eleitoral é ferramenta de opinião pública que verifica a preferência do eleitorado no período que antecede a eleição

Pesquisas eleitorais

Entenda como funcionam os levantamentos, se são confiáveis e de que forma influenciam os eleitores brasileiros na hora de votar

As pesquisas eleitorais têm um grande espaço em época de eleições. Afinal, elas mostram as tendências de votação naquele momento e criam expectativas – ou frustrações – aos candidatos e aos eleitores. De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a pesquisa é “a indagação feita à eleitora ou ao eleitor, em um determinado momento, a respeito das candidatas e dos candidatos que podem disputar ou já concorrem em uma eleição”. É uma ferramenta de opinião pública que verifica a preferência do eleitorado nos meses ou dias que antecedem uma eleição. O TSE informa ainda que as empresas que fazem essas consultas relacionadas às eleições ou a candidatos são obrigadas a registrar os levantamentos no Sistema de Registro de Pesquisas Eleitorais (PesqEle) da Justiça Eleitoral até cinco dias antes da divulgação.

 

O consultor em Estatística e Data Science e professor universitário Wagner Aparecido Cavalli explica que uma pesquisa eleitoral é realizada seguindo as seguintes etapas: contratação de um instituto de pesquisa e registro no site do TSE; elaboração do questionário contendo as perguntas que serão feitas aos eleitores; e definição do procedimento ou plano amostral (proposição da metodologia da pesquisa, com definição do número de entrevistados e forma como será realizada a seleção das pessoas para participar das entrevistas). “Os entrevistadores são treinados pelo instituto e recebem instruções específicas para cada projeto realizado. A coleta será feita com a utilização de tablet e questionário eletrônico. Antes do processamento final e emissão dos resultados, realiza-se processo de consistência dos dados. Os dados coletados e tratados nas pesquisas atendem às exigências da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), garantindo ao respondente o sigilo de sua identidade e o correto tratamento de suas respostas”, afirma.

 

Segundo Cavalli, as pesquisas de intenção de votos vêm sendo aplicadas nos processos eleitorais há décadas. Com o passar dos anos e a intensificação do uso dessas pesquisas, fez-se necessário sua regulamentação em 1997, que traz disposições acerca de conduta e obrigatoriedade do cadastro junto à Justiça Eleitoral, além de informações como: quem contratou a pesquisa, valor e origem dos recursos, metodologia e período de realização, plano amostral e ponderação quanto a sexo, idade, grau de instrução, nível econômico e área física de realização do trabalho a ser executado, confiança e margem de erro, entre outros. “Assim, o primeiro ponto que pode ser observado, para aumento da confiabilidade da pesquisa, é a verificação do seu registro na Justiça Eleitoral, o que gera um código específico, que poderá ser consultado por qualquer pessoa na página do Sistema de Registro de Pesquisas Eleitorais. Contudo, o TSE não se responsabiliza pela veracidade ou qualidade da pesquisa registrada. As empresas são responsáveis pelas informações prestadas”, detalha. O especialista ressalta que outro item importante para checar a veracidade e confiabilidade de uma pesquisa publicada no TSE é verificar a filiação do instituto à Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (ABEP). “A filiação não é obrigatória. Porém, ao filiar-se, a empresa aceita seguir determinados critérios internos, incluindo a possibilidade de auditoria”, comenta.

 

Para o professor, não há sentido em se dizer que pesquisas pré-eleitorais “erram” ou “acertam” o resultado das eleições. Afinal, os levantamentos são uma “foto do momento”, mas não uma previsão. “Analogamente, é como se a pesquisa representasse um frame, e o processo eleitoral correspondesse ao filme todo. Seria como se apertássemos a tecla “pause” do controle e, com a tela congelada, tentássemos prever o que acontecerá na próxima cena. As várias pesquisas, realizadas ao longo do tempo, devem ser usadas para análise das tendências. Além disso, mesmo os partidos que criticam as pesquisas de intenção de voto, na realidade, utilizam seus resultados para reajuste ou realinhamento de rota ou estratégia”, esclarece Cavalli.

 

Líder do governo na Câmara, o deputado Ricardo Barros pretende apresentar um projeto de lei que criminaliza os erros nas pesquisas eleitorais. No entanto, Cavalli diz que não acredita, na possibilidade de má-fé ou interesses eleitoreiros por parte dos institutos de pesquisa. “Talvez, o momento atual que estamos vivenciando tenha trazido um cenário novo, para o qual há necessidade de readaptação da metodologia. Como exemplo, podemos citar o surgimento do ‘voto envergonhado’ ou tendência do ‘voto de última hora’, fenômeno que vem sendo observado desde 2016, na eleição de João Dória para a Prefeitura de São Paulo, e em 2018, com Wilson Witzel eleito governador do Rio de Janeiro”, destacou. Ele aconselha que um dos caminhos para começar a separar o joio do trigo é analisar o histórico do instituto de pesquisa, seu tempo de atuação no mercado, quem são seus responsáveis e se há credibilidade na região em que atua.

 

Cálculos

 

O professor da Unaerp Henrique Gabarra, da área de estatística, salienta que as pesquisas, inclusive as eleitorais, em geral, são feitas com amostras. “São selecionados eleitores que respondem a um questionário elaborado pelos institutos de pesquisas. O número de eleitores a serem consultados para que se tenha determinada margem de erro ou confiança nos resultados é fornecido por cálculos estatísticos bem conhecidos e reconhecidos como válidos. Então, ao se considerar o resultado obtido em uma amostra como aquele que será encontrado na eleição propriamente dita, relata-se uma margem de erro, isto é, uma incerteza nesse resultado por se ter consultado apenas uma pequena parte da população”, explica.

 

Ele informa que, nos levantamentos eleitorais, o valor comumente utilizado para a margem de erro é de, no máximo, 2%, isto é, o resultado real da votação pode estar no intervalo entre a intenção de voto obtida na amostra subtraindo-se 2% e somando-se 2%. O que usualmente não é divulgado é que a estatística ainda considera um grau de confiança nessa afirmação, que tem uma chance de estar incorreta. O grau de confiança normalmente utilizado é de 95%, assim há uma probabilidade de 5% de que o resultado efetivo obtido na eleição esteja fora do intervalo determinado pela margem de erro. “Isso porque cada vez que se colhe uma amostra, o resultado obtido é diferente da amostra anterior. No caso da intenção de voto, a situação é mais incerta, porque a amostra deve ser colhida em todo o país. Todas as capitais de estado são incluídas na pesquisa, mas os municípios são escolhidos por sorteio. É conhecido que os municípios apresentam tendências diferentes de voto. E a pesquisa é uma fotografia de um momento, e a intenção de voto pode mudar no decorrer da campanha eleitoral”, esclarece.

 

Em resumo, segundo Gabarra, a metodologia de coleta da amostra, etapa crítica de qualquer pesquisa amostral, associada à variação nas intenções de voto individuais, consegue chegar a resultados que podem espelhar a realidade dentro do grau de incerteza próprio do processo, mas é importante estar ciente de que há uma probabilidade do resultado da pesquisa não representar fielmente o resultado final das eleições.

 

Além disso, ele elucida que as projeções baseadas em consultas a uma amostra de eleitores são confiáveis dentro da margem de erro relatada e do grau de confiança estabelecido. “O grau de confiança deveria sempre ser ressaltado nas divulgações, juntamente com a margem de erro. Mas essa confiabilidade se reduz quando você considera o voto útil, ou por rejeição, que é imprevisível e normalmente definido às vésperas do pleito”, enfatiza.

 

O professor da Unaerp ainda detalha que os grupos que votam em seus líderes não são influenciados pelas pesquisas eleitorais. “Acredito que os que são mais influenciados por esses resultados são aqueles que votam por rejeição, isto é, deixam de votar no candidato de sua preferência para votar em algum outro, mesmo que não tenha sua total aprovação, para que um terceiro não seja eleito. Esse grupo sim, pode ser influenciado pelo resultado das pesquisas eleitorais”, especifica.

 

De acordo com Gabarra, quando uma pesquisa não “acerta” o resultado eleitoral, uma explicação é o processo de amostragem, isto é, a amostra coletada não representa fielmente a população. Por outro lado, uma forma de se criar uma tendência nos resultados é selecionar uma amostra propositalmente distorcida. “Por exemplo, se nesta última eleição mais eleitores de uma determinada região fossem consultados, o resultado seria diferente daquele onde mais eleitores de outra determinada região fossem consultados. Acrescente a isso a volatilidade da intenção de voto dos grupos que votam por rejeição, a consequência é que o resultado obtido na amostra (pesquisa eleitoral) pode se distanciar dos resultados obtidos na consulta à população (votação efetiva)”, explica.

 

Para o professor, criminalizar possíveis erros dos levantamentos eleitorais seria quase tão válido como criminalizar os erros da previsão do tempo. Isso porque, segundo ele, nenhum processo estatístico garante 100% de confiança nos resultados. “Sempre há uma chance de se estar errado além da margem de erro. No caso de pesquisas eleitorais, há ainda a mudança de intenção de voto às vésperas da eleição. Penso que poderia haver maior divulgação da própria divulgação da metodologia de pesquisa utilizada pelos institutos em seus portais. E a mídia em geral poderia divulgar comparativamente os resultados de diversos institutos minimamente confiáveis. Com o tempo, os institutos que, recorrentemente, apresentarem resultados muito fora da margem de erro, vão perdendo a credibilidade junto à população atenta”, defende.

 

Posicionamento

 

Em nota, o Instituto Ipec (Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica) informou, após o final do primeiro turno das eleições, que as pesquisas eleitorais medem a intenção de voto no momento em que são feitas. Quando feitas continuamente ao longo do processo eleitoral, são capazes de apontar tendências, mas não são prognósticos capazes de prever o número exato de votos que cada candidato terá. “Especificamente com relação a estas eleições presidenciais, nossa última pesquisa mostrou que não era possível afirmar se a eleição acabaria ou não no primeiro turno. Assim se confirmou. A pesquisa Ipec apontava Lula como o candidato que ficaria melhor posicionado no 1º turno. Isto também se confirmou. Já o presidente Jair Bolsonaro obteve seis pontos a mais do que a pesquisa mostrava. Em nossa avaliação, isto ocorreu por tendências também já apontadas pela pesquisa: 3% que ainda estavam indecisos; Ciro Gomes, que na pesquisa aparecia com 5% e obteve 3% dos votos na apuração; além do índice de Simone Tebet que também ficou um ponto abaixo do que a pesquisa mostrava (obteve 4% na apuração vs. 5% na pesquisa). Tais fatores já demonstravam uma provável migração de votos desses dois candidatos para Jair Bolsonaro. As estimativas de Branco, Nulos e outros candidatos ficaram em linha entre o TSE e a pesquisa”, diz a nota.

 

Em relação às variações de resultados observadas nas pesquisas estaduais do 1º turno, o Ipec “reforça seu compromisso de buscar soluções que eventualmente possam ser agregadas ou consideradas em conjunto com a sua metodologia e procedimentos operacionais”. Contudo, este é um processo que requer tempo de estudo, análise e comprovação de hipóteses, para que possam ser implementados. “Por fim, o Ipec reafirma o firme compromisso de seguir realizando seu trabalho com a mesma correção, seriedade e dedicação, especialmente a partir dos dados de uma eleição onde a divisão do país representa uma maior dificuldade em se fazer estimativas”, finaliza a nota.

 

A CEO do Ipec, Márcia Cavallari, explica que as perguntas dos levantamentos eleitorais têm que ser elaboradas com vocabulário simples, construções diretas e bem balanceadas. “A ordem das perguntas também é bastante importante, pois uma pergunta pode ter um efeito sobre a outra. Na pergunta espontânea, questionamos em quem a pessoa vai votar sem mencionar os nomes dos candidatos. Já na pergunta estimulada, apresentamos um disco com o nome dos candidatos e perguntamos em quem a pessoa votaria se os candidatos forem aqueles que estão listados”, detalha. 

 

Ela ainda destaca que todo levantamento feito por amostragem possui margem de erro associada, pois não abrange todos os eleitores brasileiros. A margem de erro está prevista pela própria teoria estatística e que, na verdade, é um desvio técnico. “Com a margem de erro amostral da pesquisa, construímos intervalos de confiança para as estimativas da pesquisa. Quando dizemos que a margem de erro amostral da pesquisa é de 3 pontos percentuais com 95% de confiança, quer dizer que se tirarmos 100 amostras simultâneas, em 95 delas as estimativas estarão dentro dos intervalos de confiança calculados através de uma única pesquisa. E em 5 delas podem ficar fora da margem de erro estimada”, esclarece Márcia.

 


Foto: Freepik (foto ilustrativa)

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