Jovens detidos cometem delitos não violentos, diz pesquisa

Jovens detidos cometem delitos não violentos, diz pesquisa

Levantamento mostrou também a observação da relação entre a frequência do uso das drogas e os problemas associados

Um estudo defendido pelo psicólogo Elvio Bono apontou que a maioria dos adolescentes que passaram por atendimento na Fundação CASA (Centro de Atendimento Socioeducativo ao Adolescente), em Ribeirão Preto, não cometem delitos violentos. A análise levanta as relações entre o comportamento delituoso e o de uso de substâncias psicoativas em adolescentes em conflito com a lei. O trabalho foi desenvolvido junto ao Setor de Psicologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP.

De acordo com o psicólogo, mesmo com o uso de drogas, principalmente álcool e maconha, a maioria desses jovens contradiz o senso comum de que todos adolescentes que cometem infrações usam drogas pesadas ou todos são viciados.

Intervenções diferenciadas

No total da pesquisa, Bono entrevistou 120 adolescentes e pôde identificar diversos níveis de envolvimento com o uso de drogas e a relação com delitos, mas os problemas apresentados são associados ao uso de substâncias psicoativas. “O que indica a necessidade de intervenções diferenciadas e individualizadas, focadas no problema de cada um,” destaca.

Ainda de acordo com o psicólogo, foram analisados três subgrupos e, com a coleta de dados, foi constatado que dentre os participantes do primeiro grupo, formado por jovens com menores problemas quanto ao uso de drogas e aos delitos, não necessitam de intervenções intensivas.

Já o ultimo grupo, que era formado por aqueles jovens que apresentavam maiores problemas, necessitavam de intervenções mais especializadas e intensivas de profissionais do campo social e de saúde mental, pois o caso estava relacionado aos comportamentos antissociais, familiares, escolares e transtornos psiquiátricos.

A maioria dos adolescentes analisados usam com maior frequência o álcool e a maconha e 84% deles afirmaram ter usado substâncias psicoativas, que agem principalmente no sistema nervoso central, sendo que a função cerebral temporariamente muda a percepção, o humor, o comportamento e a consciência.  E, em média, esses jovens iniciaram aos 12 anos e continuam fazendo o uso de mais de uma substância simultaneamente. A maconha é utilizada por mais de vinte vezes no mês, segundo os entrevistados.

Bono destaca que o uso contínuo das drogas é considerado uma dificuldade, pois traz problemas para a vida do sujeito. “Como deixar de realizar tarefas esperadas, sofrer acidentes em decorrência do uso, brigas na família e perda do sono,” comenta.

Análises escolares

No estudo também foi mostrado que a maioria dos adolescentes apresenta dificuldades associadas à relação com os pares e na escola.

Na questão do consumo mais frequente das drogas ilícitas, como a maconha, os jovens em conflito com a lei se diferenciam das pessoas em geral.

Segundo o autor da pesquisa, a relação do uso de drogas e ato delituoso não é direta, o que apresenta vários motivos que podem levar um adolescente a cometer uma infração legal ou consumir essas substâncias.

Ele observou também que alguns adolescentes apresentam um padrão considerado não problemático, sendo que muitos eram abstinentes ou faziam o uso somente experimental.

Este estudo mais detalhado sobre a relação entre adolescentes infratores, drogas e problemas associados auxilia os profissionais da psicologia e da área social a analisarem cada caso e, assim, tomarem a decisão certa para ajudar estes jovens. “Precisamos aprimorar nossas técnicas de avaliação para propor intervenções mais adequadas com essa população, que indiquem as reais necessidades dos adolescentes no conjunto de suas características pessoais”, conclui.


Fotos: Divulgação 

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