Uma trajetória de altos e baixos
Nascida em Ribeirão Preto como Passaredo, Voepass foi a aérea que mais cresceu no Brasil, no último ano, mas teve que superar períodos de grandes dificuldades
Criada em Ribeirão Preto, a Voepass tem uma história de 29 anos na aviação comercial permeada por altos e baixos, que foram de cessamento total das operações, por dois anos, a detenção do título de companhia aérea mais segura do Brasil em site internacional especializado [confira a linha do tempo abaixo]. Atualmente, é considerada, pela Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), a mais antiga empresa aérea em operação no Brasil e a que mais cresceu no último ano, considerando voos domésticos. De acordo com a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), é a quarta maior do país, com uma participação de 0,5% do mercado doméstico.
A origem da Voepass está ligada ao empreendedorismo de José Luiz FelÍcio (1942-2023), neto de libaneses natural de Mococa, no interior de São Paulo. Segundo a Abear (Associação Brasileira das Empresas Aéreas) – à qual a Voepass é associada desde setembro de 2018 –, ele iniciou sua jornada na área de transporte aos 13 anos de idade, quando apoiava o pai na implantação de linhas de ônibus ligando o interior e a capital paulista. Nasceu assim, em 1978, a Viação Passaredo, no Vale do Paraíba.
Em 1995, o empresário fundou a Passaredo Linhas Aéreas junto com o filho, José Luiz Felício Filho – um apaixonado por aviação, que após formar-se piloto passou a ser tratado por comandante em alguns círculos.
Criada como um braço aéreo da empresa de transportes rodoviários, a Passaredo começou operando apenas duas aeronaves Embraer 120 Brasília, mas logo adquiriu uma terceira. Dois anos depois, passou a operar voos para o Nordeste e o Caribe, mas a forte desvalorização da moeda brasileira frente ao dólar, nos primeiros anos do Plano Real, foi tornando as operações inviáveis. Como resultado, no mesmo ano em que José Luiz Felício-pai passa o controle e a gestão da Passaredo ao filho e cofundador, este anuncia a suspensão das operações.
Retomada
Após um hiato de dois anos, a Passaredo retoma as operações aéreas, agora como empresa independente, ou seja, não mais ligada à Viação Passaredo. Pelos cinco anos seguintes, escala seu período de maior crescimento, de acordo com o site especializado Aeroin.
Em matéria de capa da edição de 21 de novembro de 2008 da Revide, a companhia anuncia planos de atender 240% mais passageiros (dos 200 mil de então para 480 mil), com a ampliação de frequências nas linhas principais da empresa – São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília – e abertura de novas rotas. Mas tudo indica que a empresa encontrou novas dificuldades financeiras nos anos seguintes, já que, em outubro de 2012, entrou com pedido de recuperação judicial na Justiça, com o objetivo de renegociar o pagamento de suas dívidas.
Antes mesmo de concluir a recuperação judicial, a Passaredo foi se reerguendo. Em 2014, chegou a ser considerada a empresa aérea “mais segura do Brasil”, em ranking do site internacional AirlineRatings.com, que avaliou 449 empresas de aviação segundo critérios de segurança. Ainda obteve a classificação de sete estrelas (nota máxima) junto com outras 149 do mundo.
A recuperação judicial foi concluída em 2017 e, segundo informações do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP), a empresa cumpriu o cronograma de pagamentos aos credores durante os anos posteriores à aprovação do plano de reestruturação. Conforme o cronograma aprovado, foi previsto o pagamento dos créditos estritamente salariais, vencidos nos três meses que antecederam o pedido de recuperação e limitados a cinco salários mínimos, em até 30 dias da aprovação do plano. Os demais créditos trabalhistas e aqueles decorrentes de acidente de trabalho, deveriam ser saldados em até 12 parcelas. O TJ-SP informou, à época, que não houve negligência no cumprimento do plano.
Parcerias com outras empresas também beneficiaram as operações da companhia, como a de voos firmada com a Gol Linhas Aéreas, que vigorou entre 2017 e 2023, e o acordo de code share (compartilhamento de código), que permitiu à LATAM Brasil comercializar passagens aéreas com origem ou destino em localidades operadas pela Passaredo – este dura até hoje.
Nova identidade
Em 2019, veio a mudança mais significativa da história da companhia aérea originada em Ribeirão Preto. Após a aquisição de 100% das ações da MAP Linhas Aéreas, a Passaredo mudou de nome e identidade visual, tornando-se a Voepass Linhas Aéreas. Ficou pouco tempo com a MAP, que vendeu à Gol em 2021, mas seguiu expandindo sua atuação ao longo dos últimos anos. Atualmente, tem na gestão, ao lado de José Luiz Felício Filho, o CEO Eduardo Busch.
Atualizações no blog da empresa justificam a afirmação da Anac de que foi a empresa aérea que mais cresceu no último ano: em fevereiro último, divulgou que estava expandindo suas operações nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste do Brasil, com novos voos e frequências. Os novos destinos incluíram voos de Cascavel (PR) para Congonhas (SP), Caxias do Sul (RS) para Guarulhos (SP), Chapecó (SC) para Guarulhos, Chapecó para Florianópolis (SC), Florianópolis para Porto Alegre (RS), Maringá (PR) para Congonhas, Rio Verde (GO) para Guarulhos e Presidente Prudente (SP) e Guarulhos, além de novas ofertas nas operações Ribeirão Preto para Guarulhos e Juiz de Fora (MG) para Guarulhos (SP), passando ambas, de duas, para três operações diárias.
Em 5 de julho, informou que reforçava seu plano de expansão regional e ampliava suas operações em Minas Gerais com o início da rota entre Ribeirão Preto e Belo Horizonte (MG) – Aeroporto Internacional de Confins – e voos entre Belo Horizonte e Porto Seguro (BA), com duas frequências semanais de ida e volta. No mesmo mês, ainda anunciou a abertura de novas bases em Chapecó e no Rio de Janeiro, além da expansão de sua atuação na Bahia, em Minas Gerais e Distrito Federal, com a reativação das bases em Uberlândia, Brasília, Barreiras, Vitória da Conquista e novas rotas na cidade de Salvador.
Também de acordo com informações de seu site, a Voepass possui, atualmente, uma frota de 15 aeronaves nos modelos ATR 42 e ATR 72, atende 37 destinos em todas as regiões do país e em 2023 transportou mais de 500 mil passageiros e emprega mais de mil colaboradores. Informa ainda, no blog, que opera sob a Certificação IOSA (IATA Operational Safety Audit / Auditoria de Segurança Operacional da IATA) e o certificado de excelência operacional internacional emitido pela IATA (International Air Transport Association / Associação Internacional de Transporte Aéreo), sendo membro da Abear, da IATA e da ALTA (Associação Latino-Americana e do Caribe de Transporte Aéreo).
A reportagem tentou contato com o presidente da empresa, José Luiz Felício Filho, por meio de suas assessorias de imprensa. Recebeu como resposta que, em respeito às famílias enlutadas pela queda do voo 2283, não se pronunciaria sobre sua história.
Luan Porto