Associação de motoristas recupera 14 carros roubados em Ribeirão Preto em 2018
Eles alertam para o crescimento da quantidade de assaltos contra motoristas de aplicativos na cidade

Associação de motoristas recupera 14 carros roubados em Ribeirão Preto em 2018

Profissionais de serviços de transporte contratados por aplicativo se unem em Ribeirão Preto para aumentar segurança da categoria

Era por volta das 22h do último dia 4 de junho quando Rafael Medeiros, motorista de um serviço de transportes contratados por aplicativos, o Uber, em Ribeirão Preto, recebeu a chamada para realizar uma viagem no Ipiranga.

De acordo com o motorista, o aplicativo indicava que a passageira era uma mulher. No entanto, ao chegar no local havia três homens o aguardando. Rafael conta que eles disseram que iriam buscar a menina em outro bairro.

“Mas, nesta situação, concordei em fazer a viagem, já que ela estava mandando mensagem, falando que iam buscá-la. Beleza”, conta o motorista, que já temia os momentos que viriam a seguir. “Embarquei e, quando cheguei próximo do Anel Viário Norte, colocaram a arma na minha cabeça, me renderam e disseram que era um assalto, mas que não iam fazer nada comigo”, continua.

Ele diz que o deixaram no meio de um canavial, enquanto ele tentava convencer os ladrões a o deixarem sair ileso do assalto. “Me puseram ajoelhado no chão com arma na cabeça. Foi bem trágico o negócio. Foi por volta das 22h30”, relata o motorista, que lembra que foi deixado ali mesmo, no canavial, no meio da noite, enquanto os ladrões levaram o carro e as coisas que estavam dentro, como documentos.

“Eu saí correndo na pista e localizei o terminal de petróleo, onde estavam os caminhoneiros. Cheguei lá, já liguei direto na nossa comunicação da associação e, em poucos minutos, já veio o apoio, já puxamos o meu rastreador e, em questão de 45 minutos, uma coisa que eu não esperava. Eu recuperei basicamente tudo, apenas documentos que não”, diz Rafael, que, naquele mesmo dia, já estava com o carro de volta em suas mãos para poder seguir trabalhando.

Rafael sofreu um assalto há três semanas em Ribeirão Preto e conseguiu recuperar o carroA associação a que ele se refere é a Associação de Motoristas de Transporte por Aplicativo de Ribeirão Preto (Amarp), que, entre outros, pode identificar um membro por um adesivo nos veículos com os dizeres “RP Voo Noturno”, que também é o nome de uma modalidade de transporte praticada por esses motoristas, que agendam algumas viagens por meio do WhatsApp.

A recuperação do carro de Rafael não foi a primeira realizada pela associação em 2018. De acordo com o advogado Jonatas Santana, que presta atendimento para os motoristas, somente neste ano foram 14, e, desde que associação foi fundada, no ano passado, foram 20 carros recuperados, diante de 22 veículos que foram roubados.

“Teve um aumento significativo nos roubos. O passageiro faz uma falsa chamada, e quando o motorista de aplicativo vai atender a chamada, o passageiro está armado, rende o motorista, leva carteira, celular, levam tudo”, descreve Santana, que está ao lado de José Batista de Deus Neto, conhecido simplesmente por Neto, presidente da Amarp.

Eles contam que os roubos são cometidos, geralmente, por adolescentes, em determinados bairros de Ribeirão Preto, que já não são recomendados para que os motoristas realizem viagens pela região.

“Ipiranga, Jandaia, Casa Grande, Parque dos Pinus, aqueles bairros ali não tem jeito”, afirma Neto. “Hoje, nós indicamos que os motoristas não façam corridas nestas regiões”, completa Santana.

Neto diz que a associação já tentou contato com a Polícia Militar, que, de acordo com ele, afirma que está sendo feito o patrulhamento normalmente, e pede que seja orientado para os motoristas um pouco mais de prudência. “Se a pessoa que está ali esperando é diferente daquela que chamou, por exemplo... O grande problema do aplicativo Uber é que não identifica com o foto o passageiro que pediu. A única coisa que desperta a desconfiança é quando chega no local e, ao invés de ser uma mulher que pediu a viagem, é um homem”, completa.

Eles contam que, para recuperar os veículos, utilizam localizadores e tentar entrar em contato com moradores de comunidades carentes do município para ver se avistaram um veículo estranho e se este carro conta com um adesivo identificando o grupo. Esse relacionamento, segundo eles, é construído por meio de trabalhos sociais realizados pela associação, que despertam a simpatia dos moradores.

Entre esses trabalhos sociais realizados pela associação nas comunidades estão o fornecimento de cestas básicas para pessoas necessitadas e de transporte gratuito para quem não tem condições de pagar uma viagem para levar um parente no médico, por exemplo, entre outras atividades.

“É uma contribuição da população. É uma contraprestação de serviços. Só que nós não fazemos este trabalho visando isso. Fazemos os trabalhos sociais pensando no social, só que reconhecem esse esforço que fazemos há muito tempo e fazem isso em favor da gente. Não é uma coisa planejada”, diz Santana.

“Já temos bastante inserção nas comunidades”, completa Neto, que diz que os motoristas ligados no grupo já até inventaram alguns códigos que ajudaram a evitar assaltos e corridas de risco. “Fica mais fácil para se comunicar, porque hoje está difícil ter um apoio tanto da polícia quanto do governo. Um ajuda o outro. É uma coisa que facilita mais. Fomos nos adequando do jeito que nós podemos”, conclui.

Além de tentar aumentar o grau de segurança dos motoristas contratados por serviços de aplicativo em Ribeirão Preto, eles contam que a associação se tornou uma entidade representativa para os motoristas em questões como a da regulamentação deste tipo de serviço, que tomou parte da pauta das discussões da Prefeitura de Ribeirão Preto no início de 2018.

Jonatas Santana e Neto (ambos no centro) explicam funcionamento da associação de motoristas.Um projeto já foi enviado pelo prefeito Duarte Nogueira (PSDB) para discussão na Câmara Municipal para regularizar o transporte por aplicativo. Enquanto isso, os motoristas pedem uma reunião com o próprio chefe do Executivo para apresentar as reivindicações.

“Hoje, a principal luta da associação é que, tudo bem, o motorista não se abstém de cumprir o que está na lei, só que ele também quer algumas facilidades que os motoristas de táxi também têm, como uma vaga exclusiva no aeroporto”, diz Santana, que ainda afirma que estão tentando acertar a mesma situação junto aos shoppings do município.

“São coisas básicas que os taxistas têm, que os motoristas de Uber não têm. São coisas fáceis que podem fazer e que vai ajudar a melhorar a mobilidade da cidade, porque, querendo ou não, a Uber trabalha neste sentido, de comodidade para os passageiros”, diz o advogado.

“O trabalho que tem sido feito pela associação é mostrar para os taxistas que o motorista do aplicativo não é inimigo. A partir do momento que vamos ter de passar uma regulamentação, também queremos ter os nossos direitos. As vantagens que determinada classe tem, tem que estender para outra. Só queremos que facilite o trabalho”, complementa.

Polícia aprova medidas

De acordo com a Polícia Militar, são estimuladas a participação e a organização das pessoas em relação às ações preventivas de segurança pública. No entanto, os casos suspeitos devem ser comunicados a corporação por meio do 190.

A PM ainda informa que a segurança pública, seja qualquer dia e horário, é realizada de forma ininterrupta por meio de patrulhamento ostensivo, com base nos índices criminais obtidos nos registros de ocorrências, além de informar que este patrulhamento é realizado a partir de análises de todos os detalhes das ocorrências registradas e de como agem os criminosos.


Foto: Leonardo Santos

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