Autor de pedido para interdição do Santa Cruz, promotor diz sofrer ameaças em Ribeirão Preto
A Promotoria explica que as torcidas que já são regularizadas junto a Federação não terão que se preocupar com as medidas

Autor de pedido para interdição do Santa Cruz, promotor diz sofrer ameaças em Ribeirão Preto

Para Paulo José Teotônio, houve uma interpretação errada sobre o que foi pedido; segundo ele, nenhum torcedor foi chamado de criminoso

Desde sexta-feira, 25, um assunto tem causado polêmica em Ribeirão Preto. O pedido do Ministério Púbico para a interdição do Estádio Santa Cruz. Autor do pedido, José Teotônio diz estar sofrendo ameaças por várias pessoas.

Segundo ele, as ameaças têm sido frequentes. “Envolveram uma funcionária do Ministério Público e os meus filhos. Uma notícia panfletária foi publicada, distante da verdade, e isso acirrou os ânimos. Eu achava que os envolvidos seriam profissionais e iriam sanar as irregularidades e optar pelo debate democrático, mas não foi bem assim”.

Teotônio explica que as recomendações que foram feitas seguem o mesmo padrão já utilizado em cidades do estado como São Paulo e Campinas. “Foram em nome do Ministério Público. Tenho nome respeitado no MP e no meio acadêmico, não tenho motivo nenhum para aparecer. Só dei entrevista para esclarecer os fatos. Eu não vou entrar na provocação que querem”, falou.

O Promotor utiliza a recomendação com exemplos do São Paulo Futebol Clube e do Santos Futebol  Clube, que passam por reforma no campo e, por conta disso, têm utilizado outros locais para mandarem os jogos. “O meu trabalho é em respeito aos próprios torcedores”.

Além do fechamento momentâneo do estádio, o promotor fez algumas recomendações ao Botafogo e às torcidas.  Confira:

1 - Isolamento de torcidas organizadas em local específico nos estádios, com determinação dada pela PM

2 - Exigência de cadastro e registro das torcidas organizadas junto à Federação Paulista de Futebol, constando líderes e membros, com fotografias e registros criminais;

3 - Exigir identificação das sedes bem como roteiros que serão traçados entre a sede e os estádios nos dias de eventos esportivos (trajeto ou mapas e horários), informando-se a PM;

4 - Obrigatoriedade dos clubes de realizarem filmagens das organizadas a partir do ingresso no estádio até a retirada dos torcidas;

5 - As torcidas organizadas deverão contatar previamente a PM questionando horário e locais de entrada, pois deverão ingressar no estádio antes do torcedor comum;

6 - Exigir das torcidas organizadas só se desloquem para a saída do estádio após a retirada do torcedor comum;

7 - Torcidas organizadas que não constarem do cadastro e registro serão tratadas como associações criminosas, dada a evidente ilegalidade com requisição do devido IP para a purgação de eventuais crimes, bem como remessa de cópias ao GAECO e a Promotoria do Patrimônio Público para apuração do dano moral coletivo;

8 - Torcidas organizadas deverão entrar em portões distintos, previamente destacados pela PM, prévia e separadamente dos torcedores comuns;

9 - Os clubes esportivos deverão providenciar juntada de alvarás, laudo do corpo de bombeiros e da vigilância sanitária do ano em curso, notadamente quando forem realizadas reformas ou tiverem sido apontadas necessárias adequações por parte do Poder Público;

10 - As torcidas organizados, pelos seus líderes, ficam obrigadas a indicar quem tenha causado tumulto ou tenha jogado objetos contra adversários dentro de campo e soltados sinalizadores ou fogos de artifício em local inadequado. Isso sob pena de responder associação por tal fato, com a sanção de ficarem todos os integrantes proibidos de ingressar nos jogos do clube do coração, além de estarem obrigados a prestação de serviços comunitários, concomitantemente aos jogos, sem prejuízo de eventual reparação do dano

11 - Obrigatoriedade de torcida única nos dérbis locais (Comercial e Botafogo) e regionais (Sertãozinho, Batatais, Inter de Bebedouro, Monte Azul, Ferroviária de Araraquara e Barretos), bem como os quatro grandes da Capital e do Santos, observando-se a proximidade do jogo em Ribeirão Preto no dia 24.02.2018 entre Botafogo e Corinthians;

12- Obrigatoriedade dos clubes em comunicar previamente eventual destinação de ingressos às torcidas organizadas;

13 - As torcidas organizadas não cadastradas e registradas não poderão ingressar no estádio com objetos, indumentárias e demais acessórios, conforme orientação da Polícia Militar.

Polêmica entre torcedores

Após a divulgação, alguns torcedores se sentiram ofendidos, principalmente pelo registro do histórico criminal. Alguns interpretaram que trecho “Torcidas organizadas que não constarem do cadastro e registro serão tratadas como associações criminosas [...]” são referentes a todos que não tiverem o cadastro.

De acordo com a oficial de promotoria Gianna Wrubel Bertochi, todas as informações são destinadas às torcidas organizadas que não possuem cadastro junto a Federação Paulista. A associação criminosa seria por conta da irregularidade destas em relação às leis do Estado de São Paulo. “Estas recomendações não são para o torcedor comum. As torcidas organizadas que estiverem devidamente regularizadas não precisam se preocupar”.

Fiel Força

Após as recomendações da Promotoria, a Fiel Força Tricolor, principal torcida do Botafogo Futebol Clube na atualidade, ficou ofendida com os termos utilizados. Entretanto, a torcida alega que está regularizada.

“Começamos a fazer uma campanha nas redes sociais em que afirmamos que não somos bandidos. A Fiel Força Tricolor é cadastrada na Federação. Trabalhamos em conjunto com o Botafogo. São vários projetos sociais. Sentimos que o Promotor está nos comparando com as torcidas da capital. Trabalhamos em conjunto e sempre evitamos qualquer tipo de tumulto”, falou o Presidente do grupo Juninho Fernandes.

Segundo ele, a Fiel Força é composta por famílias. Nós nos sentimos comparados com marginais e isso não procede. Nesta segunda-feira, 28, iremos ao estádio realizar um protesto pacifico para mostrar quem nós somos. Estaremos todos de branco no local uma hora antes do jogo”, falou o Presidente.

Torcida única

Além das recomendações, o promotor de Justiça cobrou pela torcida única em jogos importantes dos estádios de Ribeirão Preto, como clássicos contra o Comercial, as equipes da região e os clubes considerados grandes. A justificativa de Teotônio é de que nestes jogos, a incidência de violência nos estádios são maiores e a família precisa voltar a se sentir segura dentro do estádio.

O Portal Revide entrou em contato com o Presidente do Botafogo, Gerson Engracia Garcia. Ele alegou que torcida única em jogos atrapalham na vida do clube, pois são fontes de renda.

“O Botafogo disputa a primeira divisão do Campeonato há 11 anos. Nós não tivemos problemas nenhuma vez. Não vejo o por quê fazer isso no estádio Santa Cruz. Para o jogo contra o Corinthians, a expectativa é de que as obras estejam próximas ao fim. Não recebemos nada do Ministério Público até o momento”, explicou Garcia. O time ainda não foi notificado sobre o pedido do MP.

Neste ano, em um primeiro momento, o Botafogo enfrenta o Corinthians no dia 24 de fevereiro, às 19h. O clube também enfrenta o Santos em 20 de março, às 21h30.


Foto: Pedro Gomes

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