O que se sabe até o momento sobre o acidente da Voepass
Destroços de avião já estão na sede da Voepass, em Ribeirão Preto, para análise das possíveis causas do acidente; aeronave caiu em Vinhedo, causando a morte de 62 pessoas
Duas semanas após a queda do avião da VoePass Linhas Aéreas, em Vinhedo, no interior de São Paulo, os desdobramentos da tragédia ainda ecoam pelo Brasil. Às 13h25 do dia 9 de agosto, a aeronave, que havia decolado de Cascavel, no Paraná, com destino ao Aeroporto de Guarulhos, caiu em uma área residencial, causando a morte dos 58 passageiros e dos quatro tripulantes que estavam a bordo. É acidente aéreo em solo brasileiro com o maior número de vítimas desde 2007, quando um avião da TAM matou 199 pessoas em São Paulo.
De acordo com a Força Aérea Brasileira (FAB), o voo estava dentro da normalidade até as 13h20. Às 13h21, não respondeu às chamadas da torre de São Paulo, além de não ter declarado emergência e nem ter reportado estar em condições meteorológicas adversas. "A perda do contato radar ocorreu às 13h22", informou. Foi por volta desse horário que imagens e vídeos do avião caindo começaram a circular nas redes sociais. Logo depois, houve a confirmação da queda.
O Instituto Médico Legal de São Paulo (IML) ficou encarregado das identificações das 62 vítimas do acidente. De acordo com o IML, para identificar as vítimas, os médicos-legistas usaram o reconhecimento digital na maioria dos corpos, e, em alguns casos, o histórico odontológico. Não foi preciso realizar exames de reconhecimento de comprovação biológica por meio de DNA. O trabalho de identificação foi concluído no dia 15 de agosto, feito exclusivamente no IML Central de São Paulo.
DESTROÇOS E ÚLTIMAS ATUALIZAÇÕES
Os destroços do avião já estão na sede da VoePass, em Ribeirão Preto. A retirada dos restos da aeronave do local da queda terminou no último fim de semana. As bagagens foram recolhidas e estão em processo de limpeza e separação. Em São Paulo, os dois motores do avião são examinados nas instalações da Aeronáutica. Em Brasília, os peritos continuam os trabalhos de análise das duas caixas-pretas. A FAB confirmou a extração, com sucesso, das informações dos gravadores de voz da cabine e de dados de voo. E agora fazem um estudo dos diálogos na cabine entre a tripulação e o controle do espaço aéreo, além possíveis alarmes sonoros.
Em outra frente, defensorias e os ministérios públicos de São Paulo e Paraná trabalham para garantir indenizações e a liberação do seguro obrigatório às famílias das vítimas. A FAB espera apresentar, em cerca de 20 dias, relatório preliminar sobre a investigação do acidente.
“No momento, a VoePass Linhas Aéreas aguarda as investigações do CENIPA (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos) e demais autoridades em relação ao acidente ocorrido no dia 9 de agosto de 2024, com o voo 2283, na região de Vinhedo. A companhia está colaborando prontamente para que esta conclusão seja breve e esclarecedora e quaisquer informações que estejam relacionadas à investigação, neste momento, estão restritas às autoridades”, informou nota divulgada pela assessoria da VoePass no dia 20 de agosto.
A Associação Brasileira das Empresas Aéreas (ABEAR) informou à equipe de reportagem que as companhias aéreas associadas seguem as normas e diretrizes operacionais estabelecidas pelos órgãos reguladores da aviação, tendo a segurança de voo como valor inegociável e pilar da indústria da aviação. “A ABEAR ressalta que a VoePass atua em conformidade com o robusto conjunto de regulamentações definidas para a aviação comercial brasileira”.
VISÃO DE UM ESPECIALISTA
O professor Fernando Catalano, titular da Escola de Engenharia de São Carlos (USP), explicou que o forte ruído relatado por testemunhas durante a queda poderia ter sido causado pelas hélices do avião girando em potência máxima em uma situação anormal, conhecida como "parafuso chato".
Em relação à hipótese de que a formação de gelo nas asas poderia ter contribuído para o acidente, Catalano destacou que essa é uma ocorrência comum em situações atmosféricas de alta umidade e baixa temperatura. Ele explicou que "essas gotículas em contato com as superfícies do avião podem congelar rapidamente e, dependendo das condições, formar crostas de gelo que podem mudar o formato aerodinâmico das asas e estabilizadores, congelar dobradiças e sensores". Catalano ainda enfatizou que, embora as aeronaves sejam equipadas com sistemas de degelo e anti-gelo, em situações de gelo severo, esses sistemas podem não ser suficientes para evitar totalmente a formação de gelo, o que exige manobras evasivas da tripulação.
Sobre o fato de a aeronave estar em sua quarta viagem no dia do acidente, o professor afirmou que a aeronave ATR é projetada para operar em várias viagens curtas, dentro da regularidade. "A limitação do número de voos está muito mais ligada ao período de limitações dos aeroportos de operarem à noite e da escala dos pilotos", esclareceu. Questionado sobre possíveis causas para a queda, Catalano foi cauteloso, afirmando que "todo acidente é uma sucessão de causas, e é muito difícil palpitar sobre as causas que resultaram na queda do avião em um parafuso chato".
Foto: Divulgação Governo do Estado de São Paulo