Nenhum ônibus do transporte público de Ribeirão Preto possui ar-condicionado
Especialista afirma que a falta de ar-condicionado é um dos principais motivos para que a população deixe de usar o coletivo

Nenhum ônibus do transporte público de Ribeirão Preto possui ar-condicionado

São 357 veículos na frota e um fluxo médio de 150 mil passageiros transportados diariamente, que sofrem com a sensação térmica e termômetros acima dos 35ºC

Maria Eloisa Brassaroli

Nenhum ônibus da frota de transporte público de Ribeirão Preto possui ar-condicionado. É o que mostra o levantamento feito nesta semana pelo Portal Revide. Segundo informações da Empresa de Trânsito e Transporte Urbano de Ribeirão Preto (Transerp), atualmente, a frota do coletivo urbano é composta por 357 veículos, mas nenhum deles possui o aparelho.

E, com as altas temperaturas que estão sendo registradas no Verão do município, quem sofre é a população que depende diariamente do transporte público. Como é o caso da ribeirãopretana Maria Eloísa Brassaroli, de 60 anos, que anda de ônibus todo dia. "É realmente muito quente. Com esse horário de verão, bate muito sol no trajeto dos circulares, com isso a temperatura eleva muito. O ideal seria ter ar-condicionado nos ônibus", diz Maria Eloísa.

Além do calor causado pelas temperaturas da estação, a população também sofre com o grande fluxo de passageiros. "Dependendo do horário, o fluxo de passageiros é muito grande, aumentando, ainda mais, a sensação de calor", conta Eloísa.

Além dela, a moradora Vânia Marisa Garcia Dias, de 67 anos, também reclama da lotação dos ônibus em Ribeirão Preto. "É horrível andar nesses ônibus com esse calor. A parte da tarde é a pior, o circular vai lotado. Ainda mais quando paramos na rodoviária e ficamos esperando, dentro do coletivo, nesse calor, cozinhando”, afirma a idosa.

Segundo o especialista em trânsito Luiz Gustavo Correa, a falta de ar-condicionado é um dos principais motivos que impedem a população de utilizar o transporte público da cidade, o que causa um aumento da frota de veículos no município.

 “Já é uma das explicações da população não utilizar mais o transporte público. Então, eles deveriam melhorar e oferecer mais conforto para os usuários. Para que desta forma, as pessoas comecem a usar os ônibus municipais e diminuam o número de veículos nas ruas. Isso também ajudaria no fluxo de veículos da cidade”, diz o especialista.

O serviço do transporte coletivo urbano teve fluxo médio mensal de 4.523.277 no ano de 2018, segundo a Transerp. O valor representa 150 mil passageiros transportados diariamente. "É muito calor dentro desses ônibus. Muito quente, mesmo. Nós quase passamos mal durante o trajeto. Para voltar pra casa, eu pego o circular na Fiúsa, e está sempre lotado. Fica até difícil de sentar”, diz Elaine Aparecida Reis Assis de Oliveira.

De acordo com a Transerp, o contrato vigente com a PróUrbano não tem uma previsão para a colocação do equipamento de climatização. Ainda segundo a nota enviada pela autarquia, a atual gestão da prefeitura, em uma próxima revisão contratual, analisará a possibilidade de utilizar ônibus com o aparelho de ar-condicionado, "levando-se em consideração o impacto que esta implantação poderá influenciar na tarifa", conclui a Transerp.

Aumento da tarifa

O ribeirãopretano paga, atualmente, R$ 4,20 para andar de transporte coletivo no município. O valor é apenas 10 centavos mais barato que a cidade de São Paulo, que conta com 30% da frota com ar-condicionado. Nos últimos cinco anos a tarifa aumentou 50%.
Luiz Gustavo Correa
Correa afirma que a tarifa do município é similar à de cidades com o mesmo porte de Ribeirão Preto, como a de São José dos Campos e Campinas. Porém, a estrutura que é oferecida nessas cidades é bem melhor do que a do município. “Por exemplo, Ribeirão Preto hoje não tem faixa exclusiva de ônibus, apenas um pedaço de dois quarteirões, sendo que as outras cidades tem faixas exclusivas que fazem com que o tempo de percurso do usuário é menor, então as pessoas acabam optando pelos ônibus municipais, pois a pessoa terá mais tempo e pode chegar mais rápido no destino”, explica Correa.  

Consequências

Em razão de todos os problemas que o transporte público do município apresenta, a população acaba optando por outros meios de transporte. De acordo com o especialista, a falta de utilização do transporte público gera outras consequências para a cidade.

“Hoje, Ribeirão Preto tem mais motos que Campinas, por exemplo. A população, como não tem um transporte público de qualidade, ela vai buscar alternativas. A cidade não tem ciclovias, então a bicicleta está fora. Dessa forma, as pessoas vão em busca das motos. Sendo assim, temos um número elevado de motociclistas devido à falta de estrutura do transporte coletivo que não atende de uma forma boa à população, tanto na qualidade do conforto, como na questão de estrutura”, finaliza.

*Notícia atualizada às 14h35 para a inclusão de informações da Transerp


Foto: João Camargo e Arquivo Revide

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