Discussão por Facebook vira protesto em Sertãozinho
Grupo de discussões formado por moradores de Sertãozinho tem mais de 16 mil membros e foi alvo de reclamação de vereador
A última semana teve discussão na Câmara Municipal de Sertãozinho, isso porque, em discurso um vereador chamou uma moradora de “desocupada” por participar de um grupo no Facebook. Até um protesto é prometido pelos integrantes da página para responder a suposta ofensa.
O grupo em questão é o Acorda Sertãozinho, com mais de 16 mil integrantes, e que é formado por moradores do município, que utilizam a página na rede social para publicarem cobranças e mostrarem problemas enfrentados na cidade.
Em plenário, após ter um inquérito encerrado pela Câmara, por suposto uso indevido de verbas, o vereador Lúcio da Rádio (PR) se dirigiu a uma moradora presente na sessão e disse: “A senhora é uma desocupada que fica o dia inteiro no Facebook metendo o pau nos outros. Não faz nada [...]. São meia dúzia de desocupados”, declarou.
O alvo da resposta do parlamentar, que está há mais de seis mandatos no Legislativo da cidade é a empresária Silvana Giorgeti, que além de ser uma das administradoras do grupo, é presidente da Amigos Associados de Sertãozinho (Amasert), entidade que cobra transparência na administração municipal.
Ela conta que o grupo Acorda tem o objetivo de fiscalizar, denunciar e dar ideias sobre a cidade. Ela acredita que a ferramenta auxilia no exercício de cidadania. “O cidadão tem o direito de fiscalizar o direito deles. O dinheiro não é fruto de uma posição deles, é fruto de uma posição nossa. O grupo é aberto para que se reclame, elogie, expor problemas e descobrir soluções”, afirma a empresária.
Silvana aponta que a “ofensa” foi motivada pelo fato dos políticos não estarem acostumados com um espaço destinado às cobranças. A empresária ainda acredita que o fato de ser mulher, também incentivou a ofensa. Tanto, que o grupo prepara uma manifestação para essa segunda-feira, 26, em defesa das mulheres.
“Muitas pessoas que estão no poder não são acostumadas com isso. Estão acostumadas com a velha política, no qual elas faziam e ficava por isso mesmo. O povo abaixava a cabeça, ou mesmo, não ficava sabendo. Não tem como voltar para trás, e isso incomoda. Os novos políticos têm discernimento de como ocorre a coisa, mas os velhos políticos não”, comenta Silvana.
O vereador nega que tenha sido indelicado, e que disse o que achava necessário. Ele ainda reclama que não tem a oportunidade de se defender, quando o grupo pública questões envolvendo o parlamentar. “Acho que está faltando assunto interessante, só tem crítica à administração e Câmara Municipal, não tem propostas, ideias, só rancor, magoas etc”, afirma.
Tecnologia como meio de participação
O sociólogo e pesquisador do Centro Estudos Latino-Americanos sobre Cultura e Comunicação (CELLAC), Silas Nogueira, aponta que é importante o uso das ferramentas disponíveis na internet para politização da sociedade.
“Esses mecanismos passam a integrar novas formas de organização de setores da sociedade civil, mas só a organização desses setores pode fazer frente aos poderes instituídos”, aponta o sociólogo, que ainda acredita que as ideias devem sair do campo virtual e se materializar por meio de ações e iniciativas defendidas pelos grupos.
“Antes, é preciso haver a estruturação real de grupos, e após essa consciência, é que se deve recorrer aos meios para fazer a divulgação, de forma independente e crítica”, finaliza Nogueira.
Foto: Acervo Revide