Mosaicos de ondas nos canteiros da Nove de Julho são herança portuguesa
Feitos artesanalmente, os mosaicos têm forma de ondas iguais às do calçadão de Copacabana

Mosaicos de ondas nos canteiros da Nove de Julho são herança portuguesa

Trecho da avenida entre a Independência e a Presidente Vargas será inaugurado nesta quinta-feira, 07

Quem é de Ribeirão Preto provavelmente já sabe que o trecho da Nove de Julho entre as avenidas Independência e Presidente Vargas já está quase pronto e vai ser inaugurado nesta quinta-feira, dia 7 de setembro. Junto com este quarteirão, a prefeitura vai entregar, no mesmo dia, as obras da praça Salvador Spadoni e do túnel José Bonifácio, com cerca de quatro quarteirões de extensão, passando por baixo da Nove de Julho.

 

Um detalhe que agradou a maioria dos que já passaram por ali é o pavimento de pedras brancas e pretas do canteiro central da Nove de Julho. Feitos artesanalmente, os mosaicos têm forma de ondas iguais às do calçadão de Copacabana.

 

Mas se o desenho das pedras caiu no gosto geral, também gerou certa polêmica: uns opinaram que Ribeirão não deveria ‘imitar’ o Rio de Janeiro. Outros questionam se os desenhos são fiéis aos originais, como nos tempos da formação da avenida, ou se ferem os critérios de tombamento da Nove de Julho, a menina dos olhos da cidade.

 

Para esclarecer tudo isso, nenhuma entidade está mais apta que o Conppac (Conselho de Preservação do Patrimônio Cultural), responsável pelo tombamento da avenida, em 2008, transformando a ‘Nove’ em patrimônio cultural e paisagístico da cidade de Ribeirão Preto.

 

O advogado Lucas Gabriel Pereira, presidente do Conppac e representante da OAB na entidade, conta que os mosaicos em formato de ondas são originários de Portugal e não do calçadão de Copacabana. Na famosa praia carioca, eles também foram implantados por influência dos antigos colonizadores.

 

As chamadas “pedras portuguesas”, inclusive, são brasileiras. Elas recebem este nome porque são bastante usadas em Portugal, mas não foram importadas de lá.

 

O presidente do Conppac também destacou a fidelidade aos desenhos originais dos canteiros, mesmo sem a obrigação legal para isto, já que o trecho a ser inaugurado neste feriado não é tombado.

 

“Quando o calçamento original dos canteiros foi instalado, em 1949, ele tinha exatamente este desenho; eram as mesmas ondas feitas agora”, afirmou Lucas Gabriel Pereira, referindo-se ao formato das pedras assentadas pelas mãos habilidosas dos calceteiros, no trecho da Nove de Julho entre as avenidas Independência e Presidente Vargas.

 

Nos anos de 1985 e 1986, a avenida passou por uma grande reforma, tendo sido descaracterizada em alguns trechos, que receberam camadas de cimento sobre as pedras em formato de ondas. Por isso, somente o trecho da Nove entre a Tibiriça e a avenida Independência, no obelisco, permaneceram com seus aspectos originais e puderam ser tombados.

 

A formação da avenida

 

Faz 101 anos que a Nove de Julho foi fundada. Mas na época, a mais querida via pública de Ribeirão Preto ainda não tinha este nome, já que a chamada “revolução” de 1932 nem havia ocorrido. Assim, a avenida que ainda hoje melhor representa a riqueza e o poder trazidos pelo café, nasceu com o nome de Independência.

 

Somente em 1934, quando já abrigava os casarões mais nobres da cidade, onde viviam as famílias mais abastadas, a Nove de Julho ganhou seu nome atual.

 

E foi justamente o desejo dessas famílias de viverem numa região bem localizada, mas apartada do burburinho do Centro, que deu origem à bela avenida, na época menos bela que hoje. De chão de terra batido, a avenida foi criada em 1922, entre as ruas São José e Tibiriça. Nos anos seguintes, foi crescendo nos dois sentidos, quarteirão após quarteirão.

 

Duas décadas depois, em 1949, um primeiro trecho da Nove de Julho, entre as ruas Barão do Amazonas e Cerqueira César, foi pavimentado com paralelepípedos, calçamento bastante utilizado no período de desenvolvimento urbano do Brasil, entre o final do século 19 e o início do século 20.

 

Nesta mesma época, foram plantadas 40 sibipirunas na avenida, ao mesmo tempo em que as alamedas centrais foram revestidas de mosaicos portugueses, compondo o atual paisagismo da Nove.

 

Já na década de 1950, o mesmo tipo de pavimentação se consolidou em toda a extensão da avenida, enquanto surgiam várias outras residências com características modernistas, até a década de 1980, quando o perfil de ocupação começou a se transformar, com a chegada de várias agências bancárias, transformando a avenida num dos principais polos financeiros do município e da região.

 

E, assim, com os palacetes dos ‘barões’ do café, nas primeiras décadas, e as doze agências bancárias que vieram depois, a Nove de Julho se consolida como uma perfeita síntese do progresso econômico da cidade.


Fernando Gonzaga

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