Motoboy afirma ter sofrido racismo em loja de eletrônicos em Ribeirão Preto
"Não foi racismo, foi um mal entendido", alegou dona da loja

Motoboy afirma ter sofrido racismo em loja de eletrônicos em Ribeirão Preto

Jovem, de 23 anos, alega que foi comprar um celular e a dona do estabelecimento o confundiu com um assaltante. Polícia Militar foi chamada para abordar motoboy

Um motoboy de 23 anos afirma ter sido vítima de racismo ao tentar comprar um celular em uma loja de eletrônicos, localizada no Centro de Ribeirão Preto, no final da tarde desta quinta-feira, 30. Segundo o jovem, a proprietária do estabelecimento pensou que ele fosse um assaltante, chamou a Polícia Militar e ele teria sido abordado de forma agressiva por cerca de 20 agentes enquanto tentava pagar pelo produto. Agora, ele conta que está assustado com a situação e  registrou um boletim de ocorrência. Por questões de segurança, os nomes da vítima, da dona da loja e do estabelecimento não serão divulgados.

O rapaz contou que trabalha com entregas de refeições por um aplicativo. Nesta quinta-feira, seu celular teria caído no chão e quebrado enquanto ele pilotava sua moto. “Fui a essa loja porque já tinha comprado esse aparelho há mais de um ano. Deixei a moto em um estacionamento na frente, coloquei na porta da loja a bag (mochila) que carrego as refeições e um funcionário me atendeu. Eu estava de bermuda e peguei meu celular quebrado, que estava na cintura. A dona da loja passou por mim enquanto eu pegava o aparelho na cintura e achou que era uma arma. Ela saiu e eu continuei conversando com o vendedor. Enquanto isso, ela foi nos comerciantes vizinhos dizer que eu estava armado e fazendo o funcionário refém. Percebi que um homem apareceu com um pedaço de madeira na mão, cheguei a perguntar se algo havia acontecido e ele respondeu que não. Voltei para fazer o pagamento do produto, quando fui passar o cartão, chegaram muitas viaturas e os policiais apontaram as armas para mim”, conta.

Ainda de acordo com o motoboy, foi preciso explicar o que estava acontecendo e só depois os militares o liberaram. “A abordagem foi agressiva porque eles acharam que eu estava armado. Fiquei desesperado, porque de repente tinha mais de 20 policiais apontando arma para mim. Tenho ficha limpa, sempre fui trabalhador, eu nunca nem tinha sido abordado por policial na vida. Os policiais até falaram que eu tive sorte, porque eles podiam chegar atirando”, relata.

O jovem afirma que, após a confusão, a proprietária do estabelecimento tentou se explicar. “Ela disse que achou que eu era um ladrão por causa da bag. Mas eu senti que foi racismo, foi um preconceito dela na situação. No fim das contas, um policial perguntou se eu ia pagar pelo celular, mas eu falei que ia embora e nunca mais compraria ali. Depois, liguei para a minha mãe, ela foi até a loja e conversamos com a mulher, que chorou e me pediu desculpas. Mesmo assim, por todo o medo que passei, registrei um boletim de ocorrência e agora estou a procura de um advogado, porque ela não quer passar para mim as imagens das câmeras da loja”, reclama o motoboy.

Outro lado 

Procurada pela reportagem, a proprietária do estabelecimento disse que as lojas da região tem sido vítimas de assaltos e que os comerciantes estão assustados. “Não foi racismo, foi um mal entendido. O rapaz chegou aqui com aquela bolsa de entregador de comida e os bandidos têm se passado por entregador de aplicativo para roubar nas lojas. Quando ele chegou, eu fui para fora da loja e percebi que ele mexeu na cintura. Isso me assustou, eu achei que era uma arma e pedi ajuda para um vizinho, que chamou a polícia. Os policiais fizeram a abordagem e o rapaz contou que era um cliente”, explica.

A proprietária também disse que o motoboy voltou ao local com a mãe e eles conversaram. “Eu pedi desculpa pelo constrangimento. Falei para ele entender meu lado, porque ele entrou e saiu da loja e eu tinha visto que tinha outro rapaz na esquina, como se estivesse esperando, achei que ele estava armado por ter mexido na cintura, enfim, eu me assustei com tudo. Pedi desculpas, dei toda a atenção para ele, conversei com a mãe dele, pedi para se colocarem no meu lugar, porque a gente fica com esse medo o tempo todo. Já fui assaltada duas vezes, esses dias roubaram nosso ar-condicionado. Estávamos trabalhando até com a grade fechada, mas como levaram o ar-condicionado e está muito calor, tive que abrir a loja. Tem muito assalto na região e geralmente os bandidos aparecem armados”, alega a mulher.

Polícia Militar 

A reportagem entrou em contato com a Secretaria Estadual de Segurança Pública (SSP), mas até o fechamento desta matéria não obteve retorno.


Imagem: Revide

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