Escavando novos caminhos
Obras foram retomadas em abril e avançam na região do acesso norte do túnel

Escavando novos caminhos

Após paralisação, obras no túnel que ligará avenidas Independência e Presidente Vargas avançam na Zona Sul; atraso incomodou comerciantes

*Matéria originalmente publicada na Revide 1126, em 19 de agosto de 2022.

A obra do Programa Ribeirão Mobilidade que causou tanto transtorno, finalmente, está avançando. As escavações do túnel que ligará as avenidas Independência e Presidente Vargas, na Zona Sul de Ribeirão Preto, foram retomadas em abril, após um ano de abandono na região. Enquanto isso, comerciantes reclamam de prejuízos e da demora para o término das obras, que ficarão prontas no segundo semestre de 2023, cerca de dois anos após a previsão inicial de conclusão, em dezembro de 2021. 

 

A estrutura terá 381 metros de extensão e será composta de 20 módulos de concreto (sendo 9 abertos e 11 fechados), dos quais 30% já estão concluídos. De acordo com o Executivo, atualmente as frentes de trabalho estão concentradas na região norte do túnel, próximo à rua Bernardino de Campos, com a escavação da rampa de acesso à trincheira. Já no acesso Sul, próximo ao cruzamento das avenidas Nove de Julho e Presidente Vargas, a Secretaria de Obras realizou três explosões de dinamites na última semana. Três sirenes foram tocadas com antecedência para alertar a população sobre a aproximação do horário das detonações.

 

O túnel começou a ser erguido em agosto de 2020, mas foi paralisado em abril de 2021, quando a empresa Contersolo Engenharia pediu revisão dos valores do contrato, alegando alta de preços nos materiais de construção. O impasse entre a Prefeitura e a construtora se estendeu até julho, quando o contrato foi rescindido e a empresa, multada pelo Executivo em R$ 1,7 milhão pelo abandono das obras na Zona Sul. A construção foi retomada pela empresa Rual Engenharia, de São Paulo, a um custo total de R$ 30 milhões, R$ 10,2 milhões a mais do que o previsto originalmente.

Novas perfurações

Somente nas duas primeiras explosões, foram usados cerca de 250kg de explosivos para a abertura de áreas de 260 metros cúbicos. As detonações dos artefatos são necessárias para a continuidade dos trabalhos de escavação do solo. "Nesta etapa, a detonação das rochas possibilitará a implantação da rampa de saída do túnel. Tem um maciço rochoso sendo retirado com as explosões. Esperamos concluir o túnel até setembro de 2023, podendo antecipar, porque as obras estão aceleradas", disse o prefeito Duarte Nogueira (PSDB).

 

As explosões duram cerca de 10 segundos, mas todo o trabalho de mobilização e preparação para as detonações começa muito antes, como explica o diretor da Rual Engenharia, Carlos Guaraná. Alguns moradores de prédios do entorno foram avisados com antecedência e tiveram que deixar as residências na última quinta-feira, 28 de julho; o trânsito também precisou ser interrompido momentaneamente por segurança. "Os vizinhos estão reclamando, infelizmente, porque a obra está atrasada. É ruim ter uma obra na frente de casa. Mas, felizmente, não reclamam de nós, porque a construção está andando", relata Guaraná.

Nem todos se salvaram

Com a retomada das obras do túnel, alguns bloqueios nas ruas da região central de Ribeirão Preto foram ampliados. O trecho da avenida Independência entre as ruas Quintino Bocaiúva e Bernardino de Campos, na pista Centro-Bairro, foi totalmente fechado para o acesso de veículos há pelo menos três meses. Apenas um centro de estética e uma faculdade particular sobreviveram à terra e aos bloqueios; onde antes funcionava uma papelaria, uma calçada passou a servir como estacionamento de carros.

 

Pouco à frente, um posto de combustíveis parou no tempo diante da impossibilidade de acesso de clientes. Na época em que saíram as últimas gotas de combustíveis, o etanol era vendido a R$ 5,39, e a gasolina a R$ 7,09. "Aqui só estamos eu e mais um vigia, dia e noite. Não tem nem mais energia nas bombas ou produtos na loja. O dono do posto devolveu o ponto e hoje fazemos a segurança do local", afirmou um guarda de uma empresa terceirizada ouvido pela reportagem que não quis se identificar.

 

Na região, apesar da retomada das construções, os sentimentos que ficam são um misto de revolta e lamentação, segundo um empresário que também preferiu não ser identificado. Além de gerar o abandono de muitos comércios na região, as obras do túnel afetaram o movimento nas lojas do entorno. “Ninguém deu nenhum parecer para nós, não houve nenhuma atenção da Prefeitura sobre isso. Era para ser entregue em dezembro, e vai ficar só para setembro do ano que vem. Serão três anos de obra e não tivemos nenhum benefício, nem isenção de IPTU. Tivemos que tocar o nosso comércio aberto com garras, unhas e dentes”, criticou o comerciante.

 

O secretário de Obras Públicas de Ribeirão Preto, Pedro Luiz Pegoraro, afirma que entende as reclamações dos comerciantes, mas ressalta que, com a entrega do túnel, devem ser beneficiados entre 7 e 9 mil usuários de ônibus e 5,4 mil veículos que passam pela região em horários de pico. “A obra tem um ganho muito grande na circulação de veículos e na fluidez. Eles [os comerciantes e moradores] têm uma reclamação que eu entendo que é justa. Eles tiveram um prejuízo, e a Prefeitura também teve prejuízo porque a empresa abandonou a obra, causando atraso na entrega dessa obra. Nós também gostaríamos que já estivesse sido entregue”, pontua o secretário.

 


Foto: Guilherme Sircili/CCS

Compartilhar: