Bloco de Carnaval "Os Alegrões" não sairá às ruas no Carnaval de 2017
Os Alegrões não sairá para as ruas no Carnaval de 2017

Bloco de Carnaval "Os Alegrões" não sairá às ruas no Carnaval de 2017

Grupo aponta que não suporta mais o público com todas garantias de segurança; porém acreditam que cumpriram o papel de propagar as manifestações artísticas

O bloco carnavalesco Os Alegrões afirmou que deixará o carnaval de Ribeirão Preto a partir de 2017, isso porque os organizadores do bloco entenderam que não estão conseguindo mais garantir a segurança dos foliões e dos moradores do Jardim Irajá, bairro em que o grupo desfila desde a fundação, em 2005, pois ele cresceu demais para a estrutura disponível.

Em carta publicada na página do grupo no Facebook, eles afirmam que o bloco conseguiu a adesão dos foliões que compreenderam o grupo por questões artísticas, como na composição de marchinhas e fabricação de fantasias, o que teria extrapolado a ordem comercial, que os organizadores não gostariam que o bloco levasse.

“Nós percebemos que precisaríamos de mais. O evento virou de massa, e a estrutura estava aquém do que necessitávamos, como segurança, banheiros, ambulância, toda a logística que envolvia o evento. O tamanho do evento ficou maior do que a estrutura, porque às vezes ficávamos de mãos abanando, e que com isso estávamos correndo riscos”, disse Peci, organizador do evento.

Os Alegrões tiveram início em 2006, e ocorria na semana que antecedia o Carnaval. Na edição deste ano, que aconteceu no dia 31 de janeiro, mais de 25 mil pessoas participaram da festa, de acordo com a Polícia Militar. Além da festa, o grupo teve de conviver com as críticas de alguns moradores do bairro, que reclamaram do lixo deixado por algumas pessoas que participaram da festa.

“O resultado tem sido um evento frágil nos quesitos de segurança, limpeza, atendimento a possíveis acidentes e controle de iniciativas comerciais oportunistas. Os organizadores estão cientes dos impactos disso perante os moradores do Jardim Irajá e de toda a municipalidade”, afirmaram os organizadores em carta.

Confira a íntegra da carta:

CARTA ABERTA A POPULAÇÃO ALEGRÔNICA

O grupo de amigos que organiza as saídas do Bloco “Os Alegrões” reúne-se todos os anos, algumas semanas após o carnaval, para fazer uma avaliação do que aconteceu nas ruas durante a(s) saída(s). Problemas, dificuldades, êxitos e desdobramentos são assuntos tratados entre os pares. Tem sido assim desde 2006. Neste ano o grupo se reuniu duas vezes para avaliar a saída do Bloco no Jardim Irajá, que ocorreu no dia 31 de janeiro de 2016.

Os organizadores do Bloco estão cientes de que a cada ano dobra a quantidade de pessoas que chega para participar do carnaval dos Alegrões. Está ciente também de que a estrutura que tem conseguido reunir para viabilizar as saídas se mantém no padrão semelhante daquele dos anos iniciais. A estimativa feita pelos organizadores é a de que entre 25.000 e 30.000 pessoas, de diferentes faixas etárias, vindas de diversos bairros e cidades, estiveram presentes no Jardim Irajá na tarde de 31 de janeiro de 2016.

Para além de uma avaliação quantitativa, sabe-se que neste ano, muitos que foram para brincar o carnaval de marchinhas e frevos, não conseguiram tal feito. Atribui-se a este fato duas razões: a) a quantidade enorme de pessoas perante a estrutura disponibilizada impediu que foliões simpatizantes do Bloco pudessem se aproximar do cortejo da banda e dos bonecos; b) o surgimento de eventos paralelos, com veiculação de gêneros musicais que se distanciam da proposta dos Alegrões, qual seja, a de resgatar a essência do carnaval brasileiro.

O grupo de amigos que organiza Os Alegrões entende que os eventos paralelos ao cortejo da banda, dos bonecos e dos tambores do Maracatu Chapéu de Sol, não estão ao alcance de sua responsabilidade.

Todos os anos o apoio às instituições públicas da Cidade é solicitado para criar as condições de logística para as saídas do Bloco. Isso se dá de maneira formal, por meio de ofícios, e também por meio de reuniões. A Secretaria Municipal da Cultura tem prestado apoio neste sentido. Tem sido, junto com os organizadores, porta-voz perante as instituições-fins, ou seja, aquelas que de fato possuem recursos humanos e atribuições de concretizar o carnaval. São elas: Polícia Militar, Guarda Municipal, Transerp, Secretaria Municipal da Saúde, Daerp, Secretaria Municipal de Infra-Estrutura e Fiscalização Geral do Município. Os organizadores são gratos pelo apoio recebido ao longo dos anos; mas entendem também que por se tratar de festa do Calendário Oficial de Eventos do Município, previsto na Lei no 12.854/2012, a execução de tais serviços é uma obrigação.

Com o fato do enorme crescimento do evento nas ruas, os organizadores têm plena consciência da fragilidade dessa estratégia, uma vez que o compromisso assumido com o Bloco não vem ocorrendo como o esperado. Nestes últimos anos as necessidades expressas em ofícios, reuniões e telefonemas não foram atendidas, conforme esperado. O resultado tem sido um evento frágil nos quesitos de segurança, limpeza, atendimento a possíveis acidentes e controle de iniciativas comerciais oportunistas. Os organizadores estão cientes dos impactos disso perante os moradores do Jardim Irajá e de toda a municipalidade.

Salienta-se, no entanto, que a festa carnavalesca tem prevalecido e tem mantido seu objetivo. Credita-se tal feito ao espírito de alegria e paz que tem prevalecido nos cortejos dos Alegrões até hoje.

Percebemos ao longo da trajetória do Bloco, que a adesão de cada folião e cada foliã aos Alegrões se deu pelo fato da proposta não ser meramente comercial, por agregar fatos e fatores artísticos, tais como composição de marchinhas próprias, confecção de alegorias e incentivo ao uso de fantasias, e por ser em essência, uma manifestação livre e popular. Foi exatamente com essas características que o Bloco foi pensado e fundado em 2005.

Por isso, em nossa avaliação, decidimos não transformar o Bloco “Os Alegrões” em produto comercial. E diante da multidão alcançada, vendo as dificuldades em dar à população a segurança necessária, e ainda, garantir experiência das marchinhas carnavalescas a todo público presente, reconhecemos que não temos mais condições de manter as saídas tradicionais do Bloco.

Desde já agradecemos a participação dos foliões, que muito alegraram esta cidade.
Gratidão a todos.

Ribeirão Preto, primavera de 2016.


Foto: Bruno Silva

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