Café da manhã na Catedral traz esperança para pessoas que perderam a fé
Entre os relatos, há o depoimento de um homem que caminhou de Campinas a Ribeirão Preto  para ver a filha

Café da manhã na Catedral traz esperança para pessoas que perderam a fé

A ação alimenta cerca de 150 indivíduos por domingo e precisa de doações para continuar com o projeto

O café da manhã, oferecido pela Catedral de Ribeirão Preto, traz esperança para pessoas que perderam a fé. A ação alimenta cerca de 150 indivíduos por domingo. No local, é servido bolo, café, suco e pão com recheio.

Entre os que comparecem ao café, a maioria é moradores de rua. Confira depoimentos impressionantes de pessoas que foram entrevistadas pela equipe de reportagem.

Caminho da saudade

O morador de rua Rafael Antônio de Andrade, de 34 anos, é natural de Campinas, mas atualmente vive em Ribeirão Preto. O rapaz diz que pretende voltar à terra natal até o meio do ano, onde acredita haver mais oportunidades de emprego.

“Vim a Ribeirão Preto para trabalhar como jardineiro em uma obra. Mas, acabei engravidando uma moça e, hoje, sou pai de uma menina de quatro anos. Já voltei para Campinas uma vez, porém a saudade da minha filha me fez retornar. Sem dinheiro para o ônibus, percorri todo o caminho de aproximadamente 240 quilômetros a pé. Cheguei aqui em uma semana e três dias. Isso já faz dois anos. Desde então moro na rua”, fala Andrade.

Ainda novo, o homem diz que não consegue emprego em Ribeirão. “Para ajudar perdi minha certidão de nascimento, o que faz com que as coisas fiquem mais difíceis. Já mandei muitos currículos, mas não tenho oportunidade. Em Campinas, eu vou trabalhar na roça e sobreviver. Eu aproveito o café como forma de buscar esperança, né? Aqui dá uma comida boa e reforçada. Isso é importante para continuarmos a jornada”.

Rafael busca emprego para sobreviver

Sentimento de paz

Maciel Ferreira do Nascimento, de 49 anos, já vive em Ribeirão Preto há 15 anos. “Todo domingo participo do café da manhã. Moro sozinho em um quartinho no bairro Ipiranga, Zona Norte da cidade. Não tenho família aqui, pois sou de Maceió (AL). Sempre gosto de tomar um ‘cafezinho’ aqui e assistir à missa. Eu me sinto bem na igreja e nada melhor do que me sentir em paz, em algum lugar”.

A jornada de Nascimento teve início após o término do casamento do homem em São Paulo, na capital. “Depois que me separei, passei a rodear o Brasil inteiro, até chegar em Uberaba (MG), onde tive a oportunidade de conhecer o Chico Xavier. Com as palestras, ele me ajudou muito. Além de ter me oferecido um local para morar. Lembro de como era bom e de todas as histórias que eu ouvia. Em determinado momento, pedi demissão do emprego que trabalhava, pois me deu uma saudade da minha terra natal. Até que um dia, comecei a trabalhar em um parque de diversões como operador e montador. Foi com o parque que vim para Ribeirão Preto. Me apaixonei pela cidade e fiquei. Sobrevivo com minha aposentadoria”.

Maciel foi companheiro de Chico Xavier

Lazer 

Tímido, José Antônio gosta de caminhar para tomar o café na catedral Também do nordeste, mas da região de Teresina (PI), o mesmo aconteceu com José Antônio Oliveira, de 60 anos, que também participa do café da manhã na igreja. “Eu gosto, o café é bom e legal. Vêm muitas pessoas. Moro na cidade há uns 15 anos. Vim até aqui e fiquei com a minha irmã, pois não tenho mais nada no Nordeste. A cidade é boa. Gosto de vir ao café, pois faço uma caminhada e relaxo os pensamentos. Para sobreviver, eu trabalho com bicos”.

O café é mantido pela igreja, mas para continuar, é importante que haja a colaboração de outras pessoas. Em uma publicação, o Padre Francisco Jaber pede pela ajuda de todos. “Para o café dos moradores de rua na catedral, nós precisamos de leite, pó de café e suco em garrafinha ou saquinho”. O Café da Manhã acontece aos domingo, a partir das 10h.


Fotos: Pedro Gomes

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