Atraso impactante

Atraso impactante

A previsão inicial de entrega do túnel que ligará as avenidas Independência e Presidente Vargas era dezembro de 2021: até o momento, apenas 14% da obra foi entregue

Matéria publicada na edição 1099 da revista Revide.

Há cerca de um ano e meio, a construção do primeiro túnel em Ribeirão Preto foi autorizada. A obra, projetada para ligar as avenidas Independência e Presidente Vargas, prevista para ser entregue em até 18 meses, foi elaborada com o intuito de beneficiar uma demanda entre sete e nove mil passageiros do transporte coletivo urbano que passam diretamente por aquelas vias. No entanto, devido a complicações com a empresa responsável pela construção, a obra está parada há, aproximadamente, 10 meses, causando prejuízos a comerciantes, moradores e frequentadores da região.

O ponto do restaurante da empresária Josiane Merzlyakova, por exemplo, foi comprometido. A construção complicou o acesso e prejudicou a visibilidade. “Vim para este local em fevereiro de 2020. Duas semanas depois, veio a pandemia e, logo em seguida, começou a obra. Mudei para uma grande avenida, na expectativa de ganhar mais visibilidade, de atender melhor meus clientes, estando em um espaço maior e bem localizado. Mas, infelizmente, foi o oposto”, lamenta. 

A empresária afirma ter tido uma única reunião com um representante da construtora e os engenheiros da prefeitura, onde foi passado como seria cronograma da obra. “Eles disseram que trabalhariam para que o impacto nos comércios fosse o menor possível. No entanto, não foi o que aconteceu. Chegávamos para trabalhar pela manhã e haviam fechado um trecho da rua. No dia seguinte, interditavam outro. Por diversas vezes, precisei correr para criar mapas de acesso, fazer plaquinhas e enviar avisos aos meus clientes e fornecedores, para que conseguissem chegar ao meu estabelecimento. Eu mesma, muitas vezes não sabia qual caminho pegar para chegar na empresa, já que fechavam acessos sem nos avisar. Além disso, precisei contratar vigia noturno, depois de ter sido vítima por diversas vezes de furtos de fiação”, revela. 

Surto de pernilongos 

Devido ao aumento das chuvas neste período do ano, a obra está acumulando água. De acordo a residente de um prédio da região, a produtora de eventos Leandra Barros, um dos grandes problemas enfrentados pelos moradores é o aumento do número de pernilongos por conta dessa água. Além das placas que ficam caídas no chão e da poeira por conta da ventania, ela também relata a preocupação com a segurança em alguns trechos da região.

“Avisaram que essa parte da Independência ia ficar fechada oito meses, mas já se passaram quase dois anos”, afirma. Para ela, que mora há oito anos na região, o trânsito não era tão caótico para demandar uma obra de tamanha proporção. “Dizem que essa obra é para melhorar o fluxo no horário de pico. O fluxo era intenso, mas os carros não ficavam parados. Talvez eles fizeram algum estudo que, futuramente, aquela configuração pudesse levar a um grande congestionamento, mas não via essa necessidade agora”, declara. 

Transtorno desnecessário

Ex-morador da região, o professor João Flávio de Almeida conta que sua rotina teve que ser readequada durante o tempo que morou próximo da obra. “Mais sujeira, mudança de trânsito, você tem que se planejar para sair um pouco mais cedo para poder chegar no seu local de trabalho na hora certa. Até aí, nada de tão diferente do que uma obra traria. O problema é que os benefícios não vieram”, aponta. Para o professor, a obra também não era algo necessário no momento. “

Tem muitas outras coisas que Ribeirão Preto precisava antes daquela obra. Eu acho que o trânsito ali era um trânsito que ficava um pouco comprometido, mas, no geral, não era algo que a gente perdia muito tempo, não era algo que estava completamente travado como acontece em algumas regiões da cidade”, explica. 

De acordo com ele, a grande questão é que a prefeitura causa transtorno com a construção parada. “Era para ser uma obra que melhoraria a situação, mas a coisa está horrível. É uma tristeza olhar para aquilo que já deveria estar pronto, mas está com a impressão de que vai continuar por muito tempo ainda. Comerciantes estão completamente comprometidos, mudou a rota de fluxo das avenidas, dos consumidores. Então, a prefeitura poderia, no mínimo, facilitar a vida das pessoas que estão ali ao redor de alguma forma”, opina. 

Sobre o projeto

O túnel faz parte de uma das 30 intervenções do programa Ribeirão Mobilidade e foi planejado para ter 180 metros de extensão, duas faixas no sentindo Independência-Presidente Vargas e cerca de oito metros de largura. Para evitar o retorno pela rua Olavo Bilac e a passagem na Quintino Bocaiúva como forma de acesso de uma avenida para outra, o túnel sairia da avenida Independência, passando por baixo da praça Salvador Spadoni, e terminaria na Presidente Vargas, entre as ruas João Penteado e Eliseu Guilherme. A previsão inicial de entrega do túnel era dezembro de 2021 pelo valor de R$ 19 milhões. Até o momento, apenas 14% da obra foi entregue. 

No dia 1º de fevereiro, foram divulgadas as propostas para a continuidade da obra. Contudo, a abertura dos envelopes contou com apenas uma empresa interessada em assumir o serviço. A empresa foi a Rual, de São Paulo. O valor apresentado pela construtora foi de R$ 27,7 milhões. A proposta será analisada pela Comissão de Licitação e, caso aprovada, a ordem de serviço será assinada em 20 dias. Se todo o trâmite ocorrer dessa forma, os trabalhos poderão ser retomados.


Foto: Luan Porto

Compartilhar: